A província de al-Anbar no Iraque tornou-se um vasto campo de batalha. A ameaça do grupo Estado Islâmico está a criar uma aliança inesperada entre tribos sunitas, forças iraquianas de segurança e milícias xiitas, para a enfrentar.

Em Outubro de 2014 o EI consolidou posições em Hit, após massacrar centenas de homens, mulheres e crianças da tribo de Albu Nimr, sua adversária. Controla ainda outras duas grandes cidades, Faluja e Ramadi, desde o início do ano. A cidade de Haditha está cercada e em torno de Tikrit os atentados sucedem-se.

No bairro de al-Alam, na parte ocidental de Tikrit, o Estado Islâmico destruiu com explosivos 16 casas de dirigentes apoiantes de Bagdade. Mais a norte, centenas de pessoas de Baiji e de Seneya fugiram para leste, para os distritos de Abbasi e Zab, a sudoeste de Kirkuk, perante o avanço do EI.

As famílias dos deslocados falam de um número crescente de combates na zona, entre combatentes do EI e o exército iraquiano, incluindo bombardeamentos das forças de segurança iraquianas. Os islamitas terão colocado os seus veículos perto das casas e detido dezenas de pessoas em Baiji para forçar os mais jovens a lutar nas suas fileiras. Destruiram ainda 20 casas de sheiks e membros do exército iraquiano na cidade.

Caças norte-americanos bombardearam posições do EI nesta zona destruindo duas pequenas unidades, um veículo e um bunker.

Mas a verdadeira ofensiva contra o EI está a ser preparada mais a sul e oeste, em torno de Amriyat al-Faluja, de Hit e de Haditha.

Esta última cidade resiste há meses aos assaltos do Estado Islâmico.

Combatente tribal sunita em agosto de 2014 na zona de Haditha (Foto: Reuters)

Milhares em treino nas bases aéreas

Na base militar de Ayn al-Asad, no distrito de Hit, estão a concentrar-se mais de 3.000 homens de tribos sunitas iraquianas afirmaram fontes do Comando de Operações de Anbar.

Muitos deste homens pertencem a tribo Albu Nimr e, de acordo com um dos líderes da tribo, preparam-se para uma operação conjunta com o exército iraquiano e as suas forças especiais.

Para eles, a guerra contra o EI é agora uma questão de honra, depois dos islamitas terem massacrado nos últimos dias mais de 500 membros da sua tribo, expulsando ainda centenas de pessoas de casa para o deserto, onde se encontram bloqueadas sem água nem comida.

Albu Nimr contra EI

O filho do líder da Albu Nimr, deputado, fala numa “política de genocídio”.

“Este grupo terrorista tem uma lista de nomes de membros dos movimentos Shawa” (‘acordar’, que combatem o Estado Islâmico) que pertencem à Albu Nimr e deu início a uma política de genocídio contra eles, através de massacres que ocorrem diariamente“, afirmou Ghazi al-Koud aos jornal árabe Asharq al-Awsat, a quatro de novembro.

Al-Koud fala de uma autêntica “vendetta” do EI contra a Albu Nimr, já que a tribo ficou famosa por liderar a luta contra o Estado Islâmico no Iraque em 2005 e 2006, na província de al-Anbar.

A tribo tem estado também a combater o Estado Islâmico no Iraque e no Levante desde que o grupo lançou uma ofensiva para anexar definitivamente al-Anbar, em janeiro de 2014.

Kaoud reconhece contudo a existência de relatórios a denunciar membros da tribo que terão vendido as suas armas ao EI, o que terá levado Bagdade a mostrar-se cautelosa no fornecimento de armas às milícias sunitas.

Forças tribais na defesa de Amiriyat al-Faluja a 5 de novembro de 2014 (Foto: Reuters)

Ofensiva terrestre em preparação

Além da Albu Nimr, outras tribos sunitas como a Jughaifi, de Haditha, estão igualmente a enviar homens para receberem treino militar e integrarem depois a campanha do exército iraquiano contra os islamitas.

São voluntários das tribos em torno de Haditha, de Anah, Rawa e al-Quim. A própria cidade de Haditha enviou 1.500 homens. Deverão receber treino nos próximos 10 a 15 dias, tanto na base aérea de al-Asad como de Habaniyah e receberão armas e munições para integrar a campanha contra o EI em al-Anbar.

O reforço de 3.000 combatentes inclui dois regimentos do exército iraquiano e das Unidade de Mobilização Popular (UMP), voluntários xiitas, que irão lutar lado a lado com os voluntários sunitas. Uma tendência que poderá ser reforçada igualmente em Mossul e tornar-se o embrião de uma verdadeira cooperação e construção da identidade nacional iraquiana, longe de facciosismos.

Tropas de elite iraquianas foram igualmente enviadas para al-Anbar e colocadas nas zonas desérticas perto de Kubaisqa, para tentar desmantelar as linhas de suprimento do Estado Islâmico para leste, em Hit e em torno de Tikrit.

Responsáveis de Haditha revelaram que está a ser estabelecida uma ponte aérea entre a cidade e a base de al-Asad para abastecer os habitantes cercados pelo EI.

O grupo islâmico lançou há três dias um ataque em três frentes em Haditha, com oito veículos com lançadores de morteiros, morteiros e metralhadoras pesadas. O ataque foi rechaçado pelas forças de segurança iraquianas e por homens da tribo Jughaifi.

General Lloyd Jackson, Comandante do Centro de Comando da luta contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque (Foto: Lucas Jackson/Reuters)

Bombardeamentos aéreos ajudam

O general Lloyd Austin, comandante do Centro de Combate dos EUA contra o EI na Síria e no Iraque, afirmou entretanto que os bombardeamentos da Coligação estão a corroer as capacidades do grupo islamita.

Austin alertou os militantes para o facto de as suas comunicações estarem a ser escutadas pelos militares dos EUA. “O que queremos é retirar ao inimigo a sua capacidade de comandar e controlar” afirmou Austin.

Um bombardeamento aliado em Faluja destruiu dois bulldozers. Outros, perto de Ramadi, a sul de Faluja e a noroeste de Haditha, destruíram ou danificaram veículos do Estado Islâmico nas últimas horas de sexta-feira, sete de novembro, afirmou o Pentágono.

 

Por Graça Andrade Ramos