1.Teste – Artigo grande – Telma

Oliveira Salazar, 12 de agosto de 1963 vs. Marcelo Caetano, 5 de março de 1974

 

A ideia de que Portugal não está à venda, as criticas às Nações Unidas, a garantia de que financeiramente a guerra no Ultramar é sustentável e ainda a consideração de que não é possível dar a independência de um dia com o mesmo argumento, ou seja, os povos não estão preparados e os inimigos de Portugal estão à espreita.

  • O que se altera 11 anos depois?

Portugal não está em África por causa de uma missão providencial, sem África o país continuará a subsistir.

O que separava Salazar de Caetano?


(Análise e explicação de Adriano Moreira)

Compare os discursos:
     

 

“Vamos ver se nos entendemos”

Salazar

  • Conceito de Nação e ação civilizadora (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 1)

Diz Oliveira Salazar que “o conceito de Nação é inseparável, no caso português da noção de missão civilizadora” que está muito para além da exploração de riquezas. A ação civilizadora é para Salazar aproveitar os elementos úteis das diferentes culturas, atenuar os divisionismos e rivalidades tribais, fazer com que todos participem no trabalho comum, despertar a “consciência do nacional”, isto é: criar uma pátria que eleve “as gentes ao nível de uma civilização superior”.

 

  • Independência de Angola e de Moçambique (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 2)

“Ouve-se falar, reclama-se lá fora em altos gritos a independência de Angola mas Angola é uma criação portuguesa e não existe sem Portugal”.

Quanto a Moçambique refere que “só é Moçambique porque é Portugal, que o mesmo é dizer: desfeito o cimento que nos liga e que o faz parte da Nação Portuguesa, não haverá mais Moçambique nem na história nem na geografia”.

 

  • Crise no continente africano (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 4)

Salazar refere que os dirigentes são responsáveis pela crise do continente africano que não será resolvida em dois ou três séculos e “havendo-se perdido o comando, nada poderá ser resolvido nem pelo concerto das potências nem pela unidade que se proclama e todos sentem impossível de realizar”. A esta falta de liderança acrescenta os choques morais para concluir que a extensão da catástrofe não é possível de ajuizar. Portugal está no entendimento de Salazar a ser atingido por esta crise num altura em que ainda existem “revivescências de estádios anteriores de evolução, não inteiramente apagados pelo nosso esforço nacionalizar”.

Salazar conclui que esta situação está a ser “impulsionada por estranhos” mas não tem suficiente vigor porque considera que o estado de consciência nacional criado pelos Portugueses se sobrepõe porque de um “benefício” se trata.

 

  • Elemento nacionalizador (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 5)

“A unidade nacional não exige metrópole e territórios” mas adianta, “exige uma capital, um governo, uma política”. Adianta a este propósito que à medida que os territórios progridem e com eles as elites locais também aparecem “forças centrífugas que aspiram à plenitude do poder e ao monopólio das nações”, situação que Salazar considera como “um risco para a unidade da Nação”. Não reconhecendo a sua existência mas admitindo que sim, o presidente do Conselho refere que devem ser combatidas.

Adianta que se este princípio: uma capital, um governo, uma política for respeitado a unidade nacional “é compatível com a máxima descentralização administrativa, na constituição de órgãos locais e na definição da sua competência” em obediência à política nacional. Sem querer aprofundar o assunto, Salazar conclui deste logo que “as grandes províncias ultramarinas são na legislação atual verdadeiros estados administrativamente autónomos, integrados politicamente e para cujas populações se busca uma assimilação de cultura”.

 

  • O multirracialismo (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 7)

“Já começa a ver-se que a única probabilidade de êxito dos novos Estados está em consagrar os mesmos princípios de não discriminação e ou igualdade racial que nós proclamámos e praticámos sempre.” Salazar considera neste discurso que uma sociedade multirracial “é uma forma de vida e um estado de alma” e não uma construção jurídica que só podem “manter-se apoiados numa longa tradição”.

 

  • Lei Orgânica do Ultramar (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 8)

Salazar ocupa vários parágrafos do seu discurso a falar das alterações a este lei que passa nomeadamente a permitir a eleição de deputados das províncias à Assembleia Nacional, para concluir que “é rasgada e vasta a autonomia que consagra” e em certas matérias até excede.

