O serviço público de televisão e rádio, representado por centenas de profissionais, continua a merecer o reconhecimento das várias instituições credíveis. A mais recente distinção chega-nos da 17ª edição do prémio de jornalismo Direitos Humanos e Integração, uma iniciativa conjunta da Comissão Nacional da UNESCO e da Presidência do Conselho de Ministros.
A grande reportagem Guardiãs do Sado, emitida no programa Linha da Frente, recebeu o primeiro prémio na categoria audiovisual. O trabalho é da jornalista Sandra Salvado e deu-nos a conhecer o trabalho da primeira cooperativa em Portugal dedicada à proteção do oceano. Numa altura em que se assiste ao declínio acelerado das pradarias marinhas, a Ocean Alive desafiou 18 mulheres da comunidade piscatória do Sado para serem as Guardiãs do rio, contribuindo ativamente para a preservação da biodiversidade deste habitat.
Sandra Salvado aproveitou a entrega do prémio para realçar a importância de ser jornalista nos dias de hoje, “uma das mais nobres profissões, cuja função é a de defender a liberdade, a vida e os direitos fundamentais do ser humano. O jornalismo dá-me o privilégio de me aproximar das pessoas, de dar voz a quem não a tem. Acredito no poder que as palavras têm e hoje, mais do que nunca, se demonstra a importância da sua veracidade”. Quanto à distinção, a jornalista da RTP sente-me “muito honrada” pelo trabalho reconhecido, que por detrás tem uma valiosa equipa, “por isso agradeço muito ao jornalista e repórter de imagem Rui Machado Rodrigues e à editora de imagem Sara Cravina, dois magníficos profissionais e companheiros, sempre disponíveis. Sem eles e sem todos os profissionais com quem já trabalhei na RTP, não teria feito este caminho“.
Também a reportagem “Bebé afegã salva em Portugal” foi distinguida com uma menção honrosa. A jornalista Catarina Cadavez deu a conhecer a história da bebé afegã curada de uma doença cardíaca congénita no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Este trabalho contou com imagem de Rodrigo Lobo e edição de Joana Melo. “Em agosto de 2021, as notícias, relatos e imagens que nos chegavam no contexto da invasão do Afeganistão pelos talibãs eram desoladoras. No meio deste cenário de terror, encontrámos uma história que nos tocou de forma diferente: uma menina recém-nascida marcada pela guerra e por uma doença cardíaca grave. Encontrou em Portugal a esperança que à partida parecia negada: o direito à vida, à paz e à liberdade. Como jornalista foi gratificante ter contado e sensibilizado o público para a importância desta pequena história onde se revela muito do nosso mundo: guerra, injustiça, crueldade, mas também acolhimento sem fronteiras, solidariedade, entrega”, afirma Catarina Cadavez.
A rádio pública esteve igualmente em destaque na edição deste ano do prémio de jornalismo Direitos Humanos e Integração com dois trabalhos distinguidos. A jornalista da RDP África Paula Borges foi premiada na categoria rádio pelo conjunto de reportagens “Bissau: Geração Futuro“, que contou as histórias de quem, à margem da política, tenta construir uma nova Guiné Bissau, mais tolerante e aberta ao mundo. “Neste país tão martirizado por umas dezenas de pessoas que o mantêm refém, há uma Guiné-Bissau riquíssima em cultura, biodiversidade e tradicional tolerância entre grupos étnicos e religiosos. Há quem nunca dela desista e alguns são donos das vozes que se ouvem nesta série Bissau: Geração Futuro“, explica Paula Borges, acrescentando estar muito grata por “destacarem a Guiné-Bissau positiva e, mais uma vez, um trabalho desta rádio – a minha casa profissional e a dos meus companheiros de muitos anos – que é também uma plataforma de comunicação e de afetos entre milhares e milhares de ouvintes“.
Na categoria de rádio foi também premiado, com uma Menção Honrosa, o jornalista Nuno Amaral pela reportagem “Cabo Delgado, a bússola estilhaçada“. Um trabalho que nos revela a crise humanitária vivida no norte de Moçambique desde que começaram os ataques armados de um grupo autodenominado Al-Shabab. São relatos de desespero, mas também de resiliência a partir dos campos de deslocados, onde o repórter da Antena 1 esteve durante vários dias. A essas pessoas, homens, mulheres e crianças de Cabo Delgado, dedica a Menção Honrosa: “esta distinção é para eles, moçambicanos despojados de tudo, que tentam resistir sem telhados, sem pão e sem sonhos. A maioria dos refugiados internos são crianças de memória ferida, muitas sem mãe nem pai, sem escolha e sem horizonte. [Todas elas] à procura de uma bússola que se lhes apresenta estilhaçada“.
O prémio de jornalismo Direitos Humanos & Integração destaca anualmente o jornalismo interventivo e de debate sobre os direitos humanos e das liberdades fundamentais.