É a primeira entrevista de Nuno Galopim desde que assumiu o cargo de diretor da Antena 1. Uma conversa sobre o novo caminho da rádio pública, assente sobretudo numa relação de proximidade e de afetos com os ouvintes. Firme na sua identidade, a Antena 1 continuará a ligar Portugal, mais atenta à Informação, aberta ao conhecimento e apostando na diversidade sem barreiras.
Iniciou-se esta semana um novo ciclo na Antena 1. Quais são os valores refletidos na nova programação?
Eu creio que há cinco grandes pilares que sustentam aquilo que procuro para a construção de um caminho para a Antena 1 e são eles a proximidade, a diversidade, a identidade, a informação e o conhecimento. E todos eles devem estar unidos com uma noção de valores de inclusão. O propósito será sempre somar e incluir, nunca excluindo.
Esses grandes pilares resultam no quê?
Uma rádio não pode estar distante se quer comunicar com as pessoas e por detrás desta ideia de proximidade está, por exemplo, a vontade de sair do estúdio. Deve também existir uma relação de identificação entre quem faz rádio e quem escuta. A identidade é uma marca do próprio DNA do serviço público de rádio: traduzir o que somos. Diversidade é a palavra que atravessa a grelha, procurando estar sempre a alargar horizontes nos temas, nas ideias, nas vozes, na criação… A informação, por sua vez, é outro dos pilares de sustentação da própria forma como a Antena 1 é reconhecida, isto é, como uma rádio credível. Depois queremos também estimular a descoberta do conhecimento de várias realidades e temáticas através da rádio.
Uma das novidades da nova grelha chega-nos logo pela manhã com Pedro Miguel Ribeiro e Mónica Mendes a assumirem em conjunto as manhãs da Antena 1. Porquê a aposta numa dupla de apresentadores?
O facto de existir uma dupla de apresentadores, que é inédito na Antena 1, ativa desde logo a ideia da procura de uma relação mais pessoal. Duas pessoas a falar regularmente uma com a outra definem também uma relação de proximidade que, por sua vez, se estende a quem ouve. A manhã da Antena 1 é recheada de muitos conteúdos de informação e de uma série de outros conteúdos que nos fazem acordar e estar atentos ao que está a acontecer no momento, mas apesar disso queremos que a relação pessoal dos nossos apresentadores seja uma espécie de motor de afetos para começar bem o dia. A ideia é estabelecer pontes e que o programa funcione como um todo num registo de continuidade e de identidade coesa entre a informação e a animação.
A Informação continuará a ser relevante e tratada como prioridade na Antena 1. Estará mais presente de manhã e ao final da tarde, quando os ouvintes estão a regressar a casa. É fundamental que haja uma sinergia entre a Informação e aquilo que o Nuno definiu como essencial para a Antena 1?
Sem dúvida nenhuma. A Informação da Antena 1 é uma informação capaz de reagir no imediato ao que está a acontecer. A grelha não é estática e deve poder reagir aos fluxos de informação. Existe uma boa relação entre as duas direções e a capacidade mútua para criar diálogos de forma a perceber quando é que temos de criar exceções e não viver agarrados a regras.
Ao final da tarde, de segunda a sexta-feira, contamos com programas de conversa ou de debate sobre a atualidade. Trata-se de uma continuidade da Informação, que se quer sempre séria e rigorosa, mas retratada de maneira diferente e mais participativa?
A faixa entre as 19h00 e as 20h00 prevê zonas de diálogo com a atualidade. São conversas sempre diferentes. Por exemplo, vamos ter à quarta-feira um programa chamado “Antídoto”, que junta três mulheres: Catarina Carvalho, da Mensagem de Lisboa, a Felisbela Lopes, académica da Universidade do Minho, e a Lucy Peper, uma inglesa a residir em Portugal há mais de 20 anos. À quinta-feira, vamos ter “Nas Voltas do Mundo”, do José Carlos Trindade, no qual iremos escutar a nossa rede de correspondentes espalhada pelo mundo.
A nova grelha da Antena 1 pretende captar novos targets de audiência, chegando à geração dos 40 e 50 anos. Que importância é atribuída à música para o alcance desse objetivo?
A música é o primeiro aperitivo para chamar a atenção. É uma espécie de linha da frente para dizer o que somos, com quem estamos e o que temos de falar. A Antena 1 tem um público com certas características etárias e sociais, mas queremos rejuvenescê-lo ao conquistar outras gerações. Ao mesmo tempo, não podemos perder os ouvintes que já aqui estão. Queremos alargar as latitudes e as fronteiras na área da música, mas essa vontade não implicará o desaparecimento do que já se fazia antes. O desafio é somar sem excluir.
Portanto, a Antena 1 continuará a ser a rádio da música portuguesa.
Claro que sim. A esta ideia de retratar o que está a ser feito atualmente e à memória do bom que já se fez, vamos juntar a mesma relação, mas com o que nos chega além-fronteiras. E aqui não nos fechamos nos eixos clássicos pop anglo-saxónicos, porque existe igualmente uma vontade de escutar e dar a ouvir outros universos, que não são os mais óbvios e que não estão normalmente refletidos nas tabelas de vendas. Ouvir música em outras línguas… E aqui vinca-se a diversidade.