 

  • A Constituição Política

Admite que a Constituição é um texto que pode ser modificado pela vontade popular no entanto adianta que mesmo que as mudanças estruturais sejam aceites pelos povos podem não ser para seu bem, logo não devem ser atendidas.

 

  • Estados independentes de África (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 9)

Salazar considera as atitudes dos Estados Africanos Independentes assentam em “dois postulados: uma definição para uso próprio de território colonial; a reivindicação do direito de proceder à libertação dos povos oprimidos, mesmo que estes, como os portugueses, sejam livres há muito tempo e desse modo dispensem agora ser libertados por outrem”. Refere-se em particular às decisões tomadas pelos Estados Africanos Independentes, 32, reunidos em Adis Abeba (reunião que criou a Organização da União Africana) nomeadamente o corte de relações diplomáticas e consulares, o embargo do comercio, a navegação marítima e aérea, recusa a Portugal de cooperar nos organismos técnicos internacionais. E explica qual a atitude a tomar por Portugal.

Recusando estar ausente das reuniões internacionais, nomeadamente no âmbito das Nações Unidas, Salazar refere que assim pretende alcançar o seguinte objetivo: “Obrigar os adversários com a nossa presença a lançar-se abertamente no campo da ilegalidade, e é dentro desta ilegalidade, isto é, no claro desprezo das normas estatutárias dos organismos, que eles vêm de fato atuando.”

E conclui que com esta atitude há duas possibilidades:

“Ou a formação de uma consciência generalizada de que está a proceder-se mal, retrocedendo-se; ou o reconhecimento de que em tais termos não podem funcionar os organismos cujo maior proveito se pode afoitamente dizer reverte para os países de independência recente”.

E depois de referir que os países africanos não teriam força se não fossem apoiados pelo voto dos governos comunistas, adianta que “África está sendo o campo em que se digladiam dois mundo: nós constituímos apenas ocasião e pretexto”.

Sentindo-se atacado por estes Estados que acusa de levaram a efeito campanhas terroristas, Salazar conclui que “não há possibilidade de discussão nem de mútuo entendimento; e ou se verifica da parte das potências mais responsáveis uma palavra eficaz de regresso ao bom senso, ou não resta a cada um senão o direito natural de defender-se e de defender os seus. Assim começam as guerras”.

“Assegurar a defesa dos territórios que constituem Portugal até ao limite dos nossos elementos humanos e dos nossos recursos, se entenderem por bem converter as suas ameaças em atos de guerra e trazê-la aos nossos territórios.”

 

  • Conceito de territórios coloniais (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 12)

Salazar mais uma vez lembra a definição da Assembleia Geral das Nações Unidas, através da resolução 1541 de 15 de dezembro, sobre territórios coloniais para lembrar que nunca lhe foi feita justiça e adiantar que aqueles que reclamam a descolonização deviam em primeiro lugar definir o termo descolonização, uma vez que no seu entender não existe uma noção precisa “do que em fenómeno tão complexo se contenha”.

 

  • Independência

Considerando que a confusão de conceitos sobre descolonização se estende também à autodeterminação e à independência, Salazar manifesta a sua discordância daqueles que consideram que “deve dar-se a independência imediatamente e depois se verá”, como se a independência encerrasse “em si mesma todas as virtualidades”.

Adianta que há duas graves confusões:

  1. autodeterminação igual a independência
  2. autodeterminação igual a plebiscito.

 

  • As Nações Unidas (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 15)

Salazar volta a questionar a adesão de Portugal às Nações Unidas considerando que só o nº7 do artigo 2 tornou a opção por aderir como definitiva. Neste artigo definia-se que as Nações Unidas não poderiam intervir em assuntos que dependessem essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigar esse Estado a submeter esses assuntos a uma solução nos termos da carta das Nações Unidas.

Salazar destaca a entrada dos membros afro asiáticos na organização com o apoio dos países comunistas como o ponto de partida para se aceitar que o princípio de que a doutrina da Carta.

“É o que em cada Assembleia Geral a maioria definir e de que as Nações Unidas têm competência que em casa momento se atribuam, o funcionamento da instituição passou a ser um risco sério para as Nações que, não se integrando em blocos partidários , fazem parte de minorias inorgânicas, não negoceiam as soluções, não traficam votos, não entram nos conciliábulos dos corredores”.

Assinala, neste âmbito a campanha levada a efeito contra a Portugal por causa das suas províncias ultramarinas. Consideram que apesar de Portugal insistentemente explicar que está a agir conforme os textos da ONU, “as discussões parecem-se bastante a diálogos de surdos”.

