Na RTP acreditamos que o mais importante é a competência, o empenho e a vontade de alcançar objetivos. A RTP é feita de homens e de mulheres, de equipas com igualdade de oportunidades e, acima de tudo, de trabalhos sem género. Na semana em que se assinala o Dia Internacional da Mulher trazemos a história de algumas mulheres trabalhadoras com profissões tradicionalmente desempenhadas por homens.
Ser mulher no jornalismo desportivo é um desafio contínuo. A desconfiança em relação à cobertura mediática desportiva sob o olhar feminino continua a levantar questões e que o diga Clara Osório, jornalista da RTP na área do desporto. Em casa, que é como quem diz na redação, nunca sentiu necessidade de se impor através do género, mesmo que “em Lisboa seja uma mulher no meio de uma equipa totalmente masculina. Eles tratam-me como um deles. A única resistência que encontro tem a ver muitas vezes com o trabalho fora. Chegar a um sítio em que só há jornalistas homens e sentir o olhar como se perguntassem ‘Porque é que está aqui uma mulher?’. Em estúdio, quando começou a moderar, também já lidou com uma certa desconfiança, “foi preciso conquistar alguns comentadores. Mas eu sempre gostei de mostrar ‘eu estou aqui porque sou competente e estudei para isto’.
Tratando-se de uma “questão estrutural e social”, Clara Osório defende que é preciso “dar um passo atrás a nível de sociedade e perceber que o jornalismo não tem género e que para o trabalho de jornalista é preciso ter competência, capacidade e vontade”.
Ana Gama é outra trabalhadora da RTP num universo predominantemente masculino. Trabalha como assistente às operações, uma das raras mulheres nesta profissão na empresa. Há 10 anos que é responsável “pela montagem de tudo o que é equipamento técnico”, que permite “garantir a emissão de um programa em estúdio ou fora”. Nos primeiros anos, conta-nos, sentiu “aquele olhar de ‘uma mulher na equipa, vou trabalhar mais porque está uma mulher na equipa’. O maior desafio foi mostrar-lhes que não tinham de trabalhar mais por causa de mim. Eu tenho de sentir-me útil na equipa, se não faço uma coisa tão à vontade, vou fazer outra coisa onde possa equilibrar”.
Mas de onde veio este fascínio por uma profissão ainda dita diferente para as mulheres? “Sempre gostei muito de futebol, quando era pequena o meu pai levava-me ao futebol. Lembro-me de fugir da cama ao domingo à noite para ver o Domingo Desportivo com a Cecília Carmo. Achava fascinante haver uma mulher a apresentar um programa de desporto, que era uma coisa que não se via. E eu achei ‘se ela pode fazer uma coisa destas porque é que eu não posso? Sempre gostei muito da parte das câmaras. Na verdade, gostava de ser operadora de câmara. Ser assistente às operações é um bom princípio para perceber o funcionamento das câmaras para depois eventualmente [dar o salto]”.
Lília Santos é operadora de câmara. O seu pai quis que fosse para a área da saúde, mas acabou por tirar um curso superior de cine-vídeo. Até hoje lembra-se como entrou na RTP, “comecei na RTP Porto, na altura soube que estavam a pedir pessoas para várias áreas. Fui recebida por um senhor que depois foi meu chefe. Perguntou-me qual era a área pretendida. Eu respondi ‘quero ser operadora de câmara’. Como resposta, recebi um ‘Lília, não acha é que melhor ir para controlo de imagem ou mistura?’. Eu disse que não”.
Os primeiros tempos foram de experiências. Para Lília Santos, “o desafio de trabalhar neste mundo masculino foi bem aceite. Na altura não conseguia entrar em diálogo com determinadas pessoas, também por ser muito tímida. Mas curiosamente nunca senti dificuldade por ser mulher num mundo de homens. Acho que a diferença está no empenho e não no género”.
Maria João Dias é outra das muitas trabalhadoras da RTP. Começou como operadora de som e hoje é responsável de área das operações de rádio. A paixão pela área da Engenharia levou a arriscar num meio diferente. Ainda se recorda dos tempos do curso, onde “os ‘velhos do restelo´ diziam que as mulheres só tiravam cursos de Engenharia para arranjar maridos”. Na RTP conseguiu afirmar-se pela sua competência, embora nos primeiros anos tenha existido algum preconceito de colegas. “Eu entrei numa altura em que a Engenharia estava muito focada nos homens. Era preciso fazer frente. Valeu-me a formação, a aprendizagem diária e a certeza de que estava no caminho certo e que era esta a profissão que queria”, revela.
A luta por um lugar num universo masculino foi longa, mas vitoriosa. O seu perfil persistente e a aprendizagem acumulada no dia a dia levaram-na a um cargo de chefia. Mas lideranças à parte, o seu objetivo “sempre foi fazer o melhor que podia e não ter medo de arriscar. Eu sou uma pessoa focada e procuro sempre superar-me, mesmo que digam que não consigo”.