A história de uma luta complexa onde morreram milhares de portugueses, num documentário da jornalista Sílvia Alves.
A Alemanha declarou guerra a Portugal em 1916, quando, a pedido dos ingleses, apressámos os navios alemães que se encontravam nos nossos portos. É nessa altura que Portugal organiza e envia o Corpo Expedicionário Português para a Flandres. Mas em África sentia-se o perigo alemão há mais tempo. Os alemães invadiram o território de Quionga (norte de Moçambique) já antes do início da guerra. As aspirações alemãs passavam por uma Mittelafrika que unisse a África Ocidental Alemã (a sul de Angola) à África Oriental Alemã (a norte de Moçambique).
Entre 1914 e 1915, Portugal envia duas expedições a África, em nome do Ministério das Colónias, e não da Guerra, para não provocar os alemães. Todos os nossos vizinhos em África tinham aspirações de expandir o seu território e, apesar de aliados na frente europeia, em África as coisas passavam-se de outra maneira. A partir de 1916, o governo da União Sagrada quer “mostrar serviço” e manda tropas mal preparadas comandadas por oficiais que não conheciam o território africano.
Sem infraestruturas montadas, sem medicina adequada, metade das expedições morreram. Havia leões que atacavam, crocodilos e hipopótamos que matavam. As girafas comiam os postos de telégrafo. A mosca Tsé-tsé atacava o gado; malária, paludismo, disenteria faziam adoecer em poucos dias as tropas, algumas delas vindo punidas e contrariadas de Lisboa. Era o divórcio total entre o irrealismo político e as possibilidades militares.
A União sul-africana cobiçava o sul de Moçambique, os belgas e britânicos tinham as suas aspirações. Uma luta complexa que acabou por se concentrar no inimigo alemão, o brilhante general Von Lettow-Vorbeck, que foi atraindo os aliados para um ponto: para cima de Moçambique.
A nossa Guerra em África mobilizou quase 50 mil homens. Morreram milhares de portugueses, muito mais do que na Flandres. Houve histórias tristes e alguns episódios heroicos.
Há 100 anos, nas reuniões em torno da Conferência da Paz, houve aliados que nos acusaram de não sermos capazes de gerir e desenvolver os nossos territórios em África. Mas Portugal conseguiu manter intactas as suas colónias.