Como radialista e repórter, seria de prever que a Joana tivesse conseguido sempre comunicar objetivamente a sua própria história. Mas em casos de violência doméstica – e contra a dureza de apreciação que tantas vezes fazemos – até as pessoas mais empoderadas e capazes se calam.
O charme e a insistência de um homem “bonito e luminoso” levaram-na a ignorar a sua intuição. Dedicou-se a uma relação abusiva, em que era perseguida, insultada e ameaçada. Mas foi preciso ver o medo nos olhos do filho para expulsar esse homem de sua casa. Isso não foi suficiente para recuperar o poder sobre a sua vida. Com isso veio a vergonha de não conseguir resolver de uma vez por todas o problema e a culpa de não ter percebido a tempo como solucionar o que a constrangia. É isso que fazemos quando nos apressamos a julgar os outros: potenciamos o medo solitário e o desespero.