Outra das preocupações da nova programação é a existência de um cruzamento de marcas RTP na Antena 1. Exemplos disso são o Cinemax (RTP2), As Horas Extraordinárias (RTP3), #SOQNAO (RTP Play) e Gramofone (RTP Memória), que terá uma versão para a rádio. Qual é a mais-valia deste cruzamento de ideias e conteúdos?
Numa empresa com a dimensão de uma RTP, com tantos talentos espalhados por tantos canais, não fazia sentido não aproveitar o melhor dos nossos mundos numa estação de rádio com a Antena 1. A ideia é trazer à antena as potencialidades existentes. Começamos por ir buscar à RTP Memória o formato “Gramofone”, no qual o João Carlos Callixto irá escutar o arquivo de rádio da RTP. “As Horas Extraordinárias”, com a Teresa Nicolau, não será uma expressão do programa de televisão, mas partilhará a mesma autora e o mesmo ponto de vista. Já o “#SOQNÃO”, da Joana Martins, traz à Antena 1 o debate e a reflexão sobre identidades e inclusão. E a Isilda Sanches, da Antena 3, vai ter um programa diferente connosco.
O Festival da Canção, que é um grande espetáculo de televisão, ganhou também relevância na Antena 1.
Foi importante para a Antena 1 transformar-se na rádio oficial do Festival da Canção, criando para já um podcast e um magazine com todas as novidades do concurso. Na altura das semifinais e da final vamos apresentar ainda os “pós-shows” dando a conhecer as primeiras reações e outros conteúdos exclusivos que não serão mostrados em televisão. Esta presença já nos possibilitou, por exemplo, aumentar o tráfego das nossas redes sociais, o que é um ótimo indicador.
Podemos dizer que as mudanças “a fundo” na Antena 1 acontecerão no período da noite, a partir das 20h00. Quem quer a rádio à noite, quer uma alternativa aos noticiários?
Nesta faixa horária o ouvinte linear pode querer uma alternativa aos noticiários e ao entretenimento da televisão. Na Antena 1, logo pelas 20.00, terá programas onde poderá escutar outras realidades, escutar conversas, daí a existência, na mesma faixa mas em dias diferentes, de espaços como o “#SOQNÃO” ou o “Efeito Borboleta”, que terá o escritor Joel Neto e a historiadora Raquel Varela. Na faixa das 23h00 às 02h00 vamos contar com programas de uma hora onde abordaremos temáticas diferentes como a literacia mediática com a “Terra Média” do Gonçalo Madaíl ou o mundo dos livros com a Fernanda Almeida e os escritores Afonso Reis Cabral, Dulce Maria Cardoso e Richard Zimler nesta primeira temporada. Vamos ter outras novidades como o “Fado Cravo”, uma série de 12 episódios na qual a Aldina Duarte irá conversar com grandes nomes do Fado. Na área da música contaremos também com novos formatos como “Expresso Europa”, “Verdes Anos”, “Asas Elétricos” ou “Gira Discos”, todos eles com uma perspetiva de autor sobre os vários universos musicais.
Existem novidades também na grelha de fim de semana.
Exatamente. Da madrugada de sexta-feira para sábado vamos ter um programa chamado “Bar Condicionado”, que nos irá apresentar uma banda sonora cool e moderna. Quem gosta de andar de bar em bar encontrará ali uma música com algum balanço. Aos sábados à tarde iremos ter também programas de autor como a “Máquina do Tempo”, de Augusto Fernandes, que irá saltitar de época em época à procura de boa música. Será, no fundo, um reencontro de familiaridades. Vamos ter ainda o “M” de Mónica Mendes, dedicado à grande música negra.
O Nuno vai estar também presente na Antena 1 com dois novos programas da sua autoria. Estar atrás de um microfone e em contacto com o público é outro dos seus desafios de vida?
Não me passaria pela cabeça estar num projeto de rádio sem fazer rádio. Aí pensei em dois formatos. Um com o João Lopes, com quem tenho um relacionamento histórico de amizade e companheirismo profissional. Vamos estar nas noites de sexta-feira a falar literalmente de “Duas ou três coisas”, desde os filmes que estamos a ver aos discos que estamos a ouvir, sejam eles atuais ou não. Depois, de quinta para sexta-feira, vou ter um espaço de partilha sobre o meu hobbie: a minha coleção de discos.
A rádio, tal como a televisão, depara-se hoje com uma maior exigência do público. Para um programador e autor de conteúdos, quais são os desafios do presente?
O desafio é conseguir estar atento, não dispersar a atenção por trivialidades ou questões secundárias, não perder o norte, saber olhar e perceber o outro e as suas diferenças e, acima de tudo, gostar e querer comunicar.
Para terminar, como descreveria a nova Antena 1 numa pequena frase?
É a rádio que liga Portugal, somando sem nunca excluir. Deve estar atenta à informação, aberta ao conhecimento, ciente da diversidade, firme na identidade e votada ao estabelecimento de relações de proximidade.