A cantora britânica, vocalista dos lendários Portishead, junta-se à Orquestra Sinfónica da Rádio Nacional Polaca e ao maestro Krzysztof Penderecki na Sinfonia das Canções Tristes do compositor polaco Górecki
A aparente simplicidade da terceira sinfonia de Henryk Górecki, com a sua harmonia e regularidade rítmica, é contestada pela difícil partitura. Mudanças dinâmicas e secções sustentadas em que o cantor e a orquestra têm de manter a música como que pairando, quase imóvel, tal como um pássaro que voa ao lado de um barco, à mesma velocidade, onde tudo está em movimento mas parece imóvel. Os textos carregam as mesmas contradições – linguagem simples e sentimentos expostos, abaixo dos quais estão a dor, a perda, a tragédia e o horror.
O primeiro andamento Lento—Sostenuto tranquillo ma cantabile é um cânone complexo de profunda tristeza que começa de forma quase inaudível. Na secção intermédia, a solista canta o texto de um poema polaco do século XV, conhecido como O Lamento da Santa Cruz, onde a mãe de Cristo implora ao seu filho moribundo que fale. O segundo andamento Lento e largo—Tranquillissimo é baseado numa mensagem deixada na parede de uma prisão da Gestapo, uma prece à mãe terrena e a Nossa Senhora. O último andamento Lento—Cantabile-semplice tem por base uma canção folclórica sobre uma mãe que procura o filho, assassinado durante a insurreição na Silésia.
Embora dolorosos, os diversos textos estão ligados pelo tema da maternidade e do amor materno. Há esperança e alegria, anseio e perda, ternura e finalmente paz nesta música sublime do compositor polaco. Beth Gibbons deixa as baladas melancólicas de trip-hop para cantar os três andamentos num polaco irrepreensível, na sua voz ora granulada e doce, ora amarga e revoltada.