Responder a perguntas deixadas nas redes sociais? Siga! Aqui está o resultado.

5 Para a Meia-Noite volta já para a semana, dia 6 de abril. Até lá, temos as respostas de Nuno Markl a questões deixadas nas redes sociais.

João Costa: Olá Markl, qual foi a pergunta mais estúpida que alguma vez te fizeram e qual foi a tua resposta?
MARKL:
“Não foi bem uma pergunta, foi uma abordagem, há uns anos, de um jornalista de um reputado jornal diário que, apesar de reputado, tinha péssimos jornalistas. Basicamente ligou-me um jornalista, um senhor já de uma certa idade, para me entrevistar sobre o livro da Caderneta de Cromos. A abordagem dele foi “olhe, eu não sei bem nem quem você é, nem o que é isto da Caderneta de Cromos, nem nunca ouvi o seu programa de rádio, nem nunca li o livro, por isso vai ter de me ajudar”. Fiquei cheio de vontade de responder: “Claro que sim: www.wikipedia.com. Obrigado e bom dia”, e desligar o telefone. Mas fui bonzinho com o senhor. Não sei se fui bonzinho, se fui interesseiro, porque me convinha que aquele jornal falasse no livro. Não, agora que penso nisso, fui só interesseiro e calculista.”


Hugo Gonçalves: Olá Markl, qual foi o momento mais nostálgico da tua vida?
MARKL:
“Um dos mais nostálgicos talvez tenha sido o lançamento do 2º livro da Caderneta de Cromos, que fizemos no anfiteatro da minha velha escola secundária, a José Gomes Ferreira, em Benfica. Foi maravilhoso, até porque o anfiteatro está igual ao que era nos anos 80. Foi uma verdadeira máquina do tempo e teve algumas doses generosas de nostalgia, sim.”

Miguel Farto: Nuno Markl, há assuntos com que não se deve fazer humor?
MARKL:
“À partida não. E quem me ensinou isso foi o Peter Sellers e o Stanley Kubrick, quando desbravaram terreno nunca antes desbravado ao fazerem o filme Dr. Estranhoamor, que é uma comédia hilariante sobre a iminência de um holocausto nuclear. A verdade é que ver esse filme quando era puto abriu-me muito mais os olhos para a estupidez da guerra do que um discurso sério sobre o assunto. A série americana South Park todas as semanas aborda temas politicamente incorrectos. Acho que se pode fazer humor com tudo, o único limite é, em último caso, se tem graça ou não. O que é um conceito, em si, relativo.”

Isabel Mota: Desenha tão bem. É autodidata, ou é de escola?
MARKL:
“Não sei se desenho assim tão bem! Divirto-me a fazer os meus rabiscos, mas como nunca aprendi uma técnica, são carregados de defeitos. Hão-de reparar que os meus bonecos estão quase todos virados para o mesmo lado, porque quando os viro para o outro lado saem-me meio tortos. Mas estou feliz com a dose de jeito desastrado que tenho. Desenhar, para mim, é como respirar. Tenho de estar sempre a rabiscar qualquer coisa.”

Sofia Cartaxo: Como surge a ideia para algo como o “uma nêspera…” e como é possível pô-la em prática?
MARKL:
“Eu odeio a expressão “pensar fora da caixa”, porque é usada e abusada por pessoas que, na verdade, pensam muito dentro da caixa. Mas eu acho que a maravilha da nêspera é nós termos decidido fazê-la em produção 100% independente, do criador ao consumidor, sem passar por produtores, canais de televisão, estações de rádio, nada. Nunca conseguiríamos fazer este formato em mais nenhuma plataforma, e isso é libertador. E acho que tem a ver com alguma coragem que os anos neste ofício nos deram, no meu caso e no do Bruno. No caso do Filipe, acho que é porque o humor não é a primeira profissão dele: ele é um brilhante músico, argumentista e realizador. E é também o mais próximo que eu conheço de um cientista louco. Logo, está-se nas tintas para o que digam e faz. É maravilhoso pensar que no mesmo dia em que estreámos o episódio final da 1ª série da nêspera, o Filipe estreou a fabulosa canção que ele criou com o Rodrigo Guedes de Carvalho para a APAV, sobre violência doméstica, com todas aquelas extraordinárias vocalistas. A nêspera divertiu-nos, divertiu quem tem ouvido e penso que em nada beliscou a visão que as pessoas têm de nós três ou das pessoas que participaram connosco. O que é um óptimo sinal de normalidade do país… Há uns anos é provável que um projecto como este nos tivesse vedado uma série de trabalhos.”

