Rescaldo do dia 1

Opinião de João Pacheco, da Punch Magazine

Opinião de João Pacheco da Punch

 

Dia 1

O maior festival urbano em Lisboa está finalmente de volta, e com novo nome – agora o Optimus Alive é o NOS Alive. Foi já próximo das 18h que David Santos, Noiserv, subiu ao palco Heineken, munido da sua parafernália imensa e do seu carisma especial. O público fez questão de marcar presença em número bem considerável, sobretudo tendo em conta que o concerto começou ainda em horário de expediente, a uma 5ª feira. No set trouxe o seu fantástico álbum de 2013, Almost Visible Orchestra, que faz as delícias dos presentes, com o clímax óbvio nos singles “I was trying to sleep when everyone woke up” e “This is maybe the place where trains are going to sleep”. Ainda assim, e como é normal para um final de tarde de calor, foi um espectáculo morno e indicado para a sonolenta hora.

Ao mesmo tempo Ben Howard tomava conta do palco principal, com a sua varinha mágica musical, com a qual encantou a farta plateia feminina, carregadas de fieis seguidoras do Londrino. Entre os temas houve tempo para os hits de Every Kingdom, o registo de estreia do músico, com o maior destaque para “The Wolves” e “Keep Your Head Up”.

Lumineers teve a adesão esperada, sobretudo na muito falada “Ho Hey”, talvez a música mais rodada do ano de 2013. O ambiente estava bom mas ficámos curiosos para ver Pantha du Prince, o senhor bell laboratory, que normalmente se vê acompanhado de um espectáculo inolvidável de campainhas, mas que foi visto aqui em modo DJ, num set que fez do final de tarde de muita gente uma verdadeira pista de dança. Baixos fortes, melodias espaciais e um ambiente bastante agradável

The 1975

A tarde ainda nos trouxe uma boa surpresa, os 1975. Admitimos que vinhamos com as expectativas baixas, depois de termos ouvido opiniões pouco elogiosas sobre concertos anteriores da banda, mas a verdade é que estes rapazes de Manchester deram um grande concerto. Voz teenager, temas conhecidos da rádio e um instrumental muito anos oitenta foram o mote para mais de 40 minutos de música bem tocada. Na plateia, uma multidão de raparigas de liceu, aos gritos e a dançar, acompanhadas por uns quantos que foram ao engano, mas que não sairam defraudados.

Imagine Dragons

Uma das bandas mais esperadas do dia, conhecidos pelo estrondoso hit que esteve no ar durante vários meses e que ficou conhecida muito por ter feito de banda sonora dos anúncios da Vodafone, teve uma recepção de luxo. Um público sedento, que aclamou, gritou e dançou os temas praticamente todos. Destaque óbvio para a cover de Blur, “Song 2”, que só foi superada pela recta final de três músicas todas elas cantadas a plenos pulmões – “On the top of the World” deu o mote, num coro que uniu todos os segmentos e idades presentes no festival. A fechar, “Radioactive”, dos temas mais rodados do álbum dos Ingleses, que pelo meio mereceu um “Estamos a gravar o 2º disco e vamos voltar cá de certeza”. A plateia agradece e retribui com votos de presença.

Manuel Fúria & Os Naufrágos

O baile popular está bem vivo no Coreto, onde Manuel Fúria e os Naúfragos trovam cantigas à boa maneira Portuguesa, num misto de tempos medievais com os tempos mais modernos. Além das canções do mais recente registo, “Manuel Fúria Contempla os Lírios do Campo”, onde o destaque vai para  a viciante “Canção para casar Contigo”, que até teve direito a stage diving. É perante uma festa notável que nos dirigimos para o palco onde Elbow fechavam um concerto morno, sem grandes momentos de relevo e iriam dar lugar a Kelis, a miss Milkshake. Para nossa (in)felicidade, Arctic Monkeys estariam a subir ao palanque à mesma hora, no palco Principal e todos os olhares estavam virados para este nome.

Arctic Monkeys

Chegava então o grande momento da noite, os Arctic Monkeys, a banda que surgiu discreta e está feita dona e senhora do Rock com letra grande. Volvidos 8 anos, os meninos de Sheffield que lançaram “Whatever People Say I Am, That’s What I Am Not” e ainda tinham um marcado odor a teenagers,  estão mais uma vez em Portugal e feitos uns homens de barba rija, com atitude, personalidade e uma presença bastante mais confiante. Alex Turner já não é o rapaz de cabelo à surfista quando abre o concerto com “Do I Wanna Know”, a faixa que dá o mote também ao mais recente disco, AM, que arrebatou todos os tops por esse mundo fora.

A imensidão de pessoas que esgotaram o dia forte do NOS Alive fizeram questão de cantar de fio a pavio todas as cantigas, desde “Brianstorm”, de “Favourite Worst Nightmare”, até “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair” do precedente Suck It and See. Alex e companhia vestem-se de trajes mais Queens of The Stone Age e menos The Libertines (que curiosamente vão encerrar o mesmo palco, no último dia), numa comparação que não é despropositada, visto que o trabalho com Josh Homme no registo não passou despercebido. Com a força bruta necessária, mas com a delicadeza de heróis do rock, os Arctic Monkeys foram quebrando barreiras e destruindo muros entre os vários longa-duração da carreira, ordenando “Dancing Shoes” com “Crying Lightning” ou mesmo “She’s Thunderstorms” com “Fluorescent Adolescent”. Nada surge ao acaso e “505” prepara o encore  que regressa com “One For The Run” e fecha com a fabulosa “R U Mine?”. Conhecido pela timidez (cada vez menos, na verdade) e pela pouca abertura a deixar o público cantar a letra por ele, foi já na parte final da música que Alex se silenciou e deixou a conhecedora massa de gente cantar a letra em uníssono, num momento mágico e irreplicável. Well done, lads. Well done.

Kelis

Paralelamente à actuação dos Arctic Monkeys, acontecia o outro grande concerto da noite, pelas mãos, ou voz, da norte-americana Kelis. Pouca gente no público, um concerto intimista, bom. Os temas “Millionaire” e “Milkshake” a soarem bem, com arranjos diferentes, mais sentidos, com banda. Infelizmente a artista só tocou cerca de 35 minutos, o que nos deixou algo insatisfeitos e ao mesmo tempo com água na boca para mais umas temas.


Jamie XX/Bookashade

Pela noite dentro houve ainda muitos motivos para se dançar – desde Jamie XX, dos enormes The XX, até Bookashade, um famoso duo já considerado de culto em Portugal. Se por um lado com Jamie vamos ter a oportunidade de conhecer as novas tendências na música electrónica misturadas com uma dose bem grande de bom gosto e outra maior ainda de dedo de Midas no sector da produção musical, em Bookashade há a virtude e conhecimento do house moderno. Duas opções que permitiram aos noctívagos viver o primeiro dia de Alive pelo resto da noite e que abriram o apetite para os dias que se seguem.