Um cativante ensaio sobre as complexas questões da identidade e da fronteira que nos leva à Europa de Leste
A questão relativa das fronteiras dos territórios da antiga URSS provou ser uma bomba relógio. Extinção é um patchwork eclético de materiais, de ficção e não ficção, pelos quais nos guia Kolya, de nacionalidade moldava, mas que mas que reclama a sua identidade de transnístrio. Fragmentos levam o espectador para o imaginário coletivo da União Soviética.
O filme da realizadora portuguesa Salomé Lamas foi rodado em pleno conflito, durante a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia (2014/2015) e constitui uma complexa reflexão sobre os significados de fronteira, identidade nacional e imperialismo, percorrendo checkpoints entre a Bulgária, Moldávia, Roménia e Ucrânia.
O documentário desenha ainda um comentário abstrato sobre as últimas posições políticas de Vladimir Putin, de “guerra sem guerra, ocupação sem ocupação” e coloca-nos perante a possibilidade de ultrapassar muitas das ideias pré-concebidas sobre a Europa de Leste e a sua história recente, que julgamos cristalizada numa polaridade entre comunismo e pós-comunismo.
Construído como uma trama documental e ficcional, o filme centra-se num pequeno país, a Transnístria, com uma história política e social complexa que evidencia o jogo de forças que ocorre na região, entre a Rússia e os países limítrofes outrora sob a esfera da URSS.
Muito embora pertencente à Moldávia, a Transnístria reclama a sua independência a par de uma integração na Federação Russa, aspiração que não é reconhecida nem pelo Kremlin, nem internacionalmente, o que não impede que exista uma clara ocupação de influência social, política e económica neste pequeno país, por parte da Rússia, criando mais um foco de tensão permanente na região.