Sempre lembrando a possibilidade de abandonar as Nações Unidas, Salazar considera que os interesses vitais das populações não podem estar à mercê de conluios inter-raciais, formulas compromissórias, votos obtidos em combinações escusas, manipulados por dizes emotivos, não inteligíveis nem responsáveis contra Portugal. E por isso reitera que se opõe à ingerência abusiva de terceiros na vida da Nação independente e em defesa da doutrina da Carta.

 

  • As potências

Salazar via no continente africano o grande espaço de competição das “duas mais poderosas Nações – os Estados Unidos e a Rússia – ou de três, pois que a China comunista fez ali a sua aparição.

Salazar deixa claro neste seu discurso que a “a Rússia está por detrás de todos os movimentos de pseudo-emancipação” e que os Estados Unidos com o pretexto de estar a livrar África da influência russa ou comunista o que esta a fazer é “trabalhar e ajudar, com todo o seu poder, a constituir em toda a África Estados independentes, correspondentes às antigas colonias ou territórios integrados nas nações europeias”.

“As duas Nações fazem uma política idêntica, embora aparentemente com fins diversos”, refere Salazar que no entanto aponta a existência de uma diferença substancial.

“É que enquanto a política russa é coerente e lógica, a politica americana contém em si mesma um grave princípio de contradição”. (Ícone de vídeo para pop up: Salazar 18)

Uma contradição que segundo Salazar passa pelo facto de estarem empenhados na defesa da Europa mas simultaneamente provocarem a diminuição do potencial europeu.

Salazar contudo vê nesta “luta contra Portugal em África que tem por palco a ONU e por agentes diretos os países africanos” apenas a repetição de outras lutas que Portugal enfrentou em outras épocas, agora por um motivo político, ou seja a independência de todo o Ultramar. E lembra como a colonização portuguesa foi diferente:

“Historicamente Portugal não tem vivido do Ultramar mas vive para o Ultramar; o desenvolvimento de um território em que a população está fixada para viver processa-se em termos diferentes do dos territórios de pura exploração colonial, em que o colono, cumprida a sua missão, se retira com tudo o que trouxe e com tudo o que ganhou; por fim, não estando as Províncias Ultramarinas Portuguesas fechadas ao emprego de capitais estrangeiros, estes realizaram ali grandes empreendimentos, porque os capitais privados atrai-os sobretudo a estabilidade e a honestidade da administração, praticamente traduzidas na segurança dos investimentos.”

E não deixa de ressalvar que a obra seria maior “se as criticas” fossem substituídas por auxílio financeiro.

 

“Há no mundo duas ideias erradas acerca da nossa causa”

  1. Uns pretendem que acessos de nacionalismo antiportuguês irrompem da política de opressão, que é a nossa em África, como é aqui, como era em Goa, hoje já ‘libertada’ e infeliz na sua libertação(…) Mas ninguém sabe explicar como é que essa política de opressão só dá fritos de terrorismo, e muito raros e pecos, quando o fermento de interesses estrangeiros é introduzido na massa a levedar”.
  2. “Outros cuidam que Portugal vive sobretudo do Ultramar e constituirá para ele ruína total a sua eventual perda. O embaixador da Noruega no último Conselho de Segurança que nos foi dedicado sugeriu mesmo a contribuição dos países ricos para nos indemnizar dos prejuízos e ajudar-nos a montar noutras bases a nossa vida (…) Simplesmente o Ultramar Português pode ser vítima de assaltos mas não está à venda”.

Depois de elogiar a resposta do país e o esforço dos militares, Salazar conclui:

“Diante desta lição eu entendo mesmo que não se devem chorar os mortos. Melhor: nós havemos de chorar os mortos, se os vivos os não merecerem.”

 

Discurso de Marcelo Caetano

Admitindo que o problema mais grave do país é o Ultramar e fase às pressões internacionais que se intensificam, Marcelo Caetano propõe aos portugueses “uma nova reflexão”. No seu discurso passa em revista as “orientações seguidas pelo governo, de acordo com o sufrágio popular e dentro das linhas traçadas na revisão constitucional de 1971”.

 

  • Pressão Internacional

Marcelo Caetano adianta que o objetivo de “uma sociedade pluricontinental e multirracial está a ser perturbada pela crescente pressão internacional adversa”.

