Estreia: Quinta, 14 de Novembro às 23:05, na RTP2

25A vida incrível do arqueólogo e resistente antifascista Cláudio Torres, numa minissérie documental de Ricardo Clara Couto e Nuno Costa Santos

 

Insubmisso, contestatário, frontal, criativo, obstinado e sempre revolucionário, Cláudio Torres foi preso ainda na faculdade pela PIDE, por pertencer ao Partido Comunista Português. Suportou com estoicismo os interrogatórios, a tortura, a prisão, uma fuga mítica num barquinho de recreio e o longo exílio, que o levaria da miséria em Marrocos à constatação, na Roménia de Ceausescu, das contradições políticas, da repressão e do subdesenvolvimento dos países comunistas.

Viveu em Paris a euforia do 25 de Abril, que lhe permitiu, enfim, regressar a casa. Em Portugal, mergulhou de cabeça na revolução e teve um papel ativo numa dinâmica de mudança de mentalidades, valores e instituições. Desiludido com a vida académica e indisponível para comprometer a integridade em prol da carreira, fixou-se em Mértola, terra que adotou como sua. Aqui, durante mais de quatro décadas de trabalho, construiu um impressionante legado.

 

 

Partindo da convicção que a cultura deve ser um instrumento de desenvolvimento do território, orquestrou um projeto onde Património, Arte, Tradição, História, Natureza e Investigação Científica se interligam num complexo museológico, capaz de transformar uma terra pobre e esquecida num destino obrigatório para os que admiram a cultura mediterrânica.

Neste filme de Ricardo Clara Couto e Nuno Costa Santos somos conduzidos pela voz e as palavras da mulher que o acompanhou desde os bancos da faculdade, Manuela Barros Ferreira, para descobrir a vida singular desta carismática, polémica e corajosa personalidade da nossa História recente.

Prémio Pessoa 1991, Cláudio Torres é um reputado investigador do mundo islâmico peninsular e figura marcante da política, da cultura e da sociedade portuguesas, desde os anos 60 do século passado. Hoje, com 80 anos, continua a supervisionar o Campo Arqueológico de Mértola, distinguido com o prestigiado prémio Sísifo pela Universidade de Córdova. Continua a transformar em planos, projetos e obras o sonho que o move desde o início dos tempos. Movido pela convicção de quem sabe que a luta, essa, continua. Sempre!

 

 

1º episódio:

Numa estrada do sul do país, Cláudio Torres e Serrão Martins, presidente da Câmara de Mértola, fazem os primeiros quilómetros de uma viagem que haveria de mudar para sempre a vida e o futuro da remota vila alentejana. Mas a verdade é que esta jornada extraordinária começa muitos anos antes, quando um jovem estudante, neto de um monárquico e filho de um comunista, interioriza os valores e os princípios de conduta que haveriam de moldar o seu futuro.

A partir daí, a sua vida será marcada por uma verticalidade intransigente, um apreço sem preço pela verdade e uma vontade indómita de viver segundo os ideais que perfilha. São eles que o levam à militância clandestina na célula de Aveiro do Partido Comunista, às atividades subversivas nas ruas e na Faculdade de Belas Artes do Porto, à prisão, à tortura, à resistência sem quebras. Ao seu lado, encontramos Manuela Barros Ferreira, narradora desta história e testemunha privilegiada da luta sem quartel que o marido travou contra um regime retrógrado, repressivo e autoritário.

 

 

2º episódio:

 

Mais do que uma mera viagem para Mértola, a jornada só de ida de Cláudio Torres reflete a capacidade que este adquiriu de largar tudo, sem olhar para trás. E de abraçar o que encontra pela frente, dedicando-se por inteiro a cada novo desafio. Foi assim que, depois de sofrer a tortura, o isolamento e as agruras da prisão, Cláudio recusou combater na Guerra Colonial e tomou o caminho do exílio. Para isso, viveu uma incrível aventura, ao lançar-se ao mar num barquinho rumo a Marrocos, na companhia da mulher grávida e de outros companheiros, alguns dos quais refratários como ele. Sobreviveram a correntes contrárias, a tempestades homéricas e até à implacável perseguição da polícia marítima franquista, que tentou afundar o barco, e entraram sem pedir licença pelo porto de Rabat a dentro.

Sem um tostão no bolso, o grupo experimentou a fome e a pobreza, mas rapidamente contou com a solidariedade dos que, tal como eles, lutavam contra a opressão e o colonialismo. Neste ambiente, a capacidade de liderança e o dinamismo de Cláudio evidenciaram-se e este depressa se viu envolvido em acontecimentos históricos, como a “Operação Vagô” e o Assalto ao Quartel de Beja, tendo privado com figuras como Humberto Delgado e Amílcar Cabral, entre outros destacados antifascistas.

 

 

3º episódio:

 

Livre de constrangimentos académicos, Cláudio Torres segue viagem para Mértola, enquanto planeia o derradeiro projeto político: promover o desenvolvimento através da valorização da cultura e do património da vila alentejana. Esta visão integradora é construída ao longo da deambulação de Cláudio pelos países de exílio. De Marrocos, guardou um conhecimento do mundo islâmico, que viria a marcar a sua carreira e a tese disruptiva que defende sobre a dominação árabe da Península Ibérica.

Na Roménia, onde durante uma década fez rádio em português para os exilados e estudou História de Arte, alimentou o sonho de um “socialismo de rosto humano”, que viu ser esmagado pelos tanques do Pacto de Varsóvia. Mas apesar da invasão da Checoslováquia ter ditado a rutura com o Partido Comunista, nem por isso determinou a perda de fé nos ideais revolucionários, que se tornaram mais fortes com o regresso a Portugal e a participação ativa no PREC. Quando Cláudio chega a Mértola cumpre-se, por inteiro. E ao fazê-lo ajuda a cumprir também o território a que dedicou quatro décadas da sua vida, a que chama casa e a que o seu nome ficará ligado para sempre.

Ficha Técnica

Título

Cláudio Torres - Arqueologia de uma Vida

Autoria

Ricardo Clara Couto e Nuno Costa Santos

Realização

Ricardo Clara Couto

Intérpretes

Simon Frankel, Daniela Serra, Liliana Leite, Eduardo Frazão, Diogo Andrade, Luís Coelho, Miguel Lopes Rodrigues, Rafael Costa, David Guedes, João Manuel Pinho, Jafar, Filipe Santos, Miguel Rebelo, Gonçalo Lello, José Leite e Daniel Barros

Argumento

Nuno Costa Santos

Música

Pedro Code / Ornatos Violeta

Produção

Clara Amarela Filmes

Ano

2018

Duração

52' | 3 episódios