Luís Castro é um dos mais reconhecidos repórteres de guerra da RTP. A partir de setembro, abraçará a nova versão do Sociedade Civil. É um homem da televisão, com ou sem conflitos, mas também da internet. Tem um blogue, Cheiro a Pólvora, no qual preza muito a opinião de quem lê.
Passar de cobertura de conflitos para a apresentação do Sociedade Civil. É um desafio?
“É um novo desafio. Se me pedires para estar 1 hora debaixo de um qualquer combate, eu fá-lo-ei sem qualquer problema. Aqui, é diferente. É mais pacífico, mas é novo. Há semrpe a ansiedade que nos toma sempre que começamos algo diferente. Estou, aos 48 anos, a aprender, e é assim que vou fazer o resto da minha vida. Sou um homem de desafios.”
Para quem já passou por mais de 20 conflitos, as causas sociais ganham outro peso.
“Quando vamos e voltamos, voltamos diferentes. Voltamos mais sensíveis; mais anestesiados a algumas questões, mas mais sensíveis a outras. Um jornalista é também um cidadão e tem um compromisso com a sociedade. Se todos os dias relatamos e mostramos as misérias, chegamos a casa e fechamos a mala, o que andamos a fazer?
Cada um de nós deve fazer um pouco pelo mundo. Não o vamos mudar, mas se todos nós fizermos algo, todo juntos conseguiremos fazer mais por aqueles que mais precisam.”
“O jornalista deve intervir e deve fazer parte da solução; às vezes dizemos «não tenho tempo», não, não temos é vontade.”
No blogue Cheiro a Pólvora, há um espaço para sugestões de reportagens. É importante dar voz ao público?
“Nós, jornalistas ou profissionais da televisão, estamos mais habituados a falar do que a ouvir. E, por vezes, esquecemo-nos de tentar perceber como é que os outros nos entendem e de os ouvir. Por vezes, a nossa mensagem pode estar a ser mal passada ou a não ser sequer compreendida.
“É muito importante termos o feedback dos nossos públicos e também é muito importante dar-lhes aquilo que eles querem saber. Foi o que aconteceu no Iraque. Fiz várias reportagens por sugestões de pessoas que vieram ao meu blog a dizer-me que gostavam de saber isto ou aquilo. E, à noite, no direto, eu direcionava muitas das minhas intervenções para aquilo que era o interesse das pessoas.”
“Agora, com o Sociedade Civil, vamos ter as redes sociais, mas também vou ativar no meu blogue esse pedido de feedback de opiniões e sugestões de temas, porque é para eles que aqui estamos, para os nossos públicos.”
O medo é uma constante oara quem vive em cenários de guerra. O medo é viciante?
“Mente quem disser que não tem medo. A adrenalina é viciante! O medo reposiciona-se todos os outros sentidos e a adrenalina faz-nos chegar mais longe. Mas o medo acompanha-nos sempre, porque os heróis estão mortos.”
“O medo é importantíssimo, mas não nos devemos deixar ficar reféns.
“Mas, cuidado… se vamos para contar uma história, temos de voltar. A missão é ir, mas voltar para poder contar.”