Portugal tem destas coisas: um atraso cultural estrutural e iniciativas pontuais de uma qualidade excecional. É o caso do Museu do Caramulo. No meio de uma serra do interior do país, na primeira metade do século XX, uma família investiu, a expensas próprias, no desenvolvimento da região em dois setores que à época eram de uma fragilidade aflitiva: na Saúde, num primeiro momento, e na Cultura, de seguida. Em ambos os casos criaram infraestruturas e instituições de referência a uma escala internacional.

 

A história da família Lacerda é exemplar a vários títulos. O bisavô da atual geração de Lacerdas fundou no Caramulo a maior estância de sanatórios da Península Ibérica, num tempo em que a tuberculose era um flagelo. Os filhos transformaram esse polo de excelência, entretanto obsoleto com a descoberta da cura da tuberculose, num museu de arte que trouxe para Portugal, entre muitas outras peças fora de série, o primeiro Picasso para ser fruído pelo público. Mais tarde, a esta coleção de arte juntou-se outra, ainda mais surpreendente: automóveis antigos, com exemplares únicos no mundo.

 

Os netos do pioneiro Lacerda mantêm, com uma determinação improvável, o museu a funcionar. Eis um momento brilhante na obscura história do investimento português na descentralização e na diferenciação do seu povo.