AGOSTO – Mês do Desporto
Ao longo deste ano, a RTP2 relembra, em cada mês, alguns dos rostos e dos programas que fazem parte da história e das estórias do canal. No mês da Desporto destacamos o jornalista Carlos Albuquerque.
Qual é a importância do desporto na RTP?
Carlos Albuquerque – A importância é grande e diretamente proporcional ao interesse que o mesmo desperta na sociedade. Podemos orgulhar-nos de tentar diariamente não confundir “desporto” com futebol, embora a redução progressiva dos meios humanos da redação nos tenha vindo a dificultar a tarefa. Ainda assim, conseguimos dedicar muitas horas ao desporto dito “amador” todos os fins-de-semana na RTP2, com um total de oito horas. Quanto ao chamado “desporto-rei”, que é também outra das nossas grandes paixões, procuramos corresponder com cada vez mais qualidade às expetativas dos adeptos que vivem intensamente o dia-a-dia dos principais clubes. Mesmo não detendo os direitos de transmissão de várias competições, a programação dos vários canais da RTP ocupa-se de refletir em antena toda a envolvência relacionada com os jogos. As transmissões dos “Mundiais” e “Europeus” de futebol, bem como os Jogos Olímpicos e a Volta a Portugal em bicicleta, são apenas alguns dos muitos exemplos do interesse e dedicação que a multifacetada redação de desporto da RTP coloca no acompanhamento do fenómeno desportivo. E como ele é importante no nosso país!
Como foi o seu percurso profissional até à área de desporto da RTP?
CA – Fazia relatos da janela de casa, sobranceira ao campo de futebol das traseiras do prédio dos meus pais. Se não jogasse, relatava. Mas quando entrei pela primeira vez num estúdio de rádio foi para trabalhar na informação geral. Era “noticiarista” num “part-time”- muito parcial diga-se – da “Rádio A” em Tires. Seguiram-se a “Rádio Miramar” e a “Rádio Comercial da Linha”, onde conheci quem me convidaria posteriormente a trabalhar na RTP, Miguel Barroso e Manuel da Costa, a quem devo muito do que sei. Mas antes de chegar ao desporto da RTP, ainda estive na Antena 1 onde trabalhei, aí sim, em exclusivo na área desportiva. Finalmente, cumprido o serviço militar e licenciado em Comunicação Social no ISCSP, cumpriu-se o sonho quase impensável de trabalhar no desporto da melhor televisão portuguesa. E já lá vão 21 anos! Durante este período, porém, houve um interregno durante os oito anos em que apresentei o “Bom Dia Portugal”. Foi um programa que muito marcou a carreira e que guardarei para sempre com emoção nas minhas memórias profissionais.
Qual foi o programa desportivo que mais gostou de apresentar na RTP?
CA – Costuma dizer-se que não há amor como o primeiro e, seguindo esta máxima, elegeria o saudoso “Remate” que, diariamente e em apenas 10 minutos, mostrava algum do desporto que na década de 90 do século passado se fazia em Portugal. Era um programa que me habituara a ver em casa como espetador igual a tantos outros e que, em julho de 94 apresentei pela primeira vez: “Afinal os gigantes também têm pés de barro”, dizia eu a propósito do falhanço de Roberto Baggio na final do Campeonato do Mundo de futebol dos Estados Unidos, cujo penalti entregou o título ao Brasil. Há uns tempos, quando procurava qualquer coisa numa gaveta de casa dos meus pais, encontrei a folha com o texto do meu primeiro “remate” e quase nem queria acreditar no que estava a segurar. Os programas, sejam eles quais forem, necessitam de uma atitude de enorme profissionalismo e responsabilidade por parte de quem os faz. Foi sempre assim que encarei todos os programas que tive o privilégio de apresentar. Sim, porque mais do que simples trabalho, é um enorme privilégio dar a cara por uma instituição com a história e o prestígio da RTP.
O futebol é a modalidade que mais paixão lhe desperta?
CA – Mentiria se dissesse que não é, mas também coloco o ciclismo e o ténis no pódio das preferências pessoais. No entanto, mais do que a inclinação por esta ou aquela modalidade, fascinam-me todos os homens e mulheres que se dedicam honestamente à causa desportiva, em nome de um clube ou do nosso país, com desportivismo e “fair-play”. Isso para mim é o mais importante, seja em que modalidade for.
O desporto e as redes sociais estão cada vez mais unidos. Tem sentido essa crescente ligação com o público da RTP?
CA – O público e os espetadores são a razão do nosso trabalho e, nesta medida, as redes sociais constituem um veículo de aproximação e contacto cada vez maior entre as duas partes. É uma “antena aberta” quase permanente que ajuda até a calibrar o nosso trabalho noticioso. Seja na receção de propostas, à-priori, ou na apreciação do “produto” acabado, com críticas ou elogios ao que foi emitido. Essas redes da nova comunicação constituem igualmente novas fontes de informação, cada vez mais indispensáveis em função da crescente globalização a que os diversos agentes desportivos, atletas, empresários, etc. se expõem na interação com os “amigos” virtuais de que nós, jornalistas, também fazemos parte. Falando mais em concreto, a reprodução em direto de perguntas ou opiniões dos telespetadores vertidas nessas redes sociais, é frequente nas transmissões desportivas televisivas, o que enriquece e dinamiza essa mesma programação.
Este ano a RTP lançou a App 5i Second Screen do Mundial 2014. Como recebe estes pequenos grandes passos tecnológicos?
CA – Quando achamos que já está tudo inventado, há sempre mais um vetor tecnológico que nos surpreende. Mas mesmo sem precisar do olhar visionário, basta pensar que, não fora a sofisticação da cobertura de uma corrida velocipédica e pouco conseguiria ver o público. O saudoso jornalista Carlos Soares, que comigo partilhou a redação na 5 de Outubro, usava da sua profunda voz para me fazer a seguinte pergunta quando eu chegava de reportagem de uma corrida de ciclismo: “Oh Carlos, estava muita gente na estrada?” Eu dizia-lhe que sim, mas na verdade, tirando os circuitos, o amante do ciclismo pouco conseguia ver. Era uma festa, mas o seu testemunho presencial resumia-se a segundos ou minutos. Hoje em dia, a televisão consegue acompanhar a etapa inteira ao pormenor! E até o repórter na estrada consegue entrevistar diretores desportivos em direto que conduzem e vêm a etapa nos seus tablets. No caso do futebol, a recente introdução da tecnologia que permite despistar “golos-fantasma” é apenas mais um passo na “espetacularização” do evento e, principalmente, na garantia da verdade desportiva. A interatividade dos telespetadores proporcionada pelos meios de que fala na pergunta, é mais um passo na junção de um real cada vez mais subjetivo, às vontades do espetador cada vez mais informado, seletivo e exigente na procura do melhor… digamos, ângulo de abordagem.