"Os profissionais têm de estar muito preparados para perceber que o grau de desenvolvimento dos meninos depende dos estímulos que lhes são dados."

JUNHO – Mês dos Infantis

Ao longo deste ano, a RTP2 relembra, em cada mês, alguns dos rostos e dos programas que fazem parte da história e das estórias do canal. E este mês, como não poderia deixar de ser, é dedicado às crianças.

Teresa Paixão, atual Coordenadora de conteúdos da RTP2, teve um papel fundamental no desenvolvimento da programação infantil no universo RTP.


Como foi o seu percurso ate chegar aos programas infantis da RTP?

Teresa Paixão: Foi a aprender com profissionais excelentes… Eu acho que também fui boa aluna, como o Luís Andrade e a Teresa Olga Tropa ou o José Poiares. Foi a estudar vendo televisão, lendo revistas e livros e estando sempre, sempre a perguntar tudo. Comecei por ter a responsabilidade de projetos pequenos para jovens, depois os Jogos Sem Fronteiras e escrevi para a Rua Sésamo. E conhecer a Cristina Silva que me ajudou imenso na organização da minha vida profissional.

Qual foi o programa infantil da RTP que mais a marcou?
TP: Como espetadora foi a série francesa “Os Pequenos Vagabundos”. Como profissional foi a Rua Sésamo porque aprendi lá tudo com a Maria Emília Brederode Santos e também porque conheci a Maria João Saint–Maurice que se tornou a pessoa que mais me apoiou nas produções. Como autora acho que foi o Patinho-Vamos Dormir porque acho que percebi a dimensão do efeito do que dá na televisão. Como Chefe de Departamento foi o Jardim da Celeste que fiz tendo quase toda a gente contra mim porque as pessoas queriam era fazer a 5ª série da Rua Sésamo. O José Poiares foi praticamente o único com quem pude contar, desde o primeiro momento, nesse atrevimento de querer fazer um projeto todo português.

Mas trabalhar com programas infantis não é assim tão fácil. Na sua opinião, qual é a maior dificuldade?

TP: É termos de pensar em mil coisas e só sermos capazes de pensar em 500! As crianças são ao mesmo tempo um público muito vulnerável e muito crítico, e esse balanço é muito difícil de conseguir. Os profissionais têm de estar muito preparados para perceber que o grau de desenvolvimento dos meninos depende dos estímulos que lhes são dados. E claro, resistir a comparar os nossos filhos com os meninos que vêem televisão querendo fazer programação para os nossos filhos (e como não tenho filhos foi mais fácil não cair nisso!).

Conte-nos um episódio engraçado que lhe venha à memória enquanto responsável pela programação infantil da RTP.

TP: Um dia comprei uma série num mercado, onde só nos permitem ver 5 minutos, linda de se cair para a banda. Passava-se numa quinta maravilhosa com um menino de 6 anos, muito bonito, com um guarda roupa adorável, entre animais do campo. Quando a série chegou a Lisboa e pedi que a dobrassem, recebi informação de que no  3º episódio o menino crescia e levava a vida despido e metido em celeiros com meninas. Era impossível pôr aquilo nos horários infantis. Fiquei para morrer e foi o meu colega Bento Pinto da França, da ficção, que me acudiu e a programou nos horários dele.

Na sua opinião, qual é a importância dos infantis na RTP?
TP: Estou muito à vontade para dizer que na RTP existe uma grande tradição de rigor e qualidade porque não fui eu que a criei, foram nomes como a Maria Alberta Meneres, a Maria do Sameiro Souto ou o António Torrado. Eu limitei-me a tentar não estragar. Permitam-me dizer que acho que os infantis da RTP têm sido a referência para as outras televisões, que se têm alinhado pelo nosso diapasão. Em 1993, a revista francesa L’Express, num artigo sobre a televisão privada em Portugal, considerou a grelha dos infantis da RTP como a melhor e mais diversificada da Europa. E até agora não tenho qualquer razão de queixa (muito pelo contrário) da importância que, internamente, lhes têm dado.

Como vê o futuro dos programas infantis na RTP?

TP: Animadíssimo! Acredito que vamos passar uma fase em que vão nascer mais crianças (eu já tenho 5 sobrinhos netos e vem mais um a caminho!) que serão nossos espetadores e tenho a certeza que haverá quem saiba preservar a imagem de rigor, qualidade e criatividade que a RTP desde o seu inicio soube ter.

Conheça aqui um pouco mais sobre a programação infantil da RTP – ZIG ZAG