Mónica Mendes começou a fazer rádio há quase 20 anos. Faz parte da equipa da Antena3 quase desde que é radialista. Acompanha-nos das 10:00 às 13:00, de segunda a sexta. Tem uma particularidade: não tira fotos e não mostra a cara!
Quando começaste a trabalhar na rádio?
“1992! Vinha completamente do zero e fiz a minha primeira emissão em fevereiro de ’92. Já lá vão 23 anos…
Foi completamente por acaso, estava na altura a estudar psicologia… Acabei por deixar tudo, tudo o que fazia, para trabalhar em rádio. Sabes aquele sonho que uma pessoa tem e pensa que nunca lá vai chegar? A rádio foi a coisa mais casual e mais extrordinária que me aconteceu.
Eu era uma ouvinte obsessiva de rádio. Eu chegava a casa em teenager e a primeira coisa que fazia era ligar o rádio. E ficava a olhar para o rádio enquanto ouvia e deixava-me invadir por aquela magia toda.”
Por isso é que não tiras fotografias?
“Acho que é muito mais engraçado as pessoas continuarem a imaginar-me como a cabeça delas dita, através da única característica que é a minha voz. Acho que é muito mais interessante e misterioso. E acabo por ter maior respeito pelos ouvintes que me ouvem, nada contra quem mostra a cara! Mas a partir do momento em que vês a cara da voz que te é familiar, nunca mais te consegues ver livre dela.”
“Já fiz todos os horários, todos os tipos de programa, moderação, reportagem, programa de autor, o chamado pleno!”
O que eu gosto mais na rádio é…
“Aquilo que tu tens de desenvolver para conseguir chegar a uma série de pessoas, sem as ver, e quase sem saberes quem são.
“Aquilo que tu tens de desenvolver para conseguir chegar a uma série de pessoas, sem as ver, e quase sem saberes quem são.
É uma função que exige muito trabalho e muito estudo. Vai muito por tentativa e erro… Hoje em dia, com a internet e as redes sociais, eu sinto-me mais próxima de quem me ouve. Mas não deixo de, todos os dias, abrir o microfone para milhares de pessoas que eu não sei quem são, que não me estão a ver.
É essa ciência que eu tento aperfeiçoar: qual é a comunicação mais eficaz para as pessoas me ouvirem. É esse aperfeiçoamento que me fascina.”
“Acho que nunca vou perder a paixão pela rádio.”
E gostas de conhecer as caras das vozes que ouves?
“É-me indiferente… Eu percebo que há alguma curiosidade. Às vezes até sou maltratada por alguns ouvintes que me dizem «eu tenho o direito de conhecer a tua cara»… Mas eu também acho piada a isso. Porque isso implica um certo carinho; tu só perdes tempo com alguma coisa quando ela tem alguma importância para ti.
Mas a partir do momento em que as pessoas percebem o porquê de eu não mostrar a cara… não tem nada a ver com ser gordo, magro, feio ou bonito… tem a ver com a preservação de uma magia. É que hoje é tudo do género de mastigar e deitar fora, tudo muito rápido… Quando percebi que causava alguma curiosidade, aproveitei isso.”
“Esta história de não mostrar a cara tem tudo a ver com rádio”
“Há várias coisas interessantes neste processo da rádio. As pessoas como nos ouvem todos os dias, à mesma hora, aquilo passa a ser uma rotina, quase que passam a considerar-nos suas amigas. És-me tão familiar…
E depois, tu cada vez que ouves uma voz, tu imaginas uma coisa diferente. É como estar a ler um livro! A partir do momento em que vês o filme, tudo fica com uma nova perspetiva. Mas é muito mais cruel, mais real… não podes usar essa parte do cérebro que eu valorizo tanta, a imaginação.”