1. A felicidade herda-se?

Sim, há autores que defendem que a felicidade se herda. Na verdade, e ao que parece, herdamos 50% de propensão para sermos felizes. 10% tem a ver com a sorte (de herdarmos esses 50%, do sítio onde nascemos, etc) e 40% é atividade intencional, o que quer dizer que temos livre-arbítrio para decidirmos quem queremos ser e como é que queremos ser, apenas se trabalharmos essa transformação em nós.

 

  1. Como é que pais que não são felizes podem / conseguem ensinar / ajudar os filhos a serem felizes?

Talvez seja uma das coisas mais difíceis de fazer, porque implica muita força de vontade, transformação e dor de deixar os padrões de comportamento antigos de lado. Mas talvez seja isso que nós devemos aos nossos filhos: a objetividade de tratarmos da nossa felicidade, de forma séria. Esse é o nosso maior dever para com a nossa família. É ingrato dizer que não fiz isto por causa dos miúdos ou que adiei algo por causa deles. Isso significa apenas que não se teve a coragem de o fazer ou se tomou essa decisão. As crianças, na maior parte das vezes não foram tidas nem achadas nessa decisão. A felicidade é por isso um ato de coragem e nunca, nunca, de egoísmo.

Na verdade, deveria estar na constituição a obrigatoriedade de cada um tratar da sua própria felicidade. Quando já não o sabemos fazer isso pode tornar-se perigoso para todas as relações. Portanto, a melhor forma que temos de ensinar aos nossos filhos acerca de felicidade é colocando-a nossa à frente. Pais Felizes = Filhos felizes.

 

  1. Há pais que fazem tudo pelos filhos, dando-lhes tudo. Devemos dar tudo, tudo permitir? É assim que se faz felicidade?

A felicidade não está nas coisas e sim no valor que damos a essas coisas. Tudo permitir e tudo dar apenas retira a nossa capacidade em dar valor a tudo isso. Por isso a minha resposta é clara e penso que de bom senso. Não devemos dar tudo, não devemos remediar tudo. Imaginemos que o seu filho parte a caneca favorita do pequeno-almoço dele ou perde a carteira onde guardava os cromos para trocar. Ou ainda que não conseguiu chegar a tempo de comprar o bilhete para ir ao cinema com os amigos. Eu não preciso de o salvar ou remediar a situação. Não preciso de ir comprar a caneca ou mais uma carteira de cromos nem preciso de procurar arranjar alternativas àquela saída que ele ia ter nem sequer consolá-lo dizendo ‘deixa lá’. Preciso apenas de acolher os sentimentos dele em relação àquela experiência e deixá-lo encontrar as estratégias internas para ele próprio se salvar e confirmar o que de mais importante há e que é a certeza que ele sobrevive a tudo isto.

 

  1. Qual deve ser o papel dos pais, quando ensinam felicidade?

Os pais não só modelam a felicidade – quando tratam da sua – como também criam experiências para se experimentar felicidade. E estas experiências são de duas formas – a forma como se aprende a ver o que se viveu, mesmo tendo sido aparentemente uma coisa má (quando por exemplo se retira aprendizagens); e o debate que é feito. E este debate prende-se com o pensamento, a reflexão, a atitude crítica e ponderada e que cada vez mais, infelizmente, se está a perder. Os pais e todos os adultos continuam a ser uma grande influência e não podem nunca recusar isto. Estou muito convencida que, no futuro, os miúdos mais felizes são aqueles que conseguiram esta atitude filosófica e de reflexão sobre os assuntos porque estarão a viver e não em cópia do que vêm nas redes sociais, por exemplo.