Entre a delicadeza e o apocalíptico, um filme de Ana Pissarra e José Nascimento que viaja por Maputo e pela Beira, para registar os pequenos e grandes acontecimentos quotidianos que desenham os espaços pós-coloniais mestiços
Durante a ditadura fascista (1933-1974), um grupo de arquitetos portugueses partiu para Moçambique com o propósito de construir espaços urbanos de arquitetura moderna inspirados nos valores da liberdade democrática defendidos por Le Corbusier.
Grandes peças escultóricas começaram a marcar as cidades de Maputo e da Beira – de cinemas ao ar livre a grandes igrejas e escolas, abrigando edifícios com galerias suspensas, hotéis e cafés, símbolos de uma Utopia Moderna em África. Construídos para serem habitados por uma população colonial branca, de acordo com o padrão urbano europeu, estes espaços tornaram-se, após a guerra colonial que levou à independência de Moçambique em 1976, numa forma de habitação africana.
As casas foram nacionalizadas e a cidade “passou para a mão do povo”. Os colonos urbanos abandonaram o país e, conduzidos pela FRELIMO, chegaram os novos habitantes à cidade branca. Eram negros e traziam uma cultura rural. A cidade passou a chamar-se Maputo. Mas Lourenço Marques iria continuar a viver e a envelhecer dentro de Maputo. Tem hoje um grande valor patrimonial e artístico e, para muitos portugueses, também um valor afetivo. No entanto, recorda valores racistas e pouco a pouco, é demolida pela especulação imobiliária.
Episódio 1: Como uma Ideia Moderna se Corrompe pela Periferia
«Sai um livro em Portugal que diz “A nossa arquitetura em África” e Moçambique pergunta: “Mas afinal, o património é deles ou é nosso?”»
A partir da discussão sobre a herança do património construído no tempo colonial, em Maputo e na Beira, este documentário vai cruzar o modo de habitar europeu e africano, abordando as diferentes perspetivas.
Episódio 2: Que Não Seja o Medo a Baixar a Imaginação
Continuando a viagem em torno do edificado mais notável de arquitetura moderna entre Maputo e a Beira, o filme vai dar voz a estórias privadas que emergem no documentário como memória sensível e que testemunham a dimensão política da história comum entre Portugal e Moçambique.
Episódio 3: Um Círculo, um Quadrado e uma Cruz
Distanciando-se um pouco dos espaços onde só os brancos viviam no tempo colonial, Brisa Solar vai abordar grandes espaços públicos e bairros periféricos, em torno da antiga cidade de Lourenço Marques e onde vive grande parte da população. No epílogo, uma voz que ecoa do passado continua à procura da sua identidade.