Documentário de Ricardo Clara Couto e Nuno Costa Santos sobre as centrais hidroelétricas projetadas por João Archer de Carvalho, Rogério Ramos e Nunes de Almeida
Este é um documentário que vive entre a coragem da aventura modernista de um conjunto de jovens arquitectos, nos anos 50 e 60 do século passado, num lugar remoto, e a dura experiência humana, feita de muito esforço e suor, de a construir.
A ação é um intercalar entre a visita da arquiteta e professora Graça Correia Ragazzi e um jovem arquiteto às centrais hidroeléctricas, situadas em Trás-os-Montes, junto à fronteira Portugal-Espanha, e textos retirados do polémico “O Lodo e as Estrelas”, escrito por um padre (o padre Telmo Ferraz), sobre os trabalhadores, seres humanos frágeis, muitas vezes doentes, a viver longe das famílias, que ouviu com grande sensibilidade.
O filme inclui ainda uma surpresa proporcionada a um dos arquitetos do empreendimento, João Archer de Carvalho, personalidade fundamental para explicar como se processaram os trabalhos e como se construiu o bairro onde habitaram os trabalhadores, o pessoal especializado e o pessoal dirigente (os “sábios”, segundo se dizia).
Assim se consegue ter um retrato completo, com uma componente ao mesmo tempo técnica e funcional, dedicada ao objetivo de eletrificação do país, a estética de vanguarda (sobretudo para a altura) e a dimensão humanista fundamental para se perceber o que era viver num Portugal pobre, feito de gente que tinha de lutar para viver com o mínimo de dignidade que muitas vezes lhe era negada.