3.A I Guerra Mundial e a defesa do Império

Portugal entra na I Guerra Mundial
A defesa das colónias pode não ter sido a única razão que levou Portugal a entrar na I Guerra Mundial mas foi sem dúvida uma das razões determinantes. Alemães e ingleses consideravam que nações pequenas como Portugal não tinham capacidade para governar regiões distantes e por isso arrogavam-se o direito de assumir o controlo se a segurança dos seus nacionais não fosse garantida. Em junho de 1914, após a assinatura e publicação do acordo com os ingleses que dividia Angola e Moçambique, os alemães estavam determinados em alargar as suas possessões, prosseguindo a conquista pelos territórios portugueses no norte de Moçambique e no sul de Angola.

O ataque alemão a Maziúa
Em Agosto, três semanas após o início da guerra na Europa, sem que nada o fizesse antever, a Alemanha ataca o posto administrativo de Maziúa, na selva do Niassa, na fronteira de Tanganhica. Um destacamento alemão atravessa o rio Vau e investe contra o posto matando a guarnição portuguesa. A decisão e a ordem terá sido dada pelo governador da África Oriental Alemã, Heinrich Schnee. À data havia já conhecimento de movimentações dos alemães no sul de Angola pela posse do Cunene.

Pela defesa do território…
A 12 de agosto de 1914 é confiada ao Tenente Coronel Alves Roçadas a realização de uma expedição de 1.500 homens para garantir a defesa do sul de Angola e outra liderada pelo Tenente Coronel Massano de Amorim na região do Tungue, em Moçambique.

  • Alves Roçadas desembarcou em Moçâmedes a 1 de outubro.
  • Massano  Amorim parte a 11 de setembro a bordo do paquete inglês Durban Castle, escoltado pelo navio de guerra Almirante Reis. Chega a Lourenço Marques no dia 16 de outubro e embarcou para Porto Amélia, a bordo do navio Moçambique, no dia 16 de outubro. Chega ao destino a 1 de novembro.

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Novo reforço…
As tropas iniciais não foram suficientes para travar o ímpeto alemão e por isso no início de novembro, Portugal reforça a força em Angola com um contingente comandado pelo Capitão-Tenente Coriolano da Costa que seguiu a bordo do navio Beira. Mais 2.800 homens. Posteriormente, em dezembro, novo reforço de 4.300 homens.

Sargentos do 3.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria 9, durante a marcha para Naulila, no Sul de Angola, dezembro de 1914. Fotografia de José de Almeida “Pesca-Rãs”. Fonte: Fundação Mário Soares, Documentos Carvalhão Duarte/Rocha Martins, Pasta 04498.006.064.003.

Sem preparação para a guerra…
Portugal não estava preparado para a guerra. Desde 1908 que não havia qualquer aquisição significativa de armamento ou equipamento. Faltava quase tudo o que era preciso para missões a tão longa distancia. Por exemplo, em 1914, Portugal não tinha nenhum navio de batalha. E no terreno, nem Portugal nem as outras nações estavam preparadas para a guerra, existindo apenas tropas para efetuar operações de segurança interna.

O fim da neutralidade portuguesa
Portugal manteve o estatuto de neutralidade durante cerca de ano e meio manifestando apenas apoio aos ingleses e enfrentando a incessante ameaça alemã. Portugal foi servindo os interesses ingleses ate poder. Em 1914 com a declaração de guerra, 743 navios alemães e austro húngaros refugiaram-se em águas neutras. Desses, 72 estavam em portos nacionais no continente e no ultramar.

Navio mercante “Estremadura”. Ex alemão “Santa Úrsula” apresado em Lisboa, Lisboa, B.C.M. – Arquivo Histórico secção fotográfica: Navios mercantes portugueses – passageiros e carga – Cx 320, ficha 17

Navio alemão “Lima”. Ex alemão “Westrwald” apresado em Lisboa. Lisboa, B.C.M. – Arquivo Histórico secção fotográfica: Navios mercantes portugueses – passageiros e carga – Cx 320, ficha 26

O caso dos navios alemães
A 30 de dezembro de 1915, face aos sucessos da guerra submarina alemã, os ingleses requisitam os navios mercantes alemães que se encontravam em Portugal que, por sua vez, também precisava desses navios para assegurar o comércio internacional. O Congresso da República dá autorização e os militares apresam os navios.

A contestação…
Sidónio Pais, embaixador de Portugal em Berlim, informa o governo alemão da decisão. Os alemães protestam. Dizem não perceber porque é que os portugueses não negociaram com eles e também não aceitam as explicações do então ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Soares. A Alemanha queria que Portugal assegurasse que os navios não se destinavam a ser utilizados pelos Aliados mas Portugal nunca deu essa garantia.

A declaração de guerra…
A Alemanha, considera a atitude portuguesa uma provocação e, no dia 9 de março de 1916, declara guerra ao país. No dia seguinte, o governo alemão entrega ao embaixador Sidónio Pais a declaração de guerra e o passaporte para que deixe Berlim. No mesmo dia o embaixador alemão, Von Rosen, deixa Lisboa.

No dia 23 de novembro de 1914, o Congresso da República, por unanimidade, autorizou o governo a participar na Guerra ao lado da Inglaterra e dos seus aliados “quando e como julgue necessário aos nossos altos interesses e deveres de nação e aliada da Inglaterra”.

As pretensões portuguesas
Ao entrar na Guerra ao lado dos Aliados, o governo da República pretendia, entre outras motivações, eliminar a ameaça alemã e inglesa às colónias. Estando ao lado dos Aliados, os ingleses nada poderiam fazer contra Portugal e como se pensava que ganhariam a guerra, as pretensões alemãs também seriam neutralizadas. Esta posição, pensava o governo, garantiria ainda a Portugal o reconhecimento de facto a nível internacional da República.

A instabilidade interna mantém-se…
Durante a guerra Portugal teve 11 chefes de Governo,  23 ministros dos Estrangeiros e 13 ministros da Guerra. Como observou Severiano Teixeira, “os governos caiam por causa da guerra e chegavam ao poder para mudar a política de guerra. Todos com diferentes objetivos. Todos com diferentes estratégias. Sem que por isso mesmo Portugal pudesse ter uma estratégia nacional.”

Duros combates em África
Os mais duros combates com as forças alemãs foram travados entre 1916 e 1918 na região dos Grandes Lagos, no Tanganica. Moçambique é atacado pelo alemães em 1916.

Croquis da marcha da Coluna de Quelimane e da Coluna Móvel, comandadas pelo Major Silva Leal, Moçambique, 1918. Fonte: Arquivo Histórico Militar, PT/AHM/DIV/2/07/12/2.

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O fim da guerra
Com o fim da guerra, Portugal conseguiu manter os territórios coloniais e garantir a restituição do chamado triângulo de Kionga. O Império ficou de pé, mas sem que Portugal evitasse pressões para mudar o seu modelo de governação ultramarino (adopção do sistema dos altos-comissários em 1919). Em 1919 a Alemanha vencida assinou o Tratado de Versalhes com os Aliados que exigiram indemnizações para pagar os efeitos económicos, militares e territoriais nos países mais atingidos pelas devastações do conflito. Em África, a Alemanha perdeu todas as suas possessões, distribuídas entre franceses, belgas, britânicos e sul-africanos como mandatos da recém-criada Liga das Nações.

Devido ao seu fraco desempenho militar em África, a República portuguesa viu esfumar-se a hipótese de qualquer recompensa territorial no continente, sob a forma de mandato internacional. Porém as expedições enviadas para Angola e Moçambique deram um forte contributo para a consolidação do domínio português sobre as populações desses territórios.