“A Nossa Senhora de Fátima foi o diabo que apareceu à Nossa Senhora da Nazaré!”, desesperava um velho padre da região. A partir dos anos 20 do século passado, as romarias aos santuários marianos em Portugal esvaziaram-se a favor da emergente, da espetacular Senhora de Fátima. O mesmo acontecera já ao Bom Jesus do Monte, em Braga, a favor da Nossa Senhora do Sameiro. A renovação de que o Bom Jesus foi objeto a partir de finais do séc. XIX tem a ver com isso mesmo: com a necessidade de relançar o Bom Jesus cada vez mais ameaçado/esvaziado pelo santuário do Sameiro. Mas a “atualização” do Bom Jesus assumiu aspetos paradoxais: o elevador/funicular (peça incrível da engenharia oitocentista) ofereceu-se como alternativa aos escadórios – ou seja, a dimensão sacrificial do santuário passou a ser (!) facultativa. E depois, na linha da máxima qualificação do parque hoteleiro do monte sagrado, o Bom Jesus vê-se beneficiado com um… casino! Como bem dizem os nossos convidados Teresa Andresen e Eduardo Pires de Oliveira: “não há um Bom Jesus, há muitos Bom Jesus…”