Ambos têm 32 anos. São de Lisboa e vivem lá. São arquitetos e têm casamento marcado para setembro.

 

A história de amor:

“Tinha eu 5 anos e sou um dia surpreendida por um abraço tão forte e um pedido de beijo tão profundo que hoje só me faz lembrar o intérprete principal do filme ‘Casablanca’, convencido que eu seria tão boa como a Ingrid Bergman a beijar… Claro que levou sopa ou não fosse eu filha de quem sou e arisca como a minha gata chalupa… Claro que levou uma arranhadela.

Os anos passaram-se e voltámos a encontrar-nos já adolescentes na escola secundaria da cidade universitária. Colegas de carteira, adversários das inúmeras batalhas navais e grandes amigos, com muitos magnuns de amêndoa pelo meio, lá prosseguimos com a nossa vidinha… Ele namorando e muito comprometido, ao contrário de mim que nunca levei a sério os muitos pedidos de “amizade” por que era assediada. Numa das muitas conversas sobre quem era a família de quem, chegámos à conclusão que ele era filho do Arqto. Augusto Silva, amigo de família de meus pais… E aí fez-se luz… Claro que ele ainda se lembrava da arranhadela da gata malvada.

Feito o curso de arquitetura da universidade lusíada, sempre amigos e companheiros das inúmeras noitadas a maquetar na maior parte das vezes no atelier de arquitetura da sua família, tendo até como professora uma sua irmã, nunca soubemos ser mais do que grandes amigos.

Depois disso, cada um seguiu a sua vida, indo ele para Barcelona como comissário de bordo tentando dessa forma arranjar lugar na TAP, o que aconteceu passado um ano da sua estada nessa cidade.

Regressado e já descomprometido, foi um primo que lhe abriu os olhos para olhar o mundo e ver a Bárbara, que toda a família adorava, mas cujos arranhões ele ainda não tinha conseguido esquecer.

E assim passou um ano, com ele a engendrar formas de se aproximar e um plano bem definido para não correr riscos de, sem proteções, voltar a sentir as unhas da “gata”…

Lançado o convite para ir no seu barco, azar que eu no dia seguinte teria um exame e, como adormeci, faltei ao passeio. Por azar ou não, ou vá lá saber-se porquê, foi com amigos e no regresso, partiu-se o leme do barco e, por pouco, não fossem as suas grandes qualidades náuticas, não aconteceu o naufrágio.

Dois a zero!

Como o Pedro não é pessoa de desistir facilmente, e como se aproximavam os santos populares, sabendo de antemão que eu me iria “estabelecer” no largo da Graça com a “Bar’raca à bana”, ele prontamente se disponibilizou a, caso eu necessitasse de algumas compras ou afins, fazer os trajetos de mota. Muito jeito me deu, na busca por gelo que providencialmente acabou…

A partir daí não mais largou a possibilidade de ser útil, ficando presente em todos os momentos que tinha livres.

Saídas para aqui e para ali, exposições e passeios para além, lá criou coragem para se tentar declarar. No seu plano tudo aconteceria no dia 17 de Julho, mas como as coisas não correm sempre como esperado, só depois da meia-noite é que surgiu a declaração de amor, que eu de bom grado aceitei.

Ainda hoje a minha mãe diz, com muito humor, a toda a gente que o Pedro é um interesseiro, pois “só depois de ver que ela era empresária de taberna aberta nos santos populares, é que se apaixonou…”. Passado um ano viajámos para o Rio de Janeiro e o pedido de casamento foi formalizado a 1700m acima do nível do mar, abençoado pelo cristo redentor do Corcovado. O anel por pouco não caiu os 1700m…”.