1.O início da guerra em Angola
por Luís Marinho

De todas as províncias ultramarinas, Angola foi aquela que registou um maior aumento populacional desde o fim da Segunda Guerra Mundial. De acordo com a historiadora Cláudia Castelo (2007, p.97 e 143), entre 1940 e 1960 a população branca neste território terá passado de 44 mil para 172 mil pessoas. Só entre 1945 e 1959, terão entrado por via marítima em Angola mais de 172 mil indivíduos oriundos da metrópole, valores que tenderiam a aumentar durante a década seguinte (Idem, p.177). Fatores como o crescimento económico e a política de colonização promovida pelo Estado terão contribuído para este fenómeno. Os relatórios dos governadores distritais disponíveis no Arquivo Histórico ultramarino atestam alguns dos progressos materiais promovidos pelo governo português durante os anos 50.

 

Edifícios públicos em Carmona, distrito do Congo. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino, Relatório do governo do distrito do Congo referente a 1957. MU_ISAU – A2.050.05/034.00207

 

Porém, e porventura em consequência deste desenvolvimento, Angola haveria de ser também o palco da primeira resistência armada ao colonialismo português. Desde os finais dos anos 40 que figuras como Viriato Clemente da Cruz haviam fundado movimentos intelectuais com vista a debater a autonomia do território. Em 1953 é criado o PLUA (Partido de Luta Unida dos Africanos de Angola), o primeiro partido a reivindicar formalmente a independência angolana. Em 1956, o PLUA juntar-se-ia ao Partido Comunista Angolano para formar o MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola. Em 1954, Holden Roberto, um angolano emigrado no Congo que durante anos trabalhara para o Ministério das Finanças belga, criava a UPNA (União dos Povos do Norte de Angola). Quatro anos depois, este movimento daria origem à UPA (União dos Povos de Angola).

Desde finais de 1950 que os Estados Unidos mantinham conversações com Holden Roberto.  Aproveitando o facto do líder da UPA – União dos Povos Africanos – se encontrar nos Estados Unidos para assistir às reuniões da ONU, William Wight do Bureau dos Assuntos Africanos reuniu com Holden Roberto para perceber os seus propósitos. Na altura a Administração norte americana não quis comprometer-se com qualquer tipo de apoio mas a ligação manteve-se. E quando John Kennedy assume o poder a 20 de janeiro de 1961 já depois do eclodir da guerra em Angola, há muito que os norte-americanos subsidiavam a UPA.

Simultaneamente os Estados Unidos continuavam a pressionar na frente diplomática ao ponto de no dia 15 de março de 1961 nas Nações Unidas ao lado da URSS condenarem a repressão que se seguiu ao ataque às prisões de Luanda na madrugada de 4 de fevereiro por parte de nacionalistas angolanos.

Segundo José Freire Antunes, Salazar teria sido avisado pela CIA de um ataque da UPA no norte de Angola  a coincidir com o debate sobre Angola nas Nações Unidas. O chefe do Governo não confiou na informação.

Isolado internacionalmente e a enfrentar alguma contestação interna, a posição norte americana não caiu nada bem acabando por se gerar uma contestação aos Estados Unidos na imprensa e nas ruas que foi favorável a Salazar.

Sem qualquer abertura por parte do regime, o recurso à luta armada tornou-se inevitável.

Aliás, as forças armadas portuguesas estavam já a preparar-se para o conflito, como prova o “estágio”, no ano de 1959, de seis oficiais portugueses com o exército francês, na Argélia, onde se vivia uma guerra para a independência da colónia francesa, que se concretizou em 1962, após um conflito de oito anos.

Durante um mês e meio, os oficiais portugueses observaram a estratégia de contraguerrilha do exército francês no terreno. No relatório que elaboraram para as chefias militares em Portugal, os oficiais não tiveram dúvidas em afirmar que o exército português se devia preparar, com urgência, para uma guerra subversiva.

O primeiro sinal de um conflito que haveria de durar 13 anos registou-se no norte de Angola, distrito de Malange, na Baixa do Cassange.

No dia 4 de janeiro de 1961 milhares de agricultores da antiga Companhia Geral de Algodão de Angola, Cotonang recusaram-se a trabalhar num protesto contra a exploração a que estavam sujeitos. Os produtores eram obrigados a vender o algodão a empresa a preços ridículos. O rendimento anual de uma família indígena variava entre os 2o a 30 dólares. Como refere um relatório militar de fevereiro desse ano, a sublevação dos trabalhadores fora “motivada pela miséria” em que estes viviam e pelos “maus tratos e opressão” a que eram submetidos pelos funcionários da Cotonang, apoiados pelas autoridades administrativas.

Dias antes já tinha existido outros episódios isolados e a PIDE encontrava-se no local a fazer interrogatórios. Os militares presentes pertenciam a 3ª Companhia de Caçadores Especiais.

No dia 11 de janeiro a situação agrava-se com a chegada de alguns emissários da UPA provenientes do antigo Congo Belga.

