Inês, 25 anos, divide casa com um amigo, Luís, também da sua idade. Depois de receberem um aviso de despejo por parte da sua senhoria, vivem o sofrimento cada vez mais comum entre os jovens lisboetas: o pânico de procurar uma nova habitação. Na tentativa de se esquivarem de um confronto cara-a-cara com Berta, a dona do apartamento, Luís envolve-se com Miguel, iniciando involuntariamente um relacionamento sério do qual ambiciona sair, mas não consegue, devido ao medo de estar sozinho.
No outro extremo, avida romântica e social de Inês mantém-se quase inexistente, e o desânimo com o dia-a-dia é mascarado com a constante presença imaginária do seu falecido pai e visitas bissemanais ao seu avô que vive num lar de idosos, e que fantasia cenários hipotéticos/ improváveis/ impossíveis hora sim, hora não.
Inês mantém uma relação muito próxima com a figura imaginária do pai, tal como quando ele era vivo, tornando-o presente em quase todos os momentos da sua vida.
Porém, as constantes menções ao Xavier, irmão com quem Inês cortou relações no passado, parecem desconcertá-la, criando tensões entre ela e o seu pai – ou será entre ela e ela mesma?
Uma ligação inesperada entre Miguel, Berta e o avô de Inês reacende a esperança de Luís de manterem o seu apartamento. É assim que começa a missão em torno de um amor improvável, fruto de uma aula de dança de salão para seniores.
Quando tudo parece estar a entrar nos eixos, Inês vê-se obrigada a encarar um novo luto. Apesar do momento difícil, Inês sente-se pronta para terminar a ligação imaginária com o pai, abrindo espaço para novas pessoas na sua vida, e não só…
NOTA DE INTENÇÕES DA AUTORA
Inspirada em detalhes reais, Nem a Gente Janta trata-se de uma história fictícia que partiu de uma vontade de homenagear o meu pai Fernando e o meu avô Filipe. Doze anos depois da morte do meu pai, e três anos depois da morte do meu avô, vivo em harmonia com ambas as perdas, mas em constante procura de não os esquecer, seja através de fotografias e conversas familiares, ou seja através de subtis memórias que quase desapareceram e que me fazem sentir coisas esquisitas na barriga –uma mistura de saudade com admiração e uma pitada de arrepio. Escrever sobre eles e brincar com estas memórias de uma forma audiovisual, pareceu-me uma boa estratégia para os memorar.
Inês, a protagonista, é nalguns aspetos muito parecida comigo e noutros muito distante, o que é um desafio enquanto argumentista: tentar equilibrar a ficção com a realidade, sem descambar demasiado para apenas um dos lados. Um outro equilíbrio que procuro é o do humor com a tragédia, pois embora se trate de uma obra algo humorística e suave, possui pequenos momentos de dissabor e angústia.
O título remete a uma conhecida expressão portuguesa: “Nem o Pai Morre, Nem a Gente Janta”, utilizada quando se pretende designar ocasiões de expectativa em que nada parece acontecer e quando se aguarda pelo desfecho de uma determinada situação. A escolha da segunda metade desta expressão enquanto título da série deve-se à literalidade da primeira metade da frase -“Nem o Pai Morre”, e leva-nos a associá-la à vida da protagonista, que não permite que o pai morra, ainda que metaforicamente.
Nem a Gente Janta é uma série de ficção que, entre outros temas, retrata de um modo transparente a luta pela habitação a preço justo na cidade de Lisboa, tratando-se de uma questão atual de elevada relevância entre os jovens e não só. Com o decorrer da história, percebemos que Inês, a protagonista, é trabalhadora independente do sector da cultura, sendo evidente o seu esforço por encontrar trabalho regular dentro da sua área artística, o que a leva a ficar emocionalmente afetada com a possibilidade de ser despejada do apartamento onde vive. Este factor importante que caracteriza a série terá certamente um impacto nos seus espectadores que se identifiquem com a situação social das personagens.
No decurso dos episódios, assistimos ao desenvolvimento de relações entre as personagens que acabam por ter um forte impacto sociocultural, nomeadamente entre os utentes seniores e os enfermeiros do lar, bem como as personagens originalmente de fora desse ambiente e que com eles interagem. Estes vínculos levam ao desenrolar desta história cómico-dramática, em uma interação constante entre diferentes gerações que partilham espaços, medos e ambições.