Os múltiplos ‘eus’ de Eduardo Prado Coelho, incontornável figura da cultura portuguesa, num documentário de Abílio Leitão.
Autor prolífico, deixou uma vasta bibliografia académica e ensaística que repartiu a sua atenção por áreas tão diversas como a literatura, o cinema, as artes plásticas e a moda com incursões pelo mundo da política, sempre falando e escrevendo com manifesto bom gosto e constante espírito de tolerância.
O documentário realizado por Abílio Leitão e escrito em parceria com Fernando Luís Sampaio, recupera recortes de jornais, ao som de Mahler, Bach, Satie, Martial Solal ou José Afonso, e ouve depoimentos de Colette Kleber, a filha Alexandra Prado Coelho, a primeira mulher Maria Eduarda, Maria Alzira Seixo, Eduardo Lourenço, Paula Morão, João Mário Grilo, Pierre Léglise-Costa, Nuno Nabais, João Manuel Esteves, Alexandre Melo ou António Mega Ferreira.
Descrito como um “franco-atirador” com “uma relação de toca-e-foge com tudo e mais alguma coisa”, era considerado “o maior embaixador da arte cinematográfica portuguesa” e um “tudólogo” a quem “nada do que era conhecível lhe era estranho”. Enfim, “um homem que tinha o gosto da felicidade.”
Professor, escritor e crítico literário, amante do conhecimento, do saber e da cultura, Eduardo Prado Coelho era presença assídua no espaço público, onde se envolvia de forma ativa nos debates culturais e políticos. Sempre atento às vanguardas, soube traduzir para o grande público novos conceitos e ideias. Intelectual público, envolveu-se várias vezes em campanhas políticas chegando a ocupar alguns cargos de designação política.
“O mais belo poema do mundo (por exemplo, ‘A Tabacaria’, do Pessoa-Campos) pode sempre ser lido de modo a que tudo fique massacrado e destruído, e face a esse tipo de barbarismo não há defesa que se invente.” Eduardo Prado Coelho in ‘O Cálculo das Sombras’