Devemos falar com os nossos filhos acerca dos atentados de Paris? A partir de que idade as crianças estarão prontas para ouvir falar sobre estes assuntos?
- Uma criança de 3 anos já tem noção do que se passa à volta dela, do que os adultos falam e do que ouve, seja na TV ou na rádio. Não temos por isso nenhum interesse em não explicar o que aconteceu. Porquê? Porque é importante que a criança, sobretudo se houver algum tipo de ligação – há muitas famílias que têm familiares em França e que estão por isso ainda mais preocupadas – saiba o motivo da ansiedade dos pais ou da sua tristeza e consternação.
Mas devemos explicar tudo? O que dizer? O que não dizer?
- Devemos explicar qb, sem entrar nos detalhes mórbidos que ninguém precisa. De resto deveremos ser factuais e claros. Se a criança nos abordar, devemos pegar logo nessa deixa e perguntar-lhe o que é que ela já sabe, o que ouviu e onde ouviu. E pode ser que ela saiba e diga ou espere que falemos. Seja nessa circunstância ou na circunstância em que nós vamos falar, devemos sempre começar pelas perguntas:
- Sabes o que aconteceu na passada sexta-feira, em Paris? Porque desde sempre existiram formas de pensar diferentes e tu sabes disso. Só que há pessoas que não suportam que outros pensem diferente deles – acham que toda a gente tem de pensar, gostar de tudo igual. E como não suportam essa ideia, então decidem matar os que eles acham que estão contra eles – e foi isso que aconteceu.
- Depois devemos esperar pelas perguntas. Podemos ter questões como quem são essas pessoas – os terroristas – se nos vamos cruzar com elas, enfim… e deveremos responder a todas as questões sem medo?
- E depois explicar o porquê, até porque é a pergunta que a criança vai colocar. E então vamos ao porquê.
- Na sexta-feira, em Paris – e podemos mostrar um mapa até, se quisermos – aconteceu uma coisa trágica. Alguns homens armados mataram outras pessoas que estavam a jantar e a divertirem-se.
É importante passarmos uma mensagem de esperança?
- É fundamental que essa mensagem seja passada! É fundamental que se diga que muitas pessoas foram salvas por médicos, por polícias e por outras pessoas na rua. E é fundamental que se diga que todos devemos lembrar-nos de ser tolerantes uns com os outros e que a liberdade é algo precioso. Podemos explicar como era antes quando não havia tanta liberdade, falar dos valores fundamentais – é uma excelente oportunidade.
E se a criança ficar com medo? E se ela ficar tensa, o que fazer?
- Eu fiquei tensa, com medo. E penso que todos ficámos. É normal que ela se sinta assim. Então está na altura de lhe colocar questões. ‘Estás com medo que isso aconteça aqui? Bom, é pouco provável e tenho a certeza que todas as pessoas estão a fazer tudo para nos protegerem.’ Dar abraços, confirmar que também ficaram com receio… e que por isso é importante falar sobre o assunto.
E se a criança quiser saber mais ou tiver visto imagens que não devesse ter visto ou ouvido coisas que não deveria ter ouvido?
- Mais do que nunca, é necessário que se fale sobre este assunto – que expliquem o que viram, o que sentiram e que esses vídeos ou imagens são de tal forma chocantes que não querem que os voltem a ver porque não trará nada de benéfico para a situação.