Estreia: Sábado, 27 de Abril às 22:15, na RTP2

Profunda homenagem ao realizador sueco Ingmar Bergman, aos atores dos seus filmes e aos intérpretes da Companhia Olga Roriz, num mergulho à complexidade das relações humanas

 

‘A Meio da Noite’ revisita o universo de Ingmar Bergman numa celebração do seu nascimento e da sua obra. A dança o teatro e o cinema à procura de um outro lugar. Poucos realizadores conseguiram encontrar profundidade no interior do ser humano. Os seus sonhos cheios de pesadelos foram a base inspiradora de muitos dos seus filmes, nos quais espaço e tempo se desvanecem do real. A impossibilidade de comunicação, a religião e a morte são as temáticas mais obsessivas de Bergman. No entanto, o que é mais importante na vida do realizador é a comunicação que conseguimos com outros seres humanos: sem isso estaríamos mortos.

A redenção, por vezes, aparenta ser o amor, mas sempre que as personagens parecem perceber isso, a luz é retirada do ecrã. Apesar de lhe interessar qualquer ser humano, seja homem ou mulher, Bergman não esconde gostar mais de trabalhar com mulheres, afirmando que são melhores atrizes, talvez porque têm uma relação mais aberta com a sua reflexão. A verdade é que as mulheres de Bergman não são um mito, elas existem em todo o seu esplendor e complexidade.

As referências são esmagadoras, tanto na quantidade como na dificuldade de análise e interpretação de cada personagem. É nessa visão do realizador que Olga Roriz se inspira, nesses homens e mulheres assustadoramente reais, na solidão em luta constante com o interior.

 

 

Sendo um espetáculo que se propõe abordar a temática existencialista do encenador e cineasta Ingmar Bergman, ‘A Meio da Noite’ é simultaneamente uma peça sobre o processo de criação numa procura incessante de si próprio e dos outros. Sete intérpretes encontram-se para partilhar as suas pesquisas sobre a obra do realizador e criarem, coletiva ou individualmente, cenas que possam integrar um futuro espetáculo.

À volta de uma mesa/ilha, fecham-se nos seus pensamentos, mergulhados nos computadores, nos livros, nos vídeos. Tudo nasce desse “huis clos” de criação: o som, a luz, as imagens, as ações e contradições, dramas, pesadelos e fantasmas. As camadas de representação acumulam-se, criando tramas dramatúrgicas onde se mistura a mentira com a verdade dos factos.

 

«A imaginação devia sentir vergonha. É humilhante mas é também necessária. Todos os dias penso que este processo tem algo de fatigante, desagradável e, além do mais, de absurdo. Todos os dias prometo a mim próprio abandoná-lo porque ele não cessa de me irritar. Mas todos os dias rescindo a minha decisão e recomeço, rasgo o que já escrevi ou recomeço. O prazer que sinto é vago mas persistente. Qual é o meu objetivo com estas imagens? Repito, qual é a minha intenção? Não sei, e jamais conseguirei saber com uma certeza mínima. É possível que, à medida que avanço, consiga uma justificação repentina. Tudo o que sei é que uma espécie de prazer de resolver uma situação me impele a fazer o que faço, o prazer de criar um espaço no meio de um caos confuso, de impulsos contraditórios, um espaço em que a imaginação e o desejo de rigor formal se cristalizam num esforço comum e numa conceção de vida que me é própria: o desejo absurdo e jamais satisfeito de comunicar e estabelecer relações, as tentativas desastrosas de quebrar com o isolamento e a distância.»
Ingmar Bergman, excerto de ‘Lágrimas e Suspiros’

Ficha Técnica

Título Original

A Meio da Noite

Direção e Encenação

Olga Roriz

Intérpretes

André de Campos, Beatriz Dias, Bruno Alexandre, Bruno Alves, Catarina Câmara, Francisco Rolo e Rita Calçada Bastos

Música

Johann Sebastian Bach, Erik Satie, Primal Scream, Michelle Gurevich, Franz Schubert, Frédéric Chopin, Piotr Ilitch Tchaikovsky, Dolf van der Linden, Erhard Bauschke, Giovanni Fusco e Jefferson Airplane

Cenografia e Figurinos

Olga Roriz e Ana Vaz

Produção

Francisco Silva, Isabel Roma | RTP

Realização

António Sabino e Igor Martins

Ano

2018

Duração

80'

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