É uma história bonita. Quinze anos depois de a Fábrica de Tapetes de Beiriz ter fechado as portas, na sequência das convulsões da Revolução de Abril, uma alemã radicada no Porto, que conhecia bem a qualidade dos tapetes de Beiriz, contratou as tecedeiras que restavam da fábrica original, arranjou um velho tear e abriu ela mesma uma nova fábrica de Tapetes de Beiriz. É que, para lá da matéria-prima (lã nacional) e da qualidade plástica dos desenhos, o que distingue os tapetes de Beiriz é a forma como são feitos: uma técnica apurada ao longo de 60 anos (entre 1919 e 1977), com fundas tradições populares, e que só as tecedeiras da fábrica original conheciam. Sem qualquer relação familiar ou pessoal com os descendentes da fundadora da primeira fábrica, Hilda Brandão Miranda, Heidi Hannemann, a nova promotora dos belíssimos tapetes de Beiriz soube, mais que respeitar, acarinhar o legado de um passado rico e inspirador. E perpetuá-lo quando ninguém acreditava já no renascimento deste saber-fazer: as tecedeiras antigas ensinaram jovens tecedeiras e assim se mantém viva uma indústria de manufatura com um forte pendor cultural. Em cada tapete de Beiriz, a cultura popular tradicional e a cultura erudita entretecem-se. Hoje, a filha de Heidi e uma das bisnetas de Hilda são amigas.