A televisão em Portugal continua a ter bastante relevância mas, perante a inevitável fragmentação de audiências e a crescente polarização das plataformas de streaming, é necessário que haja uma rápida transformação digital entre os principais operadores. Esta foi uma das conclusões do Estado da Nação dos Media, discutido esta terça-feira, 9 de maio, durante o 32º Congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações. Juntos em Lisboa, os líderes dos grupos RTP, Impresa e Media Capital trocaram impressões e propostas sobre aquilo que já é um “comboio em andamento” e que está em constante mudança em resposta à convergência entre tecnologias.

Os padrões de consumo em Portugal alteraram-se com o aparecimento de novos players. Nos últimos 20 anos, também as expetativas dos espetadores mudaram relativamente à televisão enquanto fonte de entretenimento e de informação. No Congresso da APDC, o Presidente da RTP, Nicolau Santos, defendeu a urgente transformação digital, com o “risco de nos tornarmos irrelevantes se não a fizermos a médio prazo. Como se faz isto numa conjuntura de queda de receitas e de grande mudança? Tem de ser com talento, esforço, perseverança e capacidade de acreditar que vai ser possível”.

A enorme fragmentação de audiências, através de outros meios, é conhecida e resultado disso “a publicidade está a cair abissalmente e há concorrência desleal por parte dos grandes operadores estrangeiros”, com outra capacidade financeira e de captação de receitas. Acrescenta Nicolau Santos que “o desfio do digital tem de ser assumido pelo serviço público de media, mas não é algo que se faça facilmente. A concessionária tem de se reorganizar e a informação e jornalismo têm de ter um papel central porque hoje vivemos desafios brutais nesta matéria”.

Também Francisco Pedro Balsemão, CEO do grupo Impresa, acredita que “a tendência é para o digital e para a complementaridade. Os nossos orçamentos são adaptados à nossa dimensão e ao país que temos, mas também temos de ser ambiciosos e perceber como temos de ir ao encontro destas tendências de consumo, como o streaming que tem um poderio muito maior e que é difícil ou impossível de combater. Estamos a investir em canais lineares digitais, para diversificar fontes de receitas, mas isso não impede que façamos (também) mais parcerias”.

32º Congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações.

Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital, defende igualmente “modelos viáveis de coprodução com as grandes plataformas mundiais”, sendo necessário criar “a infraestrutura” certa para atrai-los. Deu como exemplo a “grande área de estúdios e de escritórios que irá concentrar todas as operações do grupo. Surgiram já uma série de estrangeiros interessados em usar os estúdios porque há poucos no país de grande dimensão”.

Para Portugal ter relevância no streaming, aponta Nicolau Santos, “tem de haver uma política pública de fomento da produção audiovisual, para financiar e apoiar os produtores independentes”. O presidente da RTP vai mais longe e sugere como potencial solução a criação de uma plataforma que unisse os três principais operadores de media: “A RTP, a SIC e a TVI têm sido os motores da indústria audiovisual e alimentam uma indústria com artistas, autores e empresas. [Seria interessante] se todos os operadores se juntassem e criassem um player. Cada um tem a sua própria operação, que é muito pequena face aos players mundiais”. Também Pedro Morais Leitão propôs a criação de um operador de telecomunicações virtual que pudesse agregar os conteúdos produzidos em Portugal.

Francisco Pedro Balsemão não fecha portas ao repto lançado por Nicolau Santos, no entanto, alerta para o facto de que “também os grandes grupos de streaming estão a reinventar-se e a cortar custos. Ainda ninguém encontrou o modelo certo. Vamos cada vez mais entrar neste mundo. Não é fácil de fazer dinheiro com o streaming, mas temos de lá estar com os parceiros certos”.

Com um consumo cada vez mais disperso, a estratégia dos três canais passa por apostar em conteúdos relevantes e sempre numa lógica multiplataforma. O Estado da Nação de Media terminou com a mensagem de que a televisão não está morta e que o seu futuro passa por fazer mais parcerias, colaborar e transformar.