Uma pressão que considera está a ser “determinada por preconceitos preconceitos ideológicos, por interesses imperialistas, por solidariedades continentais que cada dia encontra novas maneiras para se manifestar, afastando todos os limites da razão e todas as normas da moral e do direito internacionais. Uma pressão que encontrou nas assembleias constitucionais ou dependentes das Nações Unidas, o ambiente propício de formação, de ampliação, de aplicação e da qual decorre a mais incrível campanha contra o nosso país com a mobiliação de recursos avultados e de poderosas forças e com o uso das mais variadas formas desde a calunia à agressão.”

 

  • Justificação para a guerra (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 1)

Marcelo Caetano considera que Portugal agiu em legítima defesa e recusa a ideia de “virar costas aos territórios ultramarinos” e fazer as malas à semelhança do que aconteceu com outras potencias europeias.

Marcelo Caetano insiste que não pode Portugal deixar de “proteger populações cuja vontade é permanecerem portuguesas, nem deixar de preservar uma obra de civilização erguida e mantida por obra e grande Portugal e que só com Portugal subsistirá”. A obra civilizadora que já Salazar preconizava ao afirmar que o conceito de Nação era inseparável da noção de missão civilizadora “muito para além da exploração das riquezas naturais dos territórios achados”.

Lembra Marcelo Caetano que se Portugal deixasse África todos os que são leais a Portugal independentemente a cor ou etnia “seriam vítimas da vingança inimiga”.

“Uma necessidade moral de preservar vidas e bens.” (Marcelo)

As operações militares em Angola, Moçambique e Guiné são justificadas por Marcelo Caetano como resultado de um processo de legítima defesa perante uma agressão que foi “preparada e desencadeada a partir de territórios estrangeiros”.

“Perante o ataque a vida e fazendas em território português, o nosso dever era conter a agressão, castigar os agressores e tomar as medidas indispensáveis à segurança de pessoas e bens. As forças militares foram chamadas a cooperar nesta ação de polícia, só que o ataque dos adversários foi continuando sobre as formas insidiosas da guerra subversiva e vimo-nos assim envolvidos numa luta desgastante de todos os dias em que fatalmente o inimigo com forças ínfimas embora pode conservar a iniciativa e constantemente vibrar golpes na economia e no moral das populações.”

Diz Marcelo Caetano que as forças militares que “servem na África portuguesa” e que tem “cerca de metade dos seus efetivos constituídos por africanos não fazem a guerra, asseguram a paz, não dominam, não subjugam, não anexam, não conquistam, apenas vigiam e repelem quando necessário a força pela força, proporcionando aos habitantes a possibilidade de fazer normalmente a sua vida, apoiando a sua evolução e progressão social e garantindo o fomento e o progresso dos territórios.”

“O que está em causa é a adesão das almas, não a conquista de terras ou a subjugação dos povos”. (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 2)

 

  • A missão no Ultramar

A missão traçada por Marcelo Caetano passa por “garantir o prosseguimento e o aperfeiçoamento de sociedades onde se não pratiquem discriminações raciais, a consolidação das sociedades multirraciais, a autonomia progressiva do governo das províncias com o respetivo estado de desenvolvimento e os seus recursos próprios, participação crescente das populações nas estruturas politicas e administrativas, fomento dos territórios com ampla abertura à iniciativa, à técnica, ao capital de todos os países, sob a única condição de se proporem valorizar a terra e a gente e não explorá-las.”

 

  • Unidade Nacional (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 4)

Considera Marcelo Caetano que a unidade nacional “não prescinde das variedades regionais”. Numa referencia aos que criticaram o facto de a revisão constitucional de 1971 não ter ido mais longe na concessão de autonomia, o presidente do Governo considera que se avançou ate “onde razoavelmente pareceu que se podia ir”. Fala mesmo de uma autonomia “ampla” que excede as faculdades dadas às federações. E por é que Marcelo mantém esta centralidade, fazendo lembrar a frase de Salazar, uma capital, um governo, uma política? (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 5)

 

