Outros 11 prisioneiros, na sua maioria jornalistas, terão sido libertados após o pagamento das somas exigidas pelo Estado Islâmico.
A reivindicação do resgate pelos dois japoneses coincide com a visita à Cisjordânia do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmmoud Abbas, ofereceu o seu apoio a Abe.
“Recebemos a notícia de que dois cidadãos japoneses foram raptados por um grupo terrorista extremista. Afirmamos de novo que condenamos estes atos deploráveis porque contradizem todas as morais humanas. Oferecemos o nosso apoio total, sincero, nesta crise tão triste e estamos consigo para os trazer de regresso às suas famílias sãos e salvos”, afirmou Abbas.
Junto ao Presidente da Autoridade Palestiniana, Abe colocou uma coroa de flores no túmulo do líder palestiniano Yasser Arafat, tendo cancelado parte da sua agenda para se concentrar na ameaça que pesa sobre os seus compatriotas, revelou fonte da sua comitiva.
O primeiro-ministro japonês já afirmou dar toda a prioridade para salvar estes dois elementos capturados mas afirmou que a ameaça era “inaceitável”.
“Extremismo e Islão são coisas completamente diferentes” afirmou em Jerusalém.
200 milhões de dólares
“Exigimos com veemência a libertação dos cidadãos japoneses ilesos”, acrescentou. “A comunidade internacional precisa de responder firmemente e cooperar sem ceder ao terrorismo”, apelou ainda Abe.
Kenji Goto é um jornalista freelance que foi reportar a guerra síria em 2014 e que teria ajudado o compatriota a viajar para a região. Ignora-se o que Haruna Yukawa foi fazer ao Iraque e à Síria. Algumas versões apontam-no como um miliciano privado, com cerca de 40 anos, que teria ido treinar com militantes na Síria. Outros relatos referem-no como alguém à procura de si próprio, falido, viúvo e sem-abrigo.
O Estado Islâmico publicou online esta terça-feira um vídeo de 56 segundos onde mostra alegadamente os dois japoneses que detem, ameaçando mata-los se não receber 200 milhões de dólares.
Os autores da mensagem dizem que o governo japonês doou 200 milhões de dólares para combater o terrorismo islâmico e por isso o valor agora pedido é exatamente o mesmo dinheiro.
Uma figura de negro de pé entre dois homens ajoelhados, vestidos de laranja, deu ao público japonês 72 horas para pressionar o seu Governo a parar este apoio “idiota” à coligação liderada pelos EUA que enfrenta militarmente o Estado Islâmico.
“Ao primeiro ministro do Japão: apesar de estar a mais de 8,500 quilómetros do Estado islâmico, voluntariou-se para tomar parte nesta cruzada”, afirmou o militante, em inglês com sotaque britânico.
O vídeo não está datado mas, a 17 de janeiro no Cairo, o primeiro-ministro Shinzo Abe prometeu cerca de 200 milhões de dólares em assistência não-militar aos países que combatem o Estado Islâmico.
Prioridade ao “salvamento de vidas”
Abe repetiu hoje que a ajuda prometida tem fins humanitários. “Iremos coordenar com a comunidade internacional a partir de agora e contribuir mais para a prosperidade e a paz na região”, afirmou. “Esta política é firme e não será alterada”, garantiu Abe.
À pergunta se ia pagar o resgate pedido, Abe respondeu que “damos a prioridade máxima ao salvamento de vidas e à recolha de informações com o auxílio de outros países”, os quais não mencionou.
O militante de negro exigiu “200 milhões” pela libertação dos dois prisioneiros, sem especificar a moeda, mas as legendas do vídeo referiam dólares.
A autenticidade do vídeo está a ser verificada em Tóquio e um responsável da Defesa afirmou que parecia uma ‘composição’
Um jornalista e um “sem-abrigo”
O vídeo é semelhante a outros publicados pelo Estado Islâmico, nos quais os detidos são ameaçados ou executados, mas é aparentemente o primeiro no qual a organização terrorista pede um resgate.
Os dois reféns foram também identificados, como Haruna Yukawa e Kenji Goto.
Goto, um jornalista com trabalhos publicados no Japão sobre zonas de conflito como Afeganistão, nomeadamente sobre o drama das crianças com SIDA nessas regiões, terá conhecido Yukawa, de 43 anos, o ano passado, ajudando-o a viajar para a Síria.
Não se percebe o objetivo de Yukuwa na viagem ao Iraque e à Síria. Ele terá dito a família e aos amigos que era a sua última oportunidade de “dar a volta à vida”.
Nos últimos 10 anos, a empresa de segurança militar, da qual Yukuwa era o único empregado, faliu, a sua mulher morreu de cancro e ele tornou-se sem-abrigo, de acordo com o Pai e um jornal japonês online.
Por Graça Andrade Ramos