"Às vezes penso que não quero regressar da escrita, e então não regresso."

Mia Couto nasceu em 1955, na Beira, numa família originária de Portugal. O seu verdadeiro nome é António Emílio Leite Couto e adotou este pseudónimo porque tinha uma paixão por gatos e porque o seu irmão não sabia pronunciar o seu nome.

O autor de "Terra Sonâmbula" e de "Estórias Abensonhadas" já recebeu o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos, o Prémio Vergílio Ferreira – da Universidade de Évora, o Prémio União Latina 2007 – de Literaturas Românicas, o Prémio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura – do Brasil, e o Prémio Eduardo Lourenço, entre outros.

Seguiu medicina mas abandonou esta área para exercer a profissão de jornalista depois do 25 de abril. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações e foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique, onde formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação.

Em 1983, publicou o seu primeiro livro de poesia “Raiz de Orvalho”. Após este livro, seguiram-se, entre outros, "Tradutor de Chuvas", também de poesia, "Vozes Anoitecidas", livro de contos com que se estreou na ficção, a que se sucedeu "Cada Homem é uma Raça", "Estórias Abensonhadas", "Contos do Nascer da Terra", "Na Berma de Nenhuma Estrada", "O Fio das Missangas".

"Cronicando", "O País do Queixa Andar", "Pensatempos" revelam o domínio da crónica que Mia Couto viria a reunir em "Textos de Opinião".

No romance estreou-se com "Terra Sonâmbula", obra que foi considerada um dos melhores livros africanos do século XX. Seguiram-se "A Varanda do Frangipani", "Mar Me Quer", "Vinte e Zinco", "O Último Voo do Flamingo", "Um Rio Chamado Tempo, "Uma Casa Chamada Terra", "Venenos de Deus, Remédios do Diabo", "Jesusalém", "A Confissão da Leoa".

Além de ser considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, é o escritor moçambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana. “Terra Sonâmbula” ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos e foi considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué.

Mia Couto venceu a 25ª edição do Prémio Camões, que lhe foi entregue este ano, a 10 de junho no Palácio de Queluz, pelas mãos de Cavaco Silva e por Dilma Rousseff.
Mia Couto é o segundo escritor moçambicano distinguido com o Prémio Camões, depois de José Craveirinha em 1991, e considera que “fazer com que todas as palavras assumam a dimensão que podem ter é o desafio do escritor” mas ressalva que “os prémios que se recebem são acidentes de percurso.”


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O júri, reunido no Rio de Janeiro, teve em conta a "vasta obra ficcional caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade" de Mia Couto, para quem “(…) a tristeza é uma janela para olhar o mundo”.
A obra de Mia Couto, segundo os jurados, conseguiu "passar do local para o global", tendo ainda referido que o autor tem extravasado as suas fronteiras nacionais e tem "tido um grande reconhecimento da crítica".

Mia Couto foi distinguido ainda com o prémio internacional de literatura Neustadt, atribuído de dois em dois anos, pela Universidade de Oklahoma.

O escritor assinalou a importância deste prémio ser entregue a um escritor de língua portuguesa e não deixou de se sentir surpreendido por ser escolhido pelo júri do prémio Neustadt, dado o valor que reconhece aos outros candidatos.

“A Confissão da Leoa”, editado o ano passado, é o seu livro mais recente.

Em entrevista ao Bairro Alto, com José Fialho Gouveia, afirma que o seu grande prazer é ir descobrindo enquanto escreve a história…“(…)Às vezes penso que não quero regressar da escrita, e então não regresso. É um mundo de ilusão. A realidade é uma das grandes ditaduras e acabamos por ficar numa coisa que não existe.”

Mia Couto tem uma ligação especial com os sítios por onde passa, e sobre Lisboa deixa escapar um sorriso dizendo “(…) a luz que toca Lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nós” mas “O momento da despedida é um momento que eu não sei resolver. Os lugares são um encontro e a relação que temos com eles” (Passagem do livro “Jesusalém” citada pelo apresentador do Bairro Alto).
No entanto, o escritor assume que tem momentos em que não consegue escrever, que tem de haver uma pré-disposição que o transporta para outros lugares e outras vivências.

“Quando escrevo não penso que existe um público real (…) Há momentos em que é preciso pensar o texto. Mas quando se está no texto o verbo já não é pensar. É como se eu tivesse que ficar embriagado para ficar disponível para que os ecos de outras vozes, do material que vem da minha infância, possam conversar comigo. (…) A escrita acaba por ser, no meu caso, um processo pouco racional.”


Pode ver esta entrevista na íntegra no RTP PLAY.

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