Cantata cénica de Carl Orff na versão arrebatadora do coreógrafo Claude Brumachon.
As canções medievais em torno da roda da fortuna, com a sublime música de Carl Orff, foram encenadas e dançadas muitas vezes. Nesta versão de Claude Brumachon, produzida para a companhia de bailado do Grande Teatro de Genebra, os homens que parecem ter escapado do “Inferno” de Dante são submetidos à inconstância do destino à medida que a roda da fortuna transforma a alegria em amargura e a esperança em angústia.
Há mais de 30 anos que o bailarino e coreógrafo francês Claude Brumachon cria obras que combinam o poder inegável do movimento, uma certa sensibilidade gestual e uma humanidade sincera e profunda. Em “Carmina Burana” junta em palco os bailarinos da companhia de bailado do Grande Teatro de Genebra, o Coro Filarmónico de Nice, o grupo vocal Syrinx, o Coro Infantil do Conservatório de Cannes e a Orquestra de Cannes, para uma versão arrebatadora da Cantata cénica de Carl Orff.
Luz e trevas, a obra gira em torno da simbólica roda da fortuna, onde alegria se transforma em amargura e esperança em tristeza. Claude Brumachon procura uma forte ressonância com o nosso tempo e os seus dramas, populações deslocadas rastejando entre a terra e o mar.
Seis deusas iniciam esta jornada em três partes e 25 quadros que percorre a História da humanidade, revelando sem concessão: amor, jogos, poder, vida, religião, prazer, embriaguez… tudo o que incita às mais valiosas paixões, reunidas numa rotina cheia de energia, sensações e virtuosismo.
Contudo, Claude Brumachon não cede aos efeitos nem a uma narrativa que pesaria na música já altamente descritiva. Apenas um esboço estético e um guião gestual básico suportam a peça, que revela a força do desejo e a tragédia de estar no mundo. Escrita a partir de poemas profanos, Carmina Burana toca uma dimensão sagrada mas onde a contradição está em todo o lado.
A diferença entre aparência e realidade dá lugar à mais burlesca e mais simbólica das encenações. Tudo é proclamado num sincronismo mágico que só a dança pode traduzir.
Uma obra-prima que simboliza o capricho e arbitrariedade que comandam a existência humana, gravada no Festival de Dança de Cannes.