O que é que podemos esperar da Volta a Portugal este ano?
JPM – A Montanha é a chave desta Volta a Portugal. É ela que abre e fecha as expectativas de qualquer ciclista que a queira vencer. Há muito pouco de corrida em plano, para que um sprinter possa ter grandes aspirações de protagonismo. A menos que num dia desinspirado ou desatento, o pelotão deixe fugir o corredor errado e nunca mais recupere de tal facto – como já aconteceu em tantos momentos da história, a última em 2005 com o russo Vladimir Efimkin – será um trepador que se sabe defender no contra-relógio a vencer em 2013.
Atrevo-me: Joaquim Gomes, o diretor da prova, desenhou em 2013 uma Volta na qual seria o grande favorito… se ainda corresse.
Houve algum momento que lhe tenha ficado até hoje na memória?
JPM – Dezenas ou centenas… Entre os publicáveis e os outros. A Volta vive de acontecimentos em segundos, aos quais é preciso reagir no exacto momento, para corredores e jornalistas.
Lembro-me de um caso curioso, há alguns anos: o estúdio de sonorização, que está instalado num camião, estava a 500 metros da régie, no carro de exteriores. De repente, em plena etapa, os monitores desligaram-se, o som desapareceu dos auscultadores. Puf. Blackout absoluto. Como manda a regra, eu e o Marco Chagas continuámos a narrar. Nunca se sabe se em casa à blackout como no estúdio. Da dúvida, espera-se por ajuda em breve. Mas… 1 minuto… 5…10 minutos… Nada!
Presumi: bem… devemos estar no ar, senão já cá estavam… Consegui esticar o cabo do micro-auscultador ao limite, até à janela! Milagre: passava descontraído um colega de equipa nesse momento. Passei-lhe a mensagem, aflito! 5 minutos depois, estava um técnico no estúdio. Ligaram-se os écrans, o som, a intercomunicação com a régie!
Aliviado, vi que o mesmo grupo em fuga de… há 15 ou 20 minutos atrás, estava na mesma posição relativa. O pelotão também.
Aliás, como me explicaram da régie: "Como os vossos comentários batiam certo, nunca desconfiámos de nada!".
Acho que só falta explicar o motivo do blackout:
algures à porta do camião-estúdio, alguém do staff da Volta precisou de energia… e desligou uma ficha, para se servir.
Qual é que acha que foi o momento mais emblemático da Volta?
JPM – Não consigo definir. Mas… da minha história na Volta? Talvez… A narração da vitória do Vitor Gamito, em Marvão.
Porquê? Por ter a noção de que, após 4 segundos lugares, persistir e conseguir era uma mensagem de esperança. Especial para ele e para todos os que perseguem objectivos na vida.
Que estória lhe ocorre quando falamos da Volta?
JPM – Num dia normal de 1998, chegou à redação a notícia de que o Francisco Figueiredo ia deixar a RTP. O narrador da Volta, entre tantos outros predicados! Pragmático como sempre, o então coordenador Miguel Barroso olha… à volta na redacção e pensa em voz alta: "Temos que encontrar um novo narrador de ciclismo." 5 segundos depois, pergunta ao grupo:
– Algum de vocês já fez ciclismo? – 10 segundos de silêncio.
Atrevi-me:
– Sim… já fiz Voltas pela Rádio Renascença… Mas não era a mesma coisa…
E hoje confirmo: não era.
Não é.