Criação da bailarina e coreógrafa francesa Maguy Marin que nos obriga a refletir sobre as nossas responsabilidades individuais na agitação coletiva do dia-a-dia
No centro do espetáculo, acusação brutal contra a barbárie comum, o ritmo assume particular relevância, impulsionado por uma música techno empolgante. Três homens e três mulheres são apanhados numa corrente que transmite uma série de estados e situações: da partilha ao desvio, da festa à loucura, da alegria à violência. O título refere-se ao termo informático que descreve a unidade básica de informação digital. Esta pequena palavra dá o impulso rítmico a partir do qual o espetáculo toma forma, numa sucessão contínua de impulsos e tensões, orquestrado no rigor febril de uma dança ao mesmo tempo alegre e desesperada.
Como uma constante na peça, a farândola, dança coletiva transmitida através dos tempos, surge como um motivo recorrente. De forma obsessiva, os bailarinos – quais indivíduos de uma sociedade de emoções díspares – cedem aos movimentos, criando uma dança coletiva e individual que se confunde a todo o momento. Ritmos que se assumem como rituais que o tempo não esqueceu, recordando danças tradicionais e ritos ancestrais, alguns deles macabros. Não lhe faltando crueldade na análise da sociedade contemporânea, BiT leva-nos às profundezas da nossa humanidade e questiona as nossas responsabilidades individuais na agitação coletiva de cada dia que passa.
O espetáculo foi gravado no Toboggan de Décines, em Março de 2016.
Com mais de 40 anos de carreira, a bailarina e coreógrafa francesa Maguy Marin é uma referência internacional da dança contemporânea, reconhecida pela qualidade e inovação da sua obra. Nascida em Toulouse, França, em 1951, no seio de uma família de refugiados espanhóis, estudou dança clássica no conservatório. Influenciada pela obra de Samuel Beckett e discípula de Maurice Béjart, a coreógrafa iniciou nos anos 80, em França, um caminho por territórios que Pina Bausch percorreria, ao mesmo tempo, na Alemanha: uma dança-teatro que nos revela a nossa verdadeira humanidade. Maguy Marin recebeu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza, em 2016, pelo conjunto da sua obra.
«A arte é como uma arma não violenta.» Maguy Marin