"Cheguei a fazer as pazes com os anjos convencida que era ali que os meus olhos iam ver pela última vez o mundo…"

"Chamo-me Rute, sou de Oleiros, distrito de Castelo Branco, e há 8 anos fui salva saindo quase ilesa de um mar de chamas devido à coragem e sangue frio de um camarada bombeiro, que me salvou não apenas a mim, mas também a outro colega e mais um condutor de uma máquina de rasto que operava no local.
Tudo se desenrolou na aldeia de Carvalhal, concelho da Sertã, para onde fomos destacados depois de uma reativação no lado de Pedrogão Grande ter “pulado” o rio de uma margem para a outra.

Sinceramente, o que me recordo, tornam-se fragmentos da memória, da forma tão rápida e brusca como aconteceu. De um momento para o outro ficámos cercados de chamas, e o sangue frio, a coragem, manteve o meu colega fora da viatura, em chuveiro, a molhar o nosso carro e a máquina de rasto ao pé de nós. Dois dos nossos colegas ainda conseguiram fugir, mas para nós era tarde de mais… Cheguei a fazer as pazes com os anjos convencida que era ali que os meus olhos iam ver pela última vez o mundo…mas o meu colega não quis que o fosse!

Dos fragmentos que tenho na memória, foi alguém a dizer nas comunicações de rádio que “Os de Oleiros morreram!”. Mas eu não morri!
Eu estava ali! E de forma calma e pausada, cumprindo com as normas para as comunicações, informei ao comando da Sertã que “Estamos vivos!”.

Depois foi um desenrolar de emoções e de descobrir que o meu colega, devido à exposição ao calor, tinha ficado queimado.
Fomos socorridos, levaram-nos ao Centro de Saúde da Sertã e posteriormente ao Hospital Universitário de Coimbra, onde o meu colega ficou internado, caso que eu fui apenas em prevenção porque as queimaduras que tinha eram de longe bem menores em extensão em relação às do meu “salvador”.

No meio de algo que podia ter corrido muito mal muitas emoções se desenrolaram… tal como riamos de felicidade também chorávamos porque podíamos lá ter ficado…

Como o meu testemunho, há tantos outros muito similares, mas todos eles em comum… damos graças a estarmos vivos a alguém… porque naquele dia em que aconteceu, esse alguém não deixou que fechássemos os olhos pela última vez.

Um enorme obrigado aos que fizeram o mesmo a alguém como fizeram a mim, e um abraço cheio de força, aos que perderam alguém no decorrer de uma missão tão nobre… Sendo bombeiro!"

No dia 15 de setembro, a RTP vai homenagear todos estes profissionais que salvam vidas e ajudam o próximo, juntando a TV, a Rádio e o Online do grupo RTP ao longo do dia numa grande emissão que não vai querer perder – na RTP1.

SAIBA COMO PARTICIPAR NESTA HOMENAGEM