"Ir para o campo com roupas de cor viva, perfumes ou aftershave é proibido."

Autor e apresentador do primeiro programa da história da televisão portuguesa de produção nacional e em continuidade sobre vida selvagem "Vida Animal em Portugal e no Mundo".

Iniciou-se na Rádio Renascença, e em 1994 integrou a redação da RTP onde permaneceu 19 anos como jornalista. Encontra-se desde 2013 ligado à Subdireção Executiva de Programas e há muito que dedica especial atenção às temáticas relacionadas com o ambiente em geral e vida selvagem em particular. Temas aos quais se dedica no presente momento a tempo inteiro.
 
Prémios

2002- MENÇÃO HONROSA NO "PRÉMIO NACIONAL DE AMBIENTE "FERNANDO PEREIRA", por se distinguir na sua ação como "Amigo do ambiente".

2011- RECONHECIMENTO INTERNACIONAL COMO WILDLIFE FILMMAKER.

Livro "WILD PAGES" (Guia Internacional de Realizadores e Produtoras de Documentários de Vida Selvagem.Em finais de 2011 vê o seu trabalho INTERNACIONALMENTE RECONHECIDO E REFERENCIADO na página 75 do livro “WILD PAGES”( GUIA MUNDIAL DE PRODUTORAS E REALIZADORES DE DOCUMENTÁRIOS SOBRE VIDA SELVAGEM), onde constam também reputadas produtoras e canais internacionais sobre a temática como é o caso do DISCOVERY CHANNEL, da NATIONAL GEOGRAPHIC, NATIONAL GEOGRAPHIC WILD CHANNEL, e naturalmente a BBC (Unidade de História Natural, em Bristol, UK).  

2013- PRÉMIO FAPAS (Fundo para a proteção dos Animais Selvagens)- "Documentário Natureza" para o programa "Vida Animal em Portugal e no Mundo".

2013- Documentário "TESOUROS FÓSSEIS DA ILHA AMARELA"- RTP selecionado para mostra internacional.

2013- Participa com o documentário "A VIDA SECRETA DOS MORCEGOS" nas Segundas Jornadas Quiropterianas na Regaleira, em Sintra, tendo sido nomeado para o "PRÉMIO DE MELHOR DOCUMENT&AAacute;RIO SOBRE MORCEGOS".

É o primeiro programa da história da televisão portuguesa de produção nacional e com continuidade dedicado à vida selvagem. Como é que tudo começou?

LHP- A natureza esteve sempre comigo. Lembro os dias de criança em que me levantava às sete da manhã para ler e reler livros que me apaixonavam como "O Grande Livro dos Oceanos", "A Vida Na Terra" de David Attenborough, "O Planeta Vivo" do mesmo autor, a enciclopédia "Fauna" de Félix Rodriguez de la Fuente, "O Mundo Submarino" do saudoso Jacques-Yves Cousteau, fazia coleções de cromos todas elas relacionadas com animais, mamíferos, insetos, peixes, etc. A vida animal sempre me fascinou… A evolução natural, a biologia, a etologia, a zoologia, a engenharia zootécnica. Não sou biólogo, mas descrevo-me como um naturalista. Na televisão encontrei a oportunidade para me tornar divulgador e desta forma levei por diante o primeiro programa da história da televisão portuguesa de produção nacional e em continuidade intitulado "Vida Animal em Portugal e no Mundo". É de resto um projeto multiplataforma que alimenta também em formato mini documentário muitos noticiários da estação pública onde trabalho vai para 20 anos.

O seu projeto de graduação pioneiro em Portugal sobre a elaboração de documentários sobre vida selvagem (wildlife filmmaking) foi um trabalho científico que mereceu 19 valores. Em que consistiu?

LHP- É de facto um projeto pioneiro em Portugal que brevemente será lançado em livro. Trata-se de uma tese científica, que invoca alguns dos melhores autores mundiais sobre o documentarismo à volta da Vida Selvagem. Entre eles estão o Professor Chris Palmer, autor da "Bíblia mundial" nesta temática, o livro "Shooting in The Wild", outras publicações de David Attenborough, "O Planeta Terra", "O Planeta Vivo", "Os desafios da Vida", entre muitos outros, deste mestre e autor. Claro a "Enciclopédia da Vida", de Félix Rodríguez de la Fuente e naturalmente em formato DVD toda a série "O Homem e a Terra", a par de muitas outras séries de outros autores todas elas relacionadas com vida selvagem. Este projeto aponta várias temáticas como a conceção, pré-produção, produção, realização, fotografia, a importância dos sons ambiente, invoca no fundo outros autores como Piers Warren e o seu livro "Carreers in Wildlife Film-Making", com interessantes "case studies". No fundo, são publicações de cariz obrigatório para quem quer fazer bem, com profissionalismo e com ética, documentários sobre vida selvagem. São casos, pessoas, formas de trabalhar que têm de ser " atentamente escutadas", seguidas para tentarmos conseguir a excelência no que à produção de documentários sobre a vida selvagem diz respeito.

