Em agosto, à medida que o grupo radical avança sobre as montanhas do Sinjar, no Iraque, espalha-se a palavra de que os militantes do EI obrigam as famílias a escolher entre a morte e a conversão ao Islão.
Para as mulheres e crianças o destino pode ser ainda pior que a morte. Se capturadas podem tornar-se escravas dos combatentes do EI. Algo que, para estes, é normal.
A região iraquiana de Sinjar é habitada maioritariamente por Yazidis, uma comunidade praticante de uma religião que os militantes islâmicos consideram pecaminosa.
A última edição da revista Dabiq, uma publicação do Estado Islâmico, inclui um artigo onde o grupo argumenta a favor da prática da escravidão. Apresenta também uma explicação de como as mulheres Yazidi de Sinjar foram distribuídas pelos militares do EI.
“As mulheres e as crianças Yazidi foram divididas de acordo com a sharia [a legislação islâmica] entre os militares do Estado Islâmico que participaram na operação em Sinjar… para serem distribuidas como khums“, o tributo do final das batalhas. “As famílias Yazidi escravizadas são então vendidas pelos soldados do Estado Islâmico”, lê-se na publicação.
Como justificação para a escravidão, o artigo refere que “escravizar as famílias dos infiéis e levar as mulheres como amantes é um aspeto firmemente descrito na sharia“. A publicação destaca ainda que “se alguém negar isso, estará a negar e a ridicularizar as frases do Corão”.
Tanto no Iraque como na Síria as mulheres são vendidas em mercados de escravos, obrigadas a casar e forçadas a ficar em casa dos homens do Estado Islâmico.
Quando os jihadistas do EI se aproximaram das regiões Yazidi perto de Rabia, no Iraque, Suleiman Hasan começou a preocupar-se com as mulheres da sua comunidade, especialmente com as filhas.
O agricultor, de 41 anos, inquieto com a violência com que o Estado Islâmico investe contra os seus inimigos, montou um plano para proteger as mulheres. Escavou um buraco fundo no chão e deu instruções às filhas para se esconderem dentro dele quando chegasse o EI.
Assim sucedeu. As filhas de Hasan conseguiram esconder-se. Já os membros da comunidade confrontados pelos militares do Estado Islâmico, foram obrigados a gritar o Shahadah, o primeiro pilar do Islão.
“Foi assustador”, disse Hasan, citado pela página online Mashable. “Toda a gente chorava porque achavam que estávamos a abandonar a nossa religião. Foi uma coisa muito dolorosa”, concluiu.
Os homens do EI voltaram várias vezes para dar instrução islâmica aos Yazidis. As filhas do agricultor, num estado nervoso e de grande ansiedade pelo receio constante de serem descobertas, pensaram em suicídio. Quando o pai descobriu a intenção delas, decidiu abandonar a região e mudar-se, com a família, para Dohuk, onde estão atualmente como refugiados.
A Organização das Nações Unidas definiu o número de cativos, atualmente, em cerca de 2.500 pessoas, mas outras estimativas acreditam que sejam mais de 7.000 os prisioneiros/escravos do Estado Islâmico.
Apesar dos esforços dos Estados Unidos da América, juntamente com os seus aliados, em bombardear pontos onde o grupo radical se encontra, o EI tem-se entrincheirado em cidades-chave onde consegue praticar a escravidão.
A Human Rights Watch, um organismo internacional que defende e realiza pesquisas sobre os direitos humanos, lançou um relatório onde afirma que o rapto e o abuso de cidadãos Yazidi constituem crimes contra a humanidade.
Contudo, assume que a resolução dos conflitos, proteção dos Yazidis e controlo da violência do Estado Islâmico é um cenário distante.
“Neste momento, o Iraque tem as mãos cheias e não tem capacidade para investigar todos os abusos”, afirmou Letta Tayler, investigadora da organização. “O país está em guerra, há um novo primeiro-ministro, agora existe intervenção internacional. Parece-me que não é realista esperar que o Iraque consiga resolver estes crimes por si só”, acrescentou Letta.
Com uma réstia de esperança de Liberdade, a qualquer momento, continuam milhares de mulheres e de crianças sob domínio do Estado Islâmico.
Por: João Ferreira Pelarigo