Projeto “Uma Nêspera no Cu
Francisco Salsinha: Markl qual a tua recordação de primeiro momento digno de piada?
MARKL:
“Talvez os ataques de riso histérico que o meu pai levava a cabo para me fazer rir. E fazia. Ele era um mestre na gargalhada louca, apesar de ser um pacato e reputado historiador de arte.”
Jorge Luis: Quando te veremos de comentador desportivo?
MARKL
: “O mais próximo que viram disso foi num sketch que fiz com o António Raminhos para o Canal Q, em que ambos fizemos um relato de futebol absolutamente demente.”
Carla De Sousa Mendes: Quem é ou foi o homem que mordeu o cão? E já agora q raça d cão se trata?
MARKL:
“Tanto o homem como o cão são metafóricos! Tenho de esclarecer sempre isso, porque há muitas crianças preocupadas que perguntam aos pais porque é que eu quero dar dentadas em cães. Eu explico sempre que o homem não sou eu, nem o cão é nenhuma das minhas cadelas. O título da rubrica é uma homenagem à famosa lei do jornalismo que diz que notícia é quando um homem morde num cão e não o contrário.”
Tó Zé Silva: Alguma vez ficaste embaraçado durante em direto?
MARKL
: “Hoje em dia não, porque a comédia me dá rédea solta para gozar com os meus eventuais embaraços. Mas quando era pivot sério de informação na rádio, nos anos 90, muitos dos meus colegas viviam para me fazer rir ou para me fazer viver situações de pânico no ar, enquanto lia as notícias. Houve mesmo o clássico de me deitarem fogo às folhas onde elas estavam escritas. Acho que me safei airosamente. A única grande barraca que dei na rádio foi mesmo no início de carreira, na primeira madrugada que me puseram a fazer. Achava que sabia mexer na mesa de mistura e estava cheio de certezas absolutas. Na hora da verdade, quando chegou a altura de abrir o microfone bloqueei totalmente. Quem me safou foi o Rui Vargas, que era meu colega na altura e que já estava de saída. Voltou a correr para o estúdio para me salvar e eu disse, de microfone aberto, as imortais palavras: “E agora?”. Toda a gente ouviu.”
Daniel Alexandre: Se tivesses que escrever ‘Os Lusíadas’ em um tweet, como seria esse tweet?
MARKL: “Teria de ser uma versão actualizada: “Fomos incríveis, vivemos aventuras, desbravámos o mundo – e agora é isto.”

Ana Rita Morais: A Ana de quem eu gosto bastante, perde a paciência ctg mtas vezes ou nem por isso? Ahahah
MARKL:
“Claro, de vez em quando sim. Mas eu próprio perco a paciência comigo e no meu caso é pior porque estou 24 horas comigo. É uma canseira.”

Francisco Cunha: Nuno, que farias para pagar a Segurança social ?!
MARKL:
“Pegava na referência e ia ao Multibanco! Coisa que algumas pessoas não fizeram.”

José Pedro Loureiro: Para quando a próxima temporada da nêspera no cu? E o formato, mantém-se?
MARKL:
“Ainda não temos data. Antes disso queremos fazer uma sessão ao vivo, especial, com convidados e público a assistir. Parece-me que o formato é vencedor e pode dar ainda pano para mangas!”

Francisca Carvalho: No meio de tanta coisa, o que ainda não fizeste e queres fazer?
MARKL:
“A minha longa-metragem. Que neste momento não sei se será para cinema ou para mini-série. Mas é um projecto muito pessoal meu e adorava concretizá-lo em 2016.”
Cláudio Oliveira: Ainda usas meias de raquete?
MARKL:
 “Tenho umas de estimação que me foram oferecidas por fãs da Caderneta de Cromos, mas não as calço: estão guardadas, ali que nem troféus.”
Mário R. Cunha: O projecto “Uma nêspera no c*” é uma experiência que gostava de poder levar para um meio mais sério – mais na forma que no conteúdo – ou prefere manter as coisas separadas?
MARKL:
 “A nêspera é o que é, e vive feliz naquele formato, sem amarras. Acho que não faz sentido reformatá-la para outro meio – talvez só mesmo para espectáculo ao vivo. Nisso vamos trabalhar! Mas não creio que ela precisa de ser “promovida” a algo mais do que esta experiência de liberdade total feita por três pessoas que nem sempre podem, nos seus trabalhos normais, abraçar esta dose de liberdade.”
Jordano Meira: Markl faz um humor politicamente correto e comercial. Nunca te apeteceu fazer um humor mais sarcástico, provocador, negro, politico?
MARKL:
“Há aí uma grande confusão. O meu humor não é politicamente correcto, nem o faço para que seja comercial. Lá porque falo de pequenos assuntos do dia-a-dia e da vida das pessoas e porque não abordo muitas vezes política, não quer dizer que seja correcto. Por esse andar, o Seinfeld, que fala de pequenas coisas da vida, era politicamente correcto por oposição ao South Park, e não é. Para Os Contemporâneos e o Herman Enciclopédia escrevi muita coisa política e negra e provocadora (e comecei logo pela Última Ceia). E muito do que faço no Canal Q é experimental, bem como no 5 Para a Meia-Noite. E então a Nêspera no Cu, que faço com o Bruno Nogueira e o Filipe Melo é tudo menos correcto e comercial. Acho que se põem demasiadas etiquetas. Eu faço o humor que sei fazer e que gosto e não tento forçar as coisas para ser o que não sou.”

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