O que é que tanto o fascina neste mundo da natureza?

LHP- Fazemos, a par de muitas outras milhares de espécies animais e vegetais, parte integrante da natureza, só que ainda não nos aprecebemos disso.

Qual é a sua estratégia para conseguir gravar aquilo que realmente procura?

LHP- Costumo dizer e com o maior dos gostos que o meu escritório é o campo. Na elaboração de documentários sobre vida selvagem há à cabeça duas máximas que tento nunca esquecer: "Levar o espetador ao cenário e não o cenário ao espetador" e a segunda "A paciência é aqui a mãe de todas as virtudes". Tempo, espera, procura-se A imagem e não UMA imagem. Até a conseguir não largamos nem o terreno, nem o ambiente nem, claro está, a câmara. Quando invadimos terreno selvagem, por menos que queiramos, perturbamos sempre. Ora há que perturbar o menos possível, procurar ver sem ser visto, sentir sem ser sentido, cheirar e apreciar sem ser cheirado e apreciado pelos animais selvagens.

Qual foi a experiência que mais o marcou?

LHP- Se fosse escolher uma experiência, e felizmente há tantas na minha vida profissional e no contacto estreito com animais selvagens, escolhia duas: o contacto estreito com uma parcela da Grande Amazónia selvagem, na Colômbia, Brasil e Peru; e a outra, o contacto estreito com os habitantes de uma área em Portugal que me apaixona particularmente… "O Douro Internacional".

Já lhe aconteceu alguma situação caricata?

LHP- Uma das situações caricatas aconteceu-me na Ilha dos Micos, na Amazónia Colombiana, onde me vejo com dezenas de macaquinhos selvagens em cima de mim e tudo por causa de uma banana. Também jamais esquecerei o safari fotográfico noturno ao jacaré preto, num dos meandros do Amazonas Peruano, que resultou a 100%, avistámos e manuseámos uma cria, assim como o contacto físico e apaixonante com a grande Anaconda na Amazónia Brasileira. Lembro também com imensa saudade o contacto com a avifauna Santomense e com a fauna marinha de Cabo Verde, por exemplo, ou o mergulho com grandes cetáceos ao largo da Ilha do Pico nos Açores.

Qual foi, para si, o maior desafio?

LHP- Todas as reportagens me deram e me dão imenso prazer fazer. O professor Chris Palmer, no seu livro considerado a "Bíblia mundial" no "Wildlife filmmaking", lança vários alertas em relação à ética nos realizadores de documentários sobre vida selvagem. Naturalmente que lá fora, e devido à muita concorrência, será tentador filmar animais amestrados ou animais de falcoaria, por exemplo. Já perdi muitas e boas cenas, mas nunca fui nem nunca irei por aí. Todo o trabalho que faço nesta área, mas mesmo todo, é com animais em habitats completamente selvagens. Esta é também, para mim, regra de ouro. Há animais que se deixam filmar mais facilmente do que outros. Ir para o campo com roupas de cor viva, perfumes ou aftershave é proibido. Temos de estar sempre contra o vento. Temos de usar abrigos e folhagem para não sermos vistos, procurar preferencialmente zonas escuras ou sombreadas e depois esperar. As aves são as mais difíceis, mas os mamíferos também. O caso dos veados, corços, animais de hábitos noturnos ou crepusculares, etc. Mais uma vez a espera e as sucessivas idas ao terreno são fundamentais para um bom produto final. Cada documentário é um desafio e posso dar dois exemplos: 6 meses de filmagens para 6 minutos de televisão – "A Vida das Borboletas do Mondego". Outro: "Os habitantes Alados do Douro Internacional" – 7 meses de filmagens para 5 minutos de televisão.

Qual foi, até agora, o animal que mais o impressionou e porquê?

LHP- Ai… São tantos. Mas arrisco dizer a Águia-real, pela majestade, pela supremacia e ao mesmo tempo pela enorme capacidade de adaptação que permite a esta espécie (Aquila chrysaetos) conquistar praticamente muitas parcelas do nosso planeta. É um animal que impressiona, que cativa, que nos faz parar para pensar que só há meia dúzia de segundos, se tanto, chegamos a este mundo!

Consegue eleger “a reportagem da sua vida”?

LH- Todas. Mas adorei conhecer e divulgar através da RTP, algumas espécies e um pedacinho da imensa Amazónia, adorei conhecer algumas das 140 espécies de borboletas que temos em Portugal, adoro de forma particular as aves, em particular as migratórias porque apenas passam por cá e temos anualmente que estar no local certo e nos poucos meses certos para as observar, adorei mergulhar com os grandes cetáceos ao largo dos Açores.

