Apesar da nova telenovela da RTP1 – Os Nossos Dias – pretender ser um reflexo da realidade, tem o seu lado de humor e boa disposição. O núcleo dedicado aos taxistas refletem isso mesmo:
Regina Trancoso, uma solteirona de 40 anos, que tem a seu cargo a distribuição do serviço e a comunicação com todos os veículos em movimento. Lurdes é filha dum sargento do exército e faz jus à alcunha de sargentona que adquiriu na central de táxis, com uma postura sempre autoritária e intransigente. Sem papas na língua, diz tudo o que lhe vai na alma por mais politicamente incorrecto que seja e não se dá nunca ao trabalho de gerir as sensibilidades alheias. Ditadora e intratável, Lurdes não é, contudo, má pessoa e, esporadicamente, mostra-o, tomando atitudes inesperadas de bondade para com os outros.
Paulo Santos, que depois de ter visto uma promissora carreira de futebolista abortada cedo demais por uma lesão num joelho, persegue agora o sonho de se tornar um treinador de futebol de topo. Assim, enquanto ganha a vida ao volante do táxi, Paulo empenha-se em dirigir a equipa de futebol, que para já lhe coube em sorte, como se estivesse a liderar uma equipa profissional, sem nunca ceder um milímetro, nem quando os colegas lhe lembram que ele treina apenas uma equipa de infantis num campeonato distrital. Descontraído e com um charme muito próprio, é um conquistador nato e está sempre a tentar fazer valer esse atributo com Lurdes, que, embora o disfarce, gosta dessa atenção. Entre as suas idiossincrasias destaca-se o seu peculiar uso do português. Com poucos estudos, mas sem qualquer pudor em dizer o que sente da maneira que mais jeito lhe dá, Paulo não só inventa o seu próprio léxico como tem um uso da gramática muito particular.
A primeira taxista mulher da casa, chama-se Carla Rocha. Estudou Ciências da Comunicação e considera-se uma jornalista freelancer, embora praticamente nunca consiga trabalho na sua área, razão pela qual aceitou provisoriamente conduzir um táxi. Simpática e faladora, Carla conquista facilmente a simpatia de todos, parece estar sempre ligada à corrente, o que muito desespera Lurdes quando lhe quer atribuir um serviço pelo rádio e Carla não se cala com tudo o que lhe aconteceu na última meia hora. Para estar mais tempo sem a ver, Lurdes tenta sempre dar-lhe os serviços mais longos, embora não se livre da sua voz sempre a matraquear no rádio.
Aos 55 anos, Valdemar Damásio é já o taxista mais antigo da casa e não faz tenção de se mudar por nada deste mundo. Acredita que a sua profissão é uma arte como outra qualquer e considera que um taxista é mais que um motorista: deve ser também um psicólogo e um conselheiro. Gaba-se de conhecer a área metropolitana de Lisboa como a palma da sua mão e recusa-se a trabalhar com GPS, o que acaba por fazer com que, volta e meia, se perca. Tradicionalista, é machista e gaba-se disso. Gosta de falar das conquistas que alegadamente faz quando está no serviço nocturno. Alegadamente porque, como toda a gente sabe, Valdemar ladra, mas não morde. Não dispensa o seu copinho antes de pegar ao serviço e, embora não beba em demasia, evita sempre as operações auto-stop graças aos amigos que tem na polícia.
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