A pouca informação que tínhamos sobre um dos convidados que iria dar uma das melhores masterclasses (digo isto pois foi das poucas em que ficámos muito mais tempo depois da hora de abalar da RTP, que é sempre tardíssimo). Academistas a tentar fazer o trabalho de casa enquanto o Gonçalo se prepara para o que aí vinha. Tudo no IMDB a pesquisar. Mas quem é este senhor, bem apresentado, estiloso? Hmmmm… Produtor executivo, era a única informação por parte da RTP. Mas que mistério…

Primeira pergunta: “alguém sabe quem eu sou?” “Claro (pensámos nós), filho da Luísa Castel-Branco e irmão da Inês Castel-Branco” (senhor, perdoai a nossa santa ignorância mas ela ás vezes é nossa aliada para nos surpreendermos). “Tenho IMDB?” pergunta-se Gonçalo admirado. E com esta primeira impressão ficou marcado o tom para as próximas alucinantes horas.

Gonçalo começou por nos dizer que o importante para ele é contar histórias independentemente do meio (se televisão, teatro ou até mesmo um restaurante) tudo tem que contar uma história que as pessoas vão gostar ou não. Gosto que desenvolveu como técnico publicitário de cinema (trabalho que a mãe lhe arranjou para o tirar de casa sendo que ele era expulso das escolas onde andou). Tecnicamente tem o 9º ano, mas conta com uma lista de feitos infindável para alguém que começou uma carreira de 20 anos, aos 16.

Vou resumir muito rapidamente algumas das conquistas do Gonçalo para que o leitor possa ter um vislumbre daquele comboio (private joke, explico mais para o fim) que nos atropelou.

Lembra-se da loja de roupa da Yorn no Chiado? Be Happy Go Naked diz-lhe alguma coisa? O jovem de 20 anos do Gonçalo teve a ideia de oferecer roupa a quem aparecesse todo nu nessa loja, uma campanha que provou ser um sucesso em colocar a mesma no mapa. Após contratar 10 pessoas para irem nuas, foi surpreendido pelas 1800 que apareceram de espontânea vontade (portugueses nós sabemos que temos um lado crazy e wild, mas menos) tendo sido o pitch mais rápido da vida dele.

Já repararam em como os festivais são mais do que um palco com música, mas toda uma feira popular mirabolante? O culpado? Acertou, foi o Gonçalo que aplicou o conceito no palco da Vodafone no primeiro Rock In Rio.

Depois disto foi pai, criou a Action4 e continuou a destruir os festivais. Criaram os sapinhos de choque, passando para o Sudoeste. No aniversário da SIC teve a ideia, vinda de um filme, em criar uma Parada na Avenida da Liberdade onde fez um direto de 8h, trouxe balões a hélio de 15m de altura, elefantes, hipopótamos e leões vindos de Espanha, floats com elencos e bandas a tocar ao vivo e conseguiu tudo isto em 30 dias! Nunca disse a palavra ‘impossível’ e conta como sempre teve ideias maiores do que aquilo que seria possível e por isso explicou-nos como tornava as suas ideias executáveis.

Deu-nos dicas de ouro: “se não disserem a verdade não têm valor. O nosso melhor asset é dizer aquilo que mais ninguém diz” e em como é super importante gerir a expectativa do staff.

Ao fim de uma hora pede-nos para controlar o tempo e para avisar se se tiver a esticar. A resposta foi unânime: vários nãos.

Falou ainda sobre a responsabilidade sobre decisões e resultados de projetos e surpreende-nos mais uma vez (Oh God! Não!) ao contar que começou a trabalhar em política. Em 2012 era sócio de uma empresa com 300 pessoas, tinha uma vida ótima como diretor de comunicação digital do governo português e largou tudo, enchendo uma mala de ténis e camisolas, ao dizer que vai servir cafés para campanha do Obama porque tinha a certeza que em três meses na campanha ia aprender mais a servir cafés do que cá, a trabalhar para um responsável de “não sei do quê”.

Para terminar, falou-nos do seu bebé (não o que aí vem para um mundo frio e cruel – ironia) mas do seu comboio The Presidential. O comboio que foi usado por todos os nossos reis e presidentes, sendo que a última vez que foi utilizado foi no funeral do Salazar. Claro que para o Gonçalo isto só podia ser uma deixa para uma das suas ideias mais loucas (ou será que não? são tantas!). Decidiu então, inspirado pela filha, em tornar este comboio na “mais espantosa experiência gastronómica do país”, trazendo “os maiores talentos culinários do mundo aos cantos mais bonitos de Portugal” num comboio de museu! #gottaloveit (uma cena nossa, academistas)

Concluiu salientando (pela milionésima vez) que o fator sorte é muito importante (o que nos deixou muito mais motivados, cof cof) e deu-nos mais uma dica para os nossos projetos, para analisarmos o que está mal e ver o que podemos fazer de diferente e nunca ter vergonha.

Bem, acho que depois disto tudo já podemos atualizar o IMDB do Gonçalo porque após duas horas e quase meia a ouvir todos estes projetos em modo non stop e uma paixão pela vida que é o Gonçalo, já dava para ver alguns colegas em estado vegetal a babarem-se. “Obrigado Gonçalo, sentimo-nos muito melhor com as nossas vidas” pensámos nós pelo canto da boca.

Confessamos que a nossa pesquisa não foi muito profunda, mas àquelas horas pouca coisa pode ser aprofundado pois, mais tarde após uma pesquisa ainda mais fútil, descobrimos o revés das revistas em que o Gonçalo vai parar quando só quer mesmo mostrar o seu trabalho e contar histórias sem ser o centro delas. Marias de todo o mundo: Deixem o Gonçalo em paz, sim? Ele é uma boa pessoa que só quer servir cafés e nós, Academistas, depois desta masterclass inspiradora, queremos ser baristas.

 

Diana Silva, academista