O drama silencioso e silenciado de mulheres esquecidas que desempenharam uma tarefa fundamental para o desenvolvimento da cidade do Porto
De 1928 a 1951, existiram 210 metros na cidade do Porto onde o trabalho da “besta” foi substituído pelo ser humano. Quem via aquelas mulheres carregadas com 144 molhos de carqueja chamava-as de “ouriços humanos”. As carquejeiras que durante o séc. XIX início do séc. XX faziam chegar à cidade a carqueja que descarregavam dos barcos acostados às margens do Douro.
Numa época em que a sobrevivência era uma verdadeira luta, mulheres de todas as idades viam-se obrigadas a carregar às costas até 60 quilos de carqueja para obterem o sustento diário. A subida assustadora, impossível para os animais de carga, era feita pelas mulheres, que muitas vezes ainda levavam filhos pequenos. A tarefa hercúlea era feita à chuva ou ao sol, sem folgas nem férias. A carqueja era a sua vida, e por vezes a razão de um fim prematuro.
Estas “Mulheres-escravas”, dobradas pelo peso da carqueja e da sua condição social, calcorreavam calçadas, ruas, vielas e ruelas da cidade do Porto, percorrendo distâncias de cinco quilómetros ou mais, no desempenho de um árduo trabalho que permitia que se cozesse pão, se acendessem fogões a lenha ou se aquecessem as lareiras das casas mais abastadas da cidade nevoenta e fria. Um trabalho duro e desumano, num sacrifício ignorado e esquecido de “supermulheres” de antigamente.