Obra subtil e delicada, conta a história de um homem e de uma mulher sem nome que partilham o mesmo espaço ao longo de algum tempo.
Esta peça inédita da espanhola Lluïsa Cunillé (Badalona, 1961), com encenação de Jorge Silva Melo (1948-2022), é um drama de personagens – um “Ele” (João Meireles) e uma “Ela” (Rita Brütt) que mantém a tensão a partir de poucos elementos e do uso dos silêncios e das palavras, do que se diz e do que se cala.
A obra, que ganhou o Prémio Born de Teatro em 2010, mostra a relação, durante 6 ou 7 anos, entre este homem e esta mulher, ligados pelo mesmo local de trabalho: a fábrica de calçado da Mãe de “Ela”. A Mãe, após doença que a vai afastando para a reforma, acaba por deixar a esta filha os encargos da Fábrica.
“Ela”, não sabendo como fazer crescer a empresa, acaba por procurar respostas junto de um funcionário que não é dos mais antigos, mas que representa a memória desta Fábrica/Empresa de que “Ela” é Patroa, e que, para além do seu trabalho de escritório tem um segredo delegado pela antiga proprietária. O homem demonstra saber sempre mais do que a filha.
Cunillé concentra de forma minimalista e bastante consciente os diálogos, nunca ao acaso, de uma série de problemas reais, laborais e pessoais e, efectivamente, do quotidiano e do passar do “Tempo”. O público, pelos pequenos detalhes que os atores e o cenário transmitem, têm a noção de que também eles, enquanto espectadores, vão sentindo os anos e o “Tempo” a correr.
«As personagens de Lluïsa Cunillé têm plena consciência de que a sua interacção é um número social, parte do espectáculo da história. É essa consciência do mundo em que estão metidos que faz destas personagens verdadeiros heróis e desta dramaturgia uma obra subtil, mas lancinante. As peças de Cunillé falarão à humanidade durante muito tempo.» Jorge Louraço Figueira