Ópera de Rudi Stephan, com encenação de Calixto Bieito, que reescreve a história bíblica do fratricídio cometido por Caim contra Abel.
A história bíblica do fratricídio cometido por Kajin (Caim) contra Chabel (Abel) é apresentada numa perspetiva diferente na ópera de Rudi Stephan (1887-1915), segundo o libreto do escritor alemão Otto Borngraber.
No contexto da primeira família na terra, Adahm (Adão) dedica-se ao cultivo da terra, enquanto Chawa (Eva) anseia pela primavera da vida e por um Adahm mais jovem e mais apaixonado. Os filhos Kajin e Chabel têm visões muito diferentes da vida. Enquanto Chabel é devoto a Deus e à vida religiosa, Kajin sente-se unido à natureza e procura a satisfação sensual.
À medida que a noite cai, Chawa – cega pelo luar e desejos eróticos não realizados – reconhece o jovem Adahm na figura do filho Chabel. Kajin observa como a mãe – por quem, além do amor familiar, também nutre sentimentos eróticos – se aproxima do irmão vendo nele o seu amor perdido na infância. É o desejo erótico de Kajin pela própria mãe, e não a falta de reconhecimento de Deus, que eventualmente o leva a assassinar o irmão Chabel.
Após o fratricídio, Kajin desaparece no deserto. Unidos e olhando o futuro, Chawa e Adahm enfrentam um novo tempo e percebem o que espera a humanidade.
O autor alemão Otto Borngraber (1874-1916) deu ao libreto, baseado na peça da sua autoria, o subtítulo Erotisches Mysterium. A sua interpretação simbólica da história bíblica foi claramente inspirada pela psicanálise, que celebrou o apogeu no seu tempo.
Borngraber mostra como a primeira família é dilacerada pela tensão entre o desejo sexual e a vida gananciosa, por um lado, e uma vida dedicada ao espiritual por outro. Os dois irmãos representam duas visões completamente diferentes sobre a vida. A natureza erótica e incestuosa da história causou grande polémica e a peça original acabou por ser banida pela censura local.