Os acontecimentos na Baixa do Cassange prolongam-se até março mas logo a 6 de fevereiro um loockeed PV-2 Harpoon bombardeia a região com napalm. O número de mortos não é certo, variando entre as dezenas e os milhares.

No entanto, o MPLA atribui o início da chamada “revolução nacional” não a Cassange mas ao ataque às prisões de Luanda na madrugada de 4 de fevereiro por parte de nacionalistas angolanos.

Motivados pela possível chegada a Luanda do navio Santa Maria desviado pelo capitão Henrique Galvão e pela presença de vários jornalistas estrangeiros os nacionalistas prepararam ataques às principais prisões de Luanda, onde se encontravam presos muitos outros nacionalistas.

A acção decorreu de madrugada de 4 de fevereiro mas foi rapidamente neutralizada pelas forças policiais  que estenderam a sua repressão à população negra.

No dia 15 de março, tal como a CIA tinha dito e tinha feito chegar a informação a Salazar, a UPA ataca dezenas de fazendas de café no norte de Angola são atacadas em simultâneo. Os ataques provocam 800 mortos portugueses e africanos.

Esta ação poderá ter sido determinante para o governo português perceber que a revolta estava em curso e a nível internacional as exigências de independência não iam cessar.  Mas mais do que isso iria contagiar os outros territórios ultramarinos.

Em abril na sequência do golpe de Botelho Moniz, o presidente Amério Tomás, dá a Salazar a pasta da Defesa, nomeia Adriano Moreira para ministro do Ultramar e o Brigadeiro Mário Silva para ministro do Exército. Muda ainda o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas cargo que passa a ser ocupado pelo general Manuel Gomes Araújo.

Salazar fica assim rodeado de pessoas de confiança para poder centrar-se no combate à sublevação político militar no norte de Angola, e naquilo a que chamou o “irredentismo suicida das parcelas” que constituem Portugal.

Em julho de 1961 os militares avançam para Nanbuangongo para combater a ação da UPA. A “Operação Viriato”. Portugal dá por finda a guerra.

PESQUISA POR OPERAÇÃO VIRIATO – IR BUSCAR AO ARQUIVO “OPERAÇÃO Nanbuangongo” 6/11/2007 – 57.25  10.01.23 até ao fim – (É UM DOCUMENTARIO DO JOAQUIM FURTADO)

Como se posicionou o Exército, a Marinha e a Força Aérea em Angola desde os primeiros tempos?

A operação Viriato marca a atuação do Exército em Angola. No ano de 1961 os meios aumentam consideravelmente. Explicações do Tenente Coronel Abílio Lousada:

6430132 04 – começa aos 1.46 e vai ate aos 3.36 cola com o clipe 5 dos 2.36 aos 5.52

Relativamente à Marinha as explicações do Vice-Almirante Leiria Pinto:

6430133-01 aos 13.54 cola 6430133-02 ate 4.20

E na Força Aérea o que aconteceu a partir de 1960 com a chegada de quatro aviões “Auster”? As explicações do Major General Ricardo Cubas:

6430130-02 começa depois da pergunta aos 2.02 ate 7.30 (aos 4.31 bebe agua) cola aos 9.46 e ate aos 13.07

A guerra iria começar na Guiné em 1963 e a Moçambique em 1964.

Portugal perde a Fortaleza de São João de Ajudá

Porém muito antes, logo depois do início da guerra em Angola e antes da perda dos territórios indianos, a 1 de agosto de 1961 Portugal perde o forte de São João de Ajudá. O pequeno enclave com 4,5 hectares, uma das colonias mais pequenas do mundo, é invadido pelas forças de Daomé (atual Benim) que exigem a retirada dos dois únicos residentes: Agostinho Borges e Meneses Ayres. Os dois batem em retirada, porém antes de partir incendeiam as instalações e deixam o forte a arder.

A fortaleza foi fundada em 1680 pelos portugueses, no reinado de D. Pedro II e durante muitos anos serviu como entreposto comercial sobretudo ao negócio da escravatura. Com a proibição britânica de trafico de escravos e a abolição da escravatura em Portugal a fortificação perdeu relevância. Em 1858 acabou mesmo por ser abandonada pelos portugueses e foi cedida pelo rei de Daomé aos missionários franceses. Mas em 1865 os portugueses voltaram a recupera-la ficando sob administração do Governador de São Tomé e Príncipe. Em 1892 Daomé tornou-se numa colónia francesa. Em 1911 com a República foi retirada a guarnição militar que ali estava por causa das invasões inglesas e foram destacados dois funcionários. Em 1921 viviam no forte 5 pessoas. A 1 de Agosto de 1960 Daomé torna-se independente e passa a chamar-se Benim. Sem forma para defender o enclave, Salazar dá ordem para incendiarem e partirem. Portugal só reconheceu a anexação depois do 25 de abril.

(Há uma peça da Helena balsa de 1990 quando o forte foi inaugurado depois da recuperação feita pela Gulbenkian)