Uma viagem à proscrita Guiné Equatorial com o escritor Juan Tomás Ávila Laurel.
Entramos na Guiné Equatorial, um dos países africanos mais isolados do mundo, com o escritor Juan Tomás Ávila Laurel, que em 2011 fugiu do país para se refugiar em Espanha, por denunciar uma das ditaduras mais duradouras, a de Teodoro Obiang, militar formado na Academia de Zaragoza. Através do olhar e da obra do escritor exilado, um dos mais destacados intelectuais contra o regime, o documentário do cineasta espanhol Marc Serena revela a realidade da antiga colónia espanhola.
Mais de 50 anos após a independência, conquistada em 1968, a Guiné Equatorial vive sob uma das ditaduras mais fortes do mundo onde, apesar de ter uma das maiores receitas per capita de África, mais da metade da população não tem acesso a água potável. Nascido na ilha de Annabón, Ávila Laurel, um dos escritores mais traduzido do país, volta a casa pela mão de um filme que tem o mérito de entrar num território proscrito.
Este documentário destaca não só a indiferença de Espanha para com a sua antiga colónia, mas também a opulência indecente da família de Teodoro Obiang e das pessoas à sua volta, alheias à pobreza de um país com quase nenhuma infraestrutura e onde, como escreve Ávila Laurel, «os homens pescam em pequenos barcos cuja madeira servirá para o seu caixão».
Para esse panorama, o documentário encontra no aniversário do ditador o fiel reflexo do grotesco. Um aniversário com a classificação de feriado nacional que encontra amplificador na televisão local. Numa pobre loja de eletrodomésticos, em Malabo, dois televisores anunciam o feriado enquanto o locutor recita alguns versos de Bertolt Brecht e agradece ao presidente por ser um exemplo para o povo e para África.