A nova temporada da RTP1 é pretexto para conversar com o diretor José Fragoso. Jornalista, homem da televisão, defende um canal próximo dos portugueses, aberto à criatividade, atento às oportunidades, disponível para o talento e interessado nas tendências mundiais.
Esta quarta-feira, 14 de setembro, foram apresentadas as novidades da RTP1 para os próximos meses. Quais são as suas prioridades para esta rentrée que agora começa?
A RTP1 é um canal de televisão de referência em Portugal pela qualidade nas séries, pelo entretenimento familiar, pela informação rigorosa, pela presença nos grandes eventos desportivos e pela sua cobertura nos grandes festivais e espetáculos de música. A nossa grelha é muito diversificada e, portanto, aquilo que tentamos ter sempre são conteúdos apelativos e surpreendentes.
E o que podemos contar já neste último trimestre do ano?
Vamos ter até ao final do ano várias propostas, algumas delas completamente novas. Vamos estrear “Viagem a Portugal”, onde o humorista brasileiro Fábio Porchat se propõe fazer a mesma viagem que José Saramago fez em 1980 para escrever o livro ‘Viagem a Portugal’. Vamos estrear “Eu Sou Menino Para Ir” com Salvador Martinha, onde o humorista vai cumprir os muitos desafios que lhe foram propostos pelos espetadores da RTP. Ele estará em papéis diferentes a cada semana, podendo ser pescador numa ou árbitro de futebol na outra.
O “Masterchef” regressa com três novos chef’s [Pedro Pena Bastos, Noélia Jerónimo e Ricardo Costa] e no “The Voice Portugal” vamos ter um cenário com muitas novidades e dois novos mentores [Dino d’ Santiago e Carolina Deslandes, que se juntam a Diogo Piçarra e Marisa Liz]. Iremos estrear ainda uma nova série do “Taskmaster”, que foi um enorme sucesso no primeiro trimestre do ano.
Uma nota de destaque também para os 20 anos de Fernando Mendes à frente d’ O Preço Certo, que vão ser celebrados em breve.
Em novembro queremos fazer um grande espetáculo num grande pavilhão que será um momento de consagração dos 20 anos do “Preço Certo” e também do nosso Fernando Mendes. Este é um formato que se tem adaptado bem ao tempo, com um grande apresentador. “O Preço Certo” tem hoje música ao vivo, novos jogos e um estúdio maior desde o ano passado. O público que vê televisão exige também surpresa e novidade ao nosso trabalho e, por isso, tentamos que, à semelhança de outros formatos, haja aqui essa renovação.
A RTP é igualmente palco dos grandes eventos desportivos em Portugal. Os próximos meses vão ser de emoções fortes para os telespectadores?
Vamos ter seguramente grandes eventos desportivos na RTP. Vamos ter o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins e também o Campeonato do Mundo de Futebol. Seremos o canal com mais jogos em sinal aberto do Mundial. Iremos ter com toda a certeza grandes noites de desporto na RTP1 entre novembro e dezembro, querendo nós que a Seleção portuguesa tenha um trajeto o mais fulgurante possível.
Na área da ficção estreia já a 21 de setembro “Cuba Libre” e em breve poderemos ver também “O Crime do Padre Amaro”, “Motel Valkírias” e “Abandonados”. A ficção continuará a ser aposta forte da RTP1?
Sim. A RTP1 é um grande motor da produção audiovisual em Portugal com resultados que são hoje reconhecidos por toda a gente. Nos últimos anos houve uma mudança a nível global no que diz respeito à produção de ficção, que passou a ser vista como uma área estratégica, diria eu. Hoje não há país que não se afirme pela ficção e a Europa é cada vez mais um gigante produtor de ficção. Nessa área, Portugal estava muito fora do mapa e nos últimos anos conseguimos mudar isso. As nossas séries viajam hoje pelo mundo inteiro, quer através de coproduções quer através da distribuição internacional.
Hoje a concorrência é mundial.
Há uns anos a nossa concorrência era doméstica, as nossas séries concorriam contra a novela de um canal comercial. Hoje, os nossos conteúdos concorrem nos mercados internacionais com conteúdos idênticos de países como França, Espanha, EUA, Brasil ou vários países asiáticos. Por exemplo, uma pessoa quando decide ver uma série à noite vai decidir entre uma série da RTP, da Netflix ou de outro distribuidor internacional. Os conteúdos produzidos pela RTP estão hoje num grande “lago” de conteúdos disponíveis ao mesmo tempo e em qualquer língua.
Há uma nova forma de fazer e ver televisão com a internet a ganhar cada vez mais espaço no mercado de consumo, que está mais exigente e segmentado. Quais são os desafios que a RTP1 enfrenta no futuro?
Assistimos cada vez mais à deslinearização do consumo televisivo. Antigamente, eu saía de casa para jantar e sabia que ia perder os programas que dessem na televisão durante esse período. Hoje já não é assim, pois o filme, a série ou o documentário que perco em direto posso recuperá-lo através da box da operadora ou da RTP Play. Esse conforto para o espectador tem uma consequência que é o consumo deixar de ser linear. Além disso, as audiências tradicionais estão numa situação de pulverização, há cada vez mais canais e a audiência está dispersa. À atual audiência linear devemos somar as pessoas que veem os programas através da box ou das plataformas digitais e, nesses casos, estamos a falar de números bastante superiores daquilo que seria a audiência de um programa há 15 anos.
O desafio está em conseguir ir atrás do espectador pelos vários suportes existentes, pensando os conteúdos numa lógica multiplataforma. Ao mesmo tempo devemos garantir que esses conteúdos são atrativos e surpreendentes.