O que têm em comum o realizador José Fonseca e Costa e Amílcar Cabral? O mestre do futebol Mário Wilson e o escritor Pepetela? Todos frequentaram a Casa dos Estudantes do Império, instituição que marcou para sempre o destino do colonialismo português.
Com a sua música, os bailes semanais, a sua gastronomia colorida e apaladada, a sua exuberância, a Casa dos Estudantes do Império marcou a vida pacata e recatada dos jovens portugueses. Usaram a cultura (sobretudo a poesia) como arma. E, mais tarde, foram presidentes, primeiros-ministros e figuras de destaque nos novos países designados de PALOP, cuja libertação começaram a preparar exatamente aqui em Portugal, numa casa lisboeta da Avenida Duque de Ávila e nas barbas da PIDE.
Segundo a autora – Margarida Mercês de Mello “era importante que ficasse registado – na 1ª pessoa – como foi que os estudantes universitários ultramarinos viveram esses tempos, aqui na metrópole, onde eles se sentiam desenraizados, mas que marcaram para sempre o seu modo futuro de ser, de pensar e de agir, nomeadamente quando se assinalavam os 70 anos da sua criação. Alguns entrevistei cá e outros em Maputo, como o Presidente Samora Machel, apenas 15 dias depois de ter sido operado aos olhos na Índia. Foi uma longa conversa, muito intensa e comovente. Eu estava ali tão longe, a ouvir aquele que em tempos fora chamado de “terrorista”, a dizer-me de cor as lições da Cartilha João de Deus, que aprendera em pequeno e não mais esquecera! Sinto que fiquei amiga de praticamente todos os meus entrevistados. Foi, de facto, um trabalho que ultrapassou em muito o mero envolvimento profissional.”
Nem todos se interessaram por política ou foram nacionalistas, mas foi sobretudo estes protagonistas do futuro, um futuro que desaguou no 25 de Abril e nas independências das antigas colónias, que o documentário A Casa da Mensagem ouviu.
De diferentes terras, cores e classes sociais, e no entanto irmanada numa maneira diferente de viver, mais aberta e mais alegre, gente desenraizada na metrópole, mas unida pela língua e pelas universidades que frequentava. Uns gostando mais de dançar e namorar e outros de política, interiorizada ou pelo menos aprofundada cá, precisamente na instituição criada por Salazar para perpetuar o conceito de portugalidade e os valores imperiais, ao mesmo tempo que os controlava.
A Casa da Mensagem é um documentário da autoria de Margarida Mercês de Mello, com áudio de António Garcia, produção de Gertrudes Marçal, realização de Rafael Abalada Matos e seleção musical de Margarida Mercês de Mello. Depoimentos de Adriano Moreira, Alberto João Jardim, Fernando Mourão (entretanto desaparecido), Fernando França Van-Dúnem, Fernando Vaz, Hélder Martins, João Cravinho, Joaquim Chissano, Lilica Boal, Luís Cilia, Magui Leite Velho Mendo, Manuel Boal, Manuel Videira, Mário Machungo, Miguel Trovoada, Moacyr Rodrigues, Óscar Monteiro, Pedro Pires, Pepetela, Raúl Vaz Bernardo e Ruy Mingas.
Restante Equipa RTP
Genérico e Grafismo: Nicolau Tudela
Pesquisa: Inês Fonseca
Arquivo de Rádio: Alexandra Fraga, Hélia Tomaz, João Telles e Sónia Ferreira
Documentalistas: Ângela Camila Castelo Branco e Dora Ventura
Digitalização: Tó Vasconcelos
Câmaras: Diogo Soares e Rafael Abalada Matos
Assistentes às operações: António Ferreira e Jaime Silva
Edição: André Almeida Santos
Música do Genérico: Luís Cilia
2015 – 69 minutos