Jorge Gaspar é o tipo de interlocutor que adoro. No seu discurso, tudo remete para tudo. A propósito de uma oliveira, entram fenícios e gregos e romanos e visigodos e muçulmanos. Abre parêntesis e entram os judeus que já cá estavam, neste território, antes de na Palestina terem crucificado Cristo. E os bárbaros que faziam rituais pagãos no promontório do Cabo da Roca. E entra a Toscânia com as suas alamedas de ciprestes e a invenção da margarina, para alimentar as hordas da classe operária.
É o que acontece a quem tem qualidades raramente coincidentes: uma curiosidade imensa, uma cultura imensa, uma capacidade imensa de observar, uma longa experiência de vida e muito mundo. Tudo o interessa.
Geógrafo, Professor Emérito, com um percurso formidável em Planeamento do Território e em Desenvolvimento, autor prolífero, Jorge Gaspar foi discípulo e amigo do grande Orlando Ribeiro, a quem a paisagem falava sempre de construção humana sem assinatura, de gerações e gerações de gente que transformou o território com trabalho – gradual e silenciosamente. A homens como Orlando Ribeiro e Jorge Gaspar, a paisagem falou sempre de cultura.