E quais foram as entrevistas que mais o marcaram?

LH- O encontro em 2009, em Oviedo (Espanha), em entrevista exclusiva para a RTP, com Sir David Attenborough e no mesmo ano mas na Corunha, também em Espanha, com a Primatóloga Jane Goodall. São para mim e para muitas mais pessoas duas referências que se completam: uma no campo da divulgação e a outra no campo investigação, com a grande vantagem de terem "uma cobertura" de ternura, traquilidade, humildade e imensa, imensa disponibilidade.

Quando vai para o terreno, o que é que não pode faltar?

LHP- Ora bem, vou tentar fazer aqui um parêntisis para lembrar que nestas coisas dos documentários da vida selvagem "Os animais são as vedetas e os operadores de câmara os grandes mestres". Esta é uma frase lapidar enunciada por Sir David Attenborough na tal entrevista exclusiva à RTP, concedida em 2009. Eu quando vou para o terreno levo sempre o indispensável caderno de campo. É nele que cronologicamente anoto os sons, as ambiências, os pormenores, os cheiros, faço alguns desenhos e mapas. O caderno de campo para um naturalista divulgador, neste caso em televisão, é fundamental. Depois o material como a roupa pardacenta para não espantar os animais, verdes, ou cinzentos esverdeados, binóculos, a câmara de filmar e os seus apetrechos e diferentes objetivas, a camuflagem, tendas, roupagem, tanto para os wildlife filmmakers como para o material, enfim é um carregamento e tanto.

Na sua opinião, acha que o programa tem sido suficientemente valorizado ou acha que terá sempre “asas para voar mais alto”?

LHP- Muitas das pessoas que encontro de facto não têm ideia da variedade e da quantidade de vida selvagem que nos rodeia. Muitas vezes, e depois de terem visto os mini documentários ou reportagens que faço para os diferentes espaços, dizem-me que não faziam ideia da existência desta ou daquela espécie, deste ou daquele comportamento. Tomaram por isso conhecimento dessa vida selvagem em território nacional através do meu trabalho, o que sinceramente me deixa muito feliz e cada vez mais motivado para continuar. Pergunta se tem asas para voar? Por mim respondo que sim. Não conheço ninguém que não goste de ver documentários sobre vida selvagem. Quero acabar os meus dias neste ofício. Não penso na reforma.

No ar desde 2007, o que é que ainda falta dar a conhecer em Portugal?

LHP- Portugal é uma "Mina de Ouro" no que à vida selvagem diz respeito, portanto há tudo ou quase tudo para ver, mostrar, divulgar com todos os cuidados.

Projetos para o futuro: O que vem aí?

LHP- Estamos na fase dos documentários de longa duração, em formato HD/16:9 também eles inéditos na RTP nesta área em concreto. Não me poderei alongar muito mas sempre posso dizer que vamos conhecer muito melhor e "de perto" as borboletas em Portugal, as aves de Portugal, os insetos que sustentam a maior parte dos ecossistemas da Terra. Em suma, estamos já a produzir e brevemente a começar a emitir grandes formatos do documentário televisivo sobre vida selvagem de produção nacional em continuidade o que nunca aconteceu na história da televisão no nosso país.

Brevemente terá uma rubrica no Extra (O senhor dos animais apresenta…), onde dará a conhecer um pouco mais do seu trabalho, nomeadamente algumas curiosidades sobre determinadas espécies, acompanhadas de fotos e vídeos. Esta rubrica poderá ser uma espécie de complemento do programa?

LHP- O "Vida Animal em Portugal e no Mundo" tem sido uma aposta felizmente ganha em todos os níveis e acarinhada por muita gente. Gente que a mim se dirige na rua e que pergunta: "Você não é o senhor dos animais na RTP?" Pois é assim que gosto de ser conhecido. Este é para mim o melhor dos prémios, o prémio do público que me vê e que gosta do que faço. Sei que assim é porque aproveito estas interpelações para perguntar às pessoas o que mais gostam, o que viram, quando viram, onde viram e obtenho respostas que me deixam muito satisfeito. As pessoas viram por exemplo no ar um determinado trabalho e pela conversa percebo que o entenderam do princípio ao fim. Obviamente que há muito percebi a importância das redes sociais e das diversas plataformas digitais na divulgação do meu trabalho. Estamos no "Novo Paradigma Comunicacional". Estou naturalmente muito satisfeito que a RTP, a "minha casa" tenha percebido que o online é parte integrante do futuro. Posso através das linkagens ganhar mais informação que a seguir me vai levar ao conhecimento, que são duas coisas completamente diferentes. Estou muito feliz por poder contribuir, darei naturalmente o melhor que tiver e souber. Sem qualquer dúvida!

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