A segunda noite do Alive

Opinião de João Pacheco - Punch

Texto de João Pacheco da Punch

The Black Keys

É agora momento para os The Black Keys subirem ao palco, com a sua força blues-rock e riffs de meter as pessoas em sentido. Atrás deles trazem um espectáculo visual de encher o olho, com a pompa e circunstância que já se exige de uma banda que era claramente o nome grande de um segundo dia a meio gás. No set houve tempo para ir aos álbuns mais antigos, mas a concentração foi sobretudo em El Camino e o novo Turn Blue, havendo ainda tempo para preciosidades como “Tighten Up”, do mais longínquo Brother.

Abriram com a pujança de “Dead and Gone”, acompanhada na parte inicial de “Run Right Back” e “Gold Ceiling”, duas malhas que o público sabia a letra de cor e salteado (em boa verdade, pareciam saber todas). Pelo caminho despacharam “Strange Times”, “Turn Blue”, a faixa-single do novo disco e a fantástica “Tighten Up”, cujo videoclip mostra bastante a cumplicidade da dupla Auerbach-Carney . Quando explode “Lonely Boy”, nova correria desenfreada na direcção do palco, ao jeito de “Kids” em MGMT, e um coro que deu gosto ver – acompanhado, está claro, das mais variadas réplicas da dança do senhor que abana a anca no vídeo oficial.

É em apoteose que viram costas ao palco, deixando muita água na boca da plateia, numa daquelas ocasiões em que toda a gente percebe que vai ter direito a encore. Dito e feito – “Little Black Submarines” entrou com o fade-in próprio da canção e pôs novamente o público em polvorosa, que de resto pôde assistir a uma “I Got Mine” entregue em jeito de despedida e com um verdadeiro sabor a blues à séria. Um concerto que suplanta e faz esquecer a experiência no Pavilhão Atlântico (que não satisfez ninguém graças à péssima acústica), e devolve o estatuto de heróis do rock a quem de direito.

Buraka Som Sistema

A aposta ganha estava guardada para o final – Buraka Som Sistema pode ir onde quiser, a festa vai ser garantida. Não há como não dançar ao som de músicas como “Wegue Wegue” ou “Wawaba”. É vermos todas as gerações numa muito pouco treinada coreografia, onde houve tempo para gente a tirar a t-shirt, a mostrar partes do corpo que nem sempre quereriam mostrar e a gritar “Yah!” durante todo um tema. É infecciosa a forma como esta “banda do Mundo” destrói barreiras entre estilos, entre raças e entre idades. “Aqui para Você” e “Sound of Kuduro” são festejadas de uma forma especial, ainda que nesta última M.I.A. não tenha aparecido a não ser em samples (o que já era de esperar, visto não ter sido uma das artistas convidadas para o NOS Alive).

Ainda durante o espectáculo, houve uma imensidão de miúdas giras a invadir o palco, para uma festa da qual ninguém parecia querer sair (e cuja guest ficaria bastante alargada caso fosse de entrada livre). Destaque ainda para as muito bem conseguidas “(We Stay) Up All Night” e “Aqui Para Você”, em que tivemos direito a mais uma demonstração do espectáculo Blaya, a fogosa voz feminina dos BSS.

É de forma quase eufórica que nos apercebemos do fenómeno em que os Buraka Som Sistema se tornaram – Mundial, veja-se, porque é notável a quantidade de estrangeiros que fizeram questão de marcar presença no palco principal. Foi, e será, sempre um prazer ver a música a sair dos vários cantos do Globo e a juntar-se numa mescla que não se explica, não se rotula e não se descreve: dança-se e sente-se.