  • Mais tempo para deixar as províncias (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 6)
  1. Marcelo Caetano insiste na ideia de que precisa de tempo para potenciar o aproveitamento das riquezas naturais, a criação de infra estruturas, promover a educação, a valorização das pessoas e o trabalho.
  2. Marcelo Caetano recusa a ideia de acelerar as soluções políticas e condena quem está sempre a questionar a solução adotada e sufragada nas eleições de 1969. Considera o chefe do governo que “discutir-se todos os dias a decisão que se executa e a execução do que se decidiu” são trunfos dados aos inimigos. (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 7)
  3. Plebiscito às populações? Não, diz Marcelo Caetano. O chefe do Governo considera errado impor-se à aceitação das populações africanas os princípios da democracia europeia e entre eles inclui o principio da autodeterminação dos povos o direito a pronunciarem-se através do voto. Considera que para povos que na sua maioria não ultrapassaram o estádio da organização tribal isso não faz sentido. (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 8)

Uma ideia que Salazar já preconizava quando referia que a liberdade dos povos de África era “reivindicada como direito contra a vontade dos próprios, com algum escândalo dos que se cansam a fazer votos por que se baseie numa autodeterminação qualquer”.

Uma referencia às Nações Unidas que se pronunciou pela independência imediata “e depois se verá”. Salazar referiu que os povos não estavam preparados.

 

  • As Nações Unidas (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 9)

Tal como Salazar, também Marcelo Caetano critica fortemente a posição da organização por todos os anos votar uma moção que preconiza o reconhecimento por Portugal da autodeterminação e independência dos territórios portugueses em África. Adianta mesmo que se o país decidisse fazer um plebiscito perante as Nações Unidas não teria qualquer valor porque a organização, segundo Marcelo Caetano só considera legítimos os resultados “que corram ao sabor dos seus desejos”. E nesta intenção das Nações Unidas, Marcelo Caetano inclui o inimigos de Portugal.

“As poderosas nações imperialistas que manobram os movimentos ditos de libertação para conseguirem os seus objetivos próprios”. Reitera que estes é que são os inimigos e não “as populações locais que continuam fiéis a Portugal”.

E por isso, Marcelo Caetano conclui que não há negociação possível com os grupos que apelida de “movimentos terroristas”. Porque no seu entender negociações só podem conduzir a um fim: a entrega das províncias ultramarinas.

Admite o “regresso dos terroristas à sua terra” e até a sua “reintegração na pátria portuguesa” e ainda a aceleração do processo de participação dos naturais das províncias na sua administração mas coloca de parte qualquer acordo com os movimentos independentistas.

 

  • Situação financeira (Ícone de vídeo para pop up: Marcelo 12)

Apesar do esforço de guerra, Marcelo Caetano garantia que seu discurso que as finanças publicas não se ressentiram das despesas que o pais tem sido obrigado a fazer e por isso o orçamento continua equilibrado.

E reitera que as províncias não estão à venda:

“Não será por falta de dinheiro que nos venderemos ponto e que para resistir não haja falta de vontade”

Uma ideia já defendida por Salazar a propósito das investidas internacionais: “Simplesmente o Ultramar português pode ser vítima de assaltos mas não está à venda”.

Em concreto sobre as finanças do país, Oliveira Salazar em resposta aos críticos referia no seu discurso que as despesas estavam a ser cobertas pelo excesso de receitas ordinárias. Chamava-lhe o “milagre” da “nossa administração”. Lamentava apenas que tais somas não pudessem sem aplicadas em benefícios materiais e de cultura.

 

Adriano Moreira – Ministro do Ultramar de Oliveira Salazar de 1961 a 1963

A informação que chegava ao gabinete do ministro do Ultramar “era infernal”, era “uma coisa de morrer”. O povo não sabia ao certo o que estava a acontecer. Só algumas elites da universidade percebiam o que estava a acontecer no Ultramar.

“Compreendi a urgência de substituir o conflito de culturas não tratando com tolerância mas com respeito.”

Admite que as reformas que encetou já chegaram tarde porque já havia registo de violência em Angola. Salazar “até determinado momento nunca impediu nenhuma reforma” e que “modificar-se era uma grande prova de capacidade intelectual”.

 

“Foi um período de sacrifício de convicções”

“Entre a guerra de 14 e a de 39 45 tornou-se evidente que cada nação tinha direito a ser um Estado o que significou o fim dos impérios europeus (…) verdadeiramente o que ficou foi um império euro mundista repartido entre Holanda, Bélgica, França, Inglaterra e Portugal. (…) foram anos demais e recursos de menos que acabaram num acordo militar.”

