O dia em que os Radiohead tocaram a “Creep” no NOS Alive
9 Jul, 2016
O segundo dia de NOS Alive foi o primeiro a esgotar e não era muito difícil perceber porquê. Mal as portas abriram, dezenas de pessoas correram até à fila da frente para guardarem o melhor lugar no concerto que só aconteceria às 22:45, Radiohead.
Mas, antes disso, muita história se haveria de escrever neste dia de Alive. O Palco NOS abriu com uns rapazes novos (ou nem tanto assim, estão juntos desde 2010), mas extremamente promissores. Os Years & Years conseguiram captar a atenção de muito público que não era deles, mas que até gostou da surpresa.
Fizeram as delícias de dezenas de adolescentes que encheram as redes sociais com comentários às músicas, aos passos de dança do vocalista e, inevitavelmente ao seu estilo: calções com corações e meias brancas puxadas para cima.
Fecharam o concerto com o single “King” depois de declararem verdadeiro amor a Lisboa e ao Alive: “este é dos sítios mais bonitos onde já estivemos; estou tão feliz!”
Noutro ponto do recinto, na Rua EDP e no palco EDP Fado Cafe, o fado voltava a dar cartas. A receita de Hélder Moutinho & Amigos chamou muito público e voltou a provar que a sala é pequena de mais para a procura que tem.
Outro dos grandes nomes do segundo dia era Foals. A banda de rock alternativo – exemplo para muitas outras que foram surgindo depois do seu crescendo de popularidade. Foals parecem gostar bastante do público português – colocam sempre Portugal nas suas tournés – e o mais bonito é que esse amor é recíproco. Nada melhor do que a mítica “Spanish Sahara” para o comprovar.
Com a ingrata tarefa de cumprirem o calendário da hora de jantar, os Foals não se deixaram desencorajar. “Vamos lá ter grandes momentos.” E quem lá esteve pode confirmar que, sim, teve grandes momentos para mais tarde recordar.
Um dos marcos do segundo dia de Alive foi, sem grande surpresa, o concerto de Tame Impala. Estavam de regresso ao Alive, depois de cá terem estado em 2013, e, desta vez, não se esqueceram da vontade. Pode ser que as saudades de Portugal – estiveram cá o ano passado em Paredes de Coura – tenham resultado, pois subiram ao palco do Alive com outra atitude, muito mais ligados ao público.
Juntando o alinhamento impecável dos australianos – que misturaram de forma muito harmoniosa canções recentes com trabalhos mais antigos – houve uma surpresa que fez, inclusivamente, palpitar o twitter. Parece que várias fãs, com a loucura do momento memorável que estavam a viver, resolveram mostrar o peito – sem vergonha nem pudor. O suficiente para que os Tame Impala não se fizessem rogados e incentivassem a iniciativa: “Podem tirar a roupa, se quiserem. Ai, Portugal, Portugal, Portugal.”
Mas vamos lá falar do que interessa, a quem esteve e a quem não pôde vir ao NOS Alive. Radiohead. O eterno fenómeno musical que faz festivais esgotarem rapidamente os bilhetes e que impele crianças, jovens e adultos a esperarem horas e horas ao sol (para cima de 7) só para garantirem um lugar na linha da frente.
Os Radiohead regressaram a Portugal e regressaram ao palco NOS (tinham cá estado em 2012) com toda a pompa e circunstância. Eram 22:45. Eles chegavam e toda a gente no recinto do festival passava a ter apenas duas opções: ou via o concerto ou não via nada. Isto porque a banda não permite que mais nenhum concerto esteja a acontecer enquanto eles estão em palco.
Um concerto de Radiohead é quase como um filme de autor: é sempre melhor para quem o faz do que para quem o vê. Por muito emocionado, extasiados até, que o público esteja, fica sempre a sensação no final de que passou pouco do palco para a frente. A música está lá, as letras também e toda a banda; mas a emoção que qualquer um tira de cada canção de Radiohead tem de ser cada um a construir.
Ainda assim, o público do NOS Alive leva para casa grandes recordações: os Radiohead fizeram 2 encores e terminaram o concerto com os 2 grandes êxitos que grande parte das vezes não tocam e que tinham deixado de fora em 2012: “Creep” e “Karma Police”.
Uma das referências do segundo dia de NOS Alive tem, e por grande mérito, de ser o Palco Clubbing e o alinhamento que DJ Kamala preparou.
Foi um fartote de música português, com muito hip-hop no menu e com picos indiscutíveis como a parceria em palco de Filipe Gonçalves, DJ Kamala e HMB.
O momento em que tocaram o êxito “Dança, Joana” foi verdadeiramente eletrizante. Não havia um pé naquele recinto do palco Clubbing que não estivesse a mexer. Ou quando, inesperadamente, convidaram Carminho e Agir a juntar-se a eles.
Um final, inesperado para alguns, previsível para outros, foi a verdadeira enchente para a pista de slows, que começou no Palco EDP Fado Cafe às 01:00.
O DJ de serviço era Nuno Markl, mas os slows tiveram de ficar para outra altura. Não porque a música não fosse boa ou não o pedisse, mas porque não havia espaço para ninguém se mexer mais do que um passo de formiga.