Conciliando a formação nas Beaux-Arts de Paris com as inovações técnicas emergentes, este republicano convicto e filantropo contribuiu para o despontar do modernismo em Portugal. Conheça a vida e a obra do arquiteto Ventura Terra, figura incontornável que marcou a cidade de Lisboa
Apesar do seu falecimento prematuro, o arquiteto Miguel Ventura Terra (1866-1919) deixou-nos um conjunto de obras relevantes no domínio da arquitetura, como a Assembleia da República, a Maternidade Alfredo da Costa ou os Liceus Camões e Maria Amália. Através de documentos de arquivo e depoimentos de investigadores, este documentário de Fernando Carrilho dá a conhecer a vida e a obra de um dos mais importantes arquitetos do século XX, que venceu quatro vezes o Prémio Valmor de Arquitetura (1903, 1906, 1909 e 1911) e recebeu uma Menção Honrosa (1913). Coerente nas suas diferentes áreas de intervenção, a atuação do arquiteto Ventura Terra caracteriza-se pelo seu pragmatismo e racionalidade na procura do útil e do belo, cujo legado o torna uma figura de referência do despontar do modernismo em Portugal.
A par da componente informativa, o documentário tem por objetivo envolver sensorialmente o espectador da arquitetura de Terra, filmando os seus edifícios de forma cinemática, apresentando uma estrutura visual dominada pela imagem em movimento com panorâmicas, tilts, vistas aéreas, travellings e movimentos de steady-cam, nos espaços interiores. Explorando as actas da Câmara de Lisboa e os artigos de jornais da época pretende se dar “voz ao arquiteto” edificando simultaneamente a estrutura do documentário com um corpo de entrevistas a investigadores e estudiosos da sua obra, a ponderar: Teresa Vasconcelos, Augusto França, Maria José Perdigão, António Francisco Fevereiro, José Manuel Carvalho Araújo, Maria de Lurdes Carreira, Rui Campos Matos, Ana Isabel Ribeiro, Delfim Sousa, Fernando Rosas, Raquel Henriques da Silva, Lurdes Rufino, Ivone Magalhães e Rui Jorge Ramos.
Miguel Ventura Terra estudou Arquitetura na Escola de Belas-Artes do Porto. Em 1886, viajou para Paris, onde frequentou a École des Beaux-Arts e foi discípulo de Victor Laloux, o arquiteto da Gare de Orsay. Premiado com várias medalhas de honra, ganhou o concurso para a remodelação do Palácio das Cortes. São de sua autoria importantes edifícios como a Sinagoga de Lisboa (1905), o Palacete Valmor e o Banco da Rua do Ouro (Banco Totta e Açores, 1906), os Liceus Camões (1907) e Pedro Nunes (1908), a Maternidade Alfredo da Costa (1908), a Casa Tomás Quartim (1911), distinguida com o Prémio Valmor, o Teatro Politeama (1912-1913) e a Igreja de Santa Luzia de Viana do Castelo.