Referindo-se a Salazar: “Ele até acabar viu a Europa como a tinha visto em estudante e portanto há que resistir”. Em termos pessoais era uma pessoa que “não tinha a ambição do poder e quando aceita o poder é para conservar mas sem interesse pessoal”.

Sobre a pressão das potencias internacionais refere Adriano Moreira: “A luta jurídica apenas encobria reais politicas que se queriam seguir.”

“Eu pus em liberdade o Agostinho Neto do qual eu só sabia que era um bom poeta.”

Lembra: “É evidente que as reformas que eu fiz feriram muitos interesses estabelecidos”.

E quando foi chamado por Salazar ao Forte de São Julião ele disse-lhe: “As reações que eu estou a sofrer são de tal ordem que não tenho a certeza de poder continuar a ser presidente do Conselho e portanto decidi mudar de política. Eu respondi: Vossa excelência acaba de mudar de ministro e ele responde: Eu já esperava que me dissesse isso”.

“Quem era dono de concessões, de terras para culturas obrigatórias perdeu fortunas.”

Reconhece que quando saiu do governo já tinha a “impressão que estávamos a aproximar do fim”. Uma sensação partilhada por outros como o Almirante Sarmento Rodrigues o último governador branco que nomeou antes de deixar o Governo. (Ícone de vídeo para pop up: Moreira 7)

A atuação de Marcelo Caetano “foi limitada pelas suas convicções e sobretudo porque as resistências do pais já estavam bastante gastas”. (Ícone de vídeo para pop up: Moreira 8)

“Não quis voltar a Portugal. Ficou no Brasil. Foi muito respeitado.”

(sobre Marcelo Caetano)

 

Fernando Rosas, professor universitário

O discurso de agosto de 1963 destinou-se a por fim à ideia de que havia possibilidade de chegar a acordo com os norte-americanos.

Com o decorrer da guerra, a noção de Império que Salazar transmite é diferente.

“Perante um mundo bipolar entre os Estados Unidos e a União Soviética , a Europa só tinha possibilidade de subsistir desde que tivesse a coragem de preservar a sua retaguarda colonial.”

A cedência em África dá-se sobretudo seguir à crise do Suez em 1956. Salazar percebe o drama da retirada das forças europeias e lamentou o facto de “a Inglaterra e a França terem capitulado perante a questão do Suez”. A vaga das independências começa nesta altura. O Portugal salazarista não ficou totalmente sozinho no início. A França ainda mantém Argélia e o Congo até meados de 60. Depois é que “Salazar fica orgulhosamente só.”

No discurso de 63, o que “Salazar oferece aos portugueses é uma guerra interminável”. Ainda admite um conjunto de reformas e por isso chama o Adriano Moreira para fazer algumas reformas “contra os aspetos mais escandalosos do regime colonial” mas o próprio é travado porque Salazar precisa do apoio dos colonos brancos.

Legenda: As reformas do Adriano Moreira podiam fazer sentido 10 anos antes

As outras potencias anteciparam a descolonização “cederam” a independência. Salazar tal como Caetano viria a fazer para a Guiné, recusou sempre render-se com o pretexto de que isso seria abrir um precedente. A existência de uma ditadura em Portugal prolongou a guerra.


Legenda: O cansaço da guerra vai acabar por se manifestar nos oficias intermédios

Marcelo Caetano não preconiza “um puro colonialismo da política ultramarina do salazarismo”. Marcelo defende que não está em África por causa de algum tipo de missão providencial ou porque Portugal não subsiste sem as províncias ultramarinas. Marcelo Caetano defende que Portugal permanece em África porque é preciso garantir a defesa dos portugueses que estão lá. Marcelo Caetano ao colocar a questão neste termos também deixa perceber que se trata de uma questão negociável.

A estratégia na revisão constitucional de 71 já é um pouco essa preparar as independências brancas. Debatia-se com um drama político emocional muito grande.

Não queria ser o coveiro do Império e por outro lado tinha a consciência que a guerra não se conseguia aguentar.

Marcelo Caetano nos últimos três meses de governação já era um homem sozinho.

No plano internacional a situação também só foi piorando. A autorização para a operação “Mar Verde” não ajudou. Mesmo assim Caetano contou com da administração norte americana de Nixon, a França de De Gaulle em França e a RFA de Willy Brandt.

Qualquer solução que Marcelo Caetano encontrasse vinha fora de tempo porque iria prolongar a guerra. Só havia uma solução que era negociar e isso